Cantinho dos Miúdos |
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Histórias para Miúdos e Graúdos
As histórias que aqui publicamos são-nos enviadas pelos nossos visitantes. Procuraremos publicar o maior número de histórias possível. Para isso contamos com o apoio de todos. As histórias poderão ser enviadas para o nosso mail: notapositiva@sapo.pt. A história abaixo foi enviada pelo Clube de Contadores de Histórias da Escola Secundária com 3º ciclo Daniel Faria, de Baltar. O Clube cria estas histórias, por acreditar que as pequenas histórias, sobretudo se lidas em família, poderão contribuir para reforçar os laços entre os seus membros e criar momentos agradáveis de partilha.
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Um Tostão para o Santo António
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Um tostão para o Santo António
Andava um garoto a pedir um tostãozinho para o Santo António. Uns davam, outros não. Até que passou por ele um senhor de sobretudo comprido, até aos pés, e de sandálias, vejam bem. E se estava frio! O garoto, cá de baixo, reparou no desconcerto, não deu importância. E vá de pedir: — Dê-me um tostãozinho para o Santo António... O senhor do sobretudo castanho todo esfarrapado debruçou-se para o miúdo e, sorrindo, disse-lhe assim: — Tanto andas tu a pedir como eu. Hoje ainda não me deram nada. — A mim já — respondeu o garoto. — Quer ver? E mostrou-lhe, na palma da mão, umas tantas moedas. O mendigo contou-as. — Davam e sobravam para pagar uma sopa e um pão, ali, na taberna da esquina — observou o mendigo. — Mas eu não tenho fome — preveniu o garoto. — A minha mãe deu-me de almoçar, ainda agora. O senhor mendigo suspirou e disse: — Pois a minha mãe já morreu. Deve ser por isso que ainda não comi nada, hoje... O mocinho olhou para o homem, a certificar-se se seria verdade o que ele dizia. Os olhos tristes do mendigo garantiram-lhe que sim. Foi a vez de o garoto suspirar: — Este dinheiro era para eu comprar berlindes... O homem de sandálias admirou-se: — Mas tu, há bocadinho, não pedias para o Santo António? O garoto riu-se: — É um costume. Quero eu lá saber do Santo António! É tudo para os berlindes. O mendigo não estranhou a revelação. Percebia-se, a conversa ia ficar por ali. Despediu-se: — Ainda tenho hoje muito que andar. Adeus e boa colheita. O rapazinho viu-o descer a ruela, num passo cansado. Então, num impulso, correu atrás dele e puxou pela ponta da corda, que o homem trazia à roda da cintura: — Tome lá para um pão e para uma sopa. Mas não vá ali àquela casa da esquina, que são uns mal-encarados. Na outra rua abaixo, há mais onde comer. O homem de sandálias e sobretudo roto, que lhe davam um ar de frade de antigamente, agradeceu as moedas e o conselho e seguiu caminho. O garoto voltou ao seu poiso. E quando, pouco depois, porque estava frio, meteu as mãos nos bolsos, encontrou-os atulhados de berlindes...
António Torrado O mercador de coisa nenhuma Porto, Livraria Civilização Editora, 1994
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