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Trabalhos de História - 10º Ano

 

A Criança no Antigo Regime

Autores: Rita Clemente

Escola: [Escola não identificada]

Data de Publicação: 14/03/2009

Resumo do Trabalho: Trabalho sobre A Criança no Antigo Regime, realizado no âmbito da disciplina de História (10º ano).

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A Criança no Antigo Regime

Introdução

No âmbito da disciplina de História A, iremos realizar este trabalho acerca do tema “A criança no Antigo Regime”.

Embora existisse a opção entre este tema e “O modelo demográfico do Antigo Regime”, a nossa decisão baseou-se no facto da condição da criança no Antigo Regime ter sido um tema vagamente abordado na aula. Deste modo, achamos interessante saber mais acerca do assunto, visto que, sobre a demografia desta época, já tínhamos conhecimentos, um pouco mais aprofundados.

Outro factor que influenciou a nossa decisão foi a questão de que nenhum dos elementos do grupo apreciar trabalhar com gráficos.

Como meios de pesquisa pretendemos utilizar a Internet e livros, recorrendo a biblioteca escolar e à Biblioteca Municipal .

A individualização da criança

A criança vinha ao mundo num local privado, no quarto onde viviam os seus pais, mas no meio de uma assistência de parentes e de vizinhas que fazia do seu nascimento um acto público. Os seus primeiros passos eram dados simbolicamente no local em que repousavam os seus antepassados, no cemitério, ou então na igreja, durante a missa, no momento da elevação. Era portanto um ritual público que marcava, também aí, o começo de uma relativa autonomia da criança. Dados estes primeiros passos os pais ficavam descansados, e provava-se aos olhos de todos a continuidade da linhagem.

O baptismo, que era ao mesmo tempo sacramento para apagar o pecado original e rito de sociabilização da criança, era também a ocasião de assegurar, através de processos mágicos, a qualidade dos sentidos da criança. Depois da cerimónia, e na ausência do padre, o «rolar» do corpo da criança no altar destinava-se a fortalecer o corpo e a evitar-lhe mais tarde problemas como o raquitismo. Para que não fosse «baboso», isto é, gago ou mudo, o padrinho e a madrinha deviam beijar-se debaixo do sino, ao sair da igreja. Também os mais jovens representavam o seu papel no ritual. Em Massiac, no Auvergne, no início do século passado, os garotos que seguiam o cortejo faziam um barulho insuportável com matracas e martelos logo que a criança recebia os sacramentos. Com isto, estava garantido que o rapaz teria mais tarde boa voz e bom ouvido e que a rapariga falaria e cantaria bem.

A primeira infância era o tempo das aprendizagens. Aprendizagem do espaço da casa, da aldeia, do terreiro. Aprendizagem do jogo, da relação com as outras crianças, ou da mesma idade ou mais velhas, que sabiam mais e eram mais ousadas. Aprendizagem das técnicas do corpo, aprendizagem das regras da comunidade, aprendizagem das coisas da vida. O Pai e a Mãe tinham um lugar muito importante nesta primeira educação. Se, a partir dos sete ou oito anos, os rapazes seguiam o pai nos campos, antes de serem «colocados» em casa de um vizinho ou de um parente, as raparigas permaneciam geralmente com a mãe, junto de quem aprendiam a cumprir o seu futuro papel de mulheres.

As aprendizagens de infância e da adolescência deviam simultaneamente fortalecer o corpo, aguçar os sentidos, tornar o indivíduo apto a triunfar e, sobretudo, a ser capaz de, por sua vez, transmitir a vida e educação em comum. Havia certas intimidades nalguns assuntos e contextos é claro mas, dia após dia, o sentimento de ser/pertencer a uma família era cada vez maior e mais presente.

A partir dos finais do século XIV aparecem, nos meios abastados das cidades, indícios de uma nova relação com a criança: são menores as marcas de afectividade para com ela do que a vontade, cada vez mais afirmada, de preservar a sua vida. Dois séculos mais tarde, o exemplo de Scevole de Saint-Marthe, mostra-nos francamente bem a atitude das novas elites sociais do Renascimento. Esta vontade de salvar a criança aumenta continuamente no decorrer do século XVII, e Madame de Sévigné testemunha esta recusa do pior quando a sua neta está doente, ao exclamar: «Não quero que isto morra!».

Poupar uma criança à doença e à morte prematura e recusar a desgraça tentando curá-la, é o objectivo dos pais angustiados. Anteriormente, os pais também não aceitavam o desaparecimento de um ente querido mas a consciência da vida, do ciclo vital, era diversa, e os pais não tinham outro recurso senão conceber outra criança porque a vida era dura e porque era necessário perpetuar a linhagem. Agora, a recusa da doença da criança não constitui senão um aspecto, na nossa opinião essencial, do novo imaginário da vida e do tempo.

Prolongar a sua própria vida, abreviar os sofrimentos graças aos cuidados do médico não constitui um esforço novo mas a vontade de se cuidar e curar manifesta-se com uma tal força a partir do século XVI que mostra evidentemente que o homem tem agora um outro olhar sobre si próprio. Ainda nos finais do século XVII, o corpo médico, mal preparado para as suas funções, revela-se completamente incapaz de responder à procura de cuidados que surge de toda a parte, como vamos analisar no ponto a seguir…

A criança, o Futuro

Não é fácil conciliar as exigências da linhagem, a necessidade da sua perpetuação e o desejo crescente do indivíduo de viver plenamente a sua vida. Conservar a sua linhagem, fazendo a ligação entre o passado e o futuro, até então nunca tinham preocupado o Homem que somente se interessava consigo próprio. A fim de resolver da melhor forma a contradição que se sentia entre a aspiração de viver e a vontade de se perpetuar, os comportamentos familiares começam a modificar-se.

E assim, ao passo que o espírito de linhagem enfraquece os poderes do indivíduo aumentam. A esta nova forma de relacionamento entre o indivíduo e o grupo corresponde uma nova imagem do corpo. Enquanto que antigamente os laços de parentesco eram extremamente vividos e respeitados, futuramente eles distendem-se, o corpo ganha autonomia, individualiza-se.

O corpo passa então a ser protegido contra a doença e o sofrimento mas isso, como é lógico, não o deixa de tornar perecível e portanto aparece uma vontade cada vez maior de cuidar do corpo do seu filho, semente do seu corpo. Este modelo permite compreender melhor porque é que a criança ocupa daqui em diante um lugar tão importante nas preocupações do pai e da mãe.

Um novo sentimento da infância

Esta mudança de atitude para com a criança levou ao recolhimento familiar e, por isso, à instalação de um espaço doméstico mais íntimo.

A preocupação com a criança era tanta, a necessidade de a proteger de tudo desde cedo era tão grande que, ao chegar ao mundo era, inevitavelmente, logo envolvida em faixas. Mas estas tinham efeitos catastróficos: as crianças, privadas de toda a liberdade corporal, viviam tempos de grande constrangimento com consequências para o seu desenvolvimento e para a sua saúde. Muitas foram as que ficaram com deformações voluntárias do crânio provocadas por toucas e lenços apertados que usaram durante a primeira infância.

Outra das “técnicas” utilizadas para a protecção dos recém nascidos era a amamentação por parte de uma ama estranha à família. No entanto, esta separação temporária do “verdadeiro” leite materno terminou muitas vezes com a morte da criança. Assim, no tempo em que certos pais põem os filhos na ama, outros encontram mesmo assim na sua companhia «divertimento e alegria».

Afectividade e educação

As novas relações que os «novos pais» estabelecem com os filhos influenciam bastante os comportamentos destes. Os textos dos séculos XVI e XVII falam de uma «nova criança», mais esperta, mais amadurecida, que se faz notar e causa admiração. Assim, nos começos de século XVII, Louise Bourgeois, parteira da rainha Maria de Médicis, nota nas Instruções à sua filha que «as crianças de agora são muito finas». É então que os moralistas se põem a denunciar a benevolência dos pais e das mães para com os filhos.

A privação da educação não é condenada o que se receia é que tenha consequências prejudiciais para a criança. Os «mimos» são causa de muitas fraquezas e as mães passam a ser alvo de muitas críticas. Por exemplo, aquelas que, acabando de dar à luz, têm um desejo tão grande de estar e de abraçar os seus filhos que acabam por os sufocar.

É para lutar contra tais «excessos» que toda uma corrente pretende impor, no decorrer do século XVII, regras de comportamentos conformes coma decência. E talvez se deva ver nesta atitude repressiva em relação a uma educação privada, onde um largo espaço é dado à afectividade, uma das razões para que as rédeas do sistema educativo fossem reajustadas pela Igreja e pelo Estado.

As novas estruturas educativas, as dos colégios em particular, rapidamente ganharam a adesão dos pais. Com efeito, estes convencem-se de que o filho está sempre sob a ameaça de instintos primários que é preciso dominar, e que convém «submeter os seus desejos à conduta da Razão», pôr os filhos na escola é, assim, tirá-los à natureza. Mas a causa essencial desta adesão não está aí.

A nova educação deve o seu sucesso ao facto de moldar espíritos, respondendo às exigências de um individualismo que cresce sem cessar. Entre a «privatização» da criança no quadro da família nuclear e a educação pública que lhe é dada não há condição. Uma consciência da vida que já não implica o respeito pelas antigas solidariedades e pretende valorizar o indivíduo, obriga a que se voltem para terceiros, preceptores e directores de estudo, que têm por missão abrir a criança aos conhecimentos que não poderia receber dos seus pais. Estes compreendem, com efeito, que se arriscariam a frustrar a criança, isolando-a no espaço privado, já que são incapazes de lhe dar uma formação alternativa à que recebia antes da comunidade.

Assim se efectua uma dupla passagem: da família-fonte à família-nuclear, de uma educação pública comunitária e aberta, destinada a integrar a criança na colectividade para que fizesse seus os interesses e os sistemas de representação da linhagem, a uma educação pública de tipo escolar, destinada também ela a integrar a criança, facilitando o desenvolvimento das suas capacidades.

Modelos públicos para uso privado

A modificação do estatuto da criança não resulta apenas das transformações sofridas pelas estruturas familiares nos séculos clássicos. A Igreja e o Estado representam indiscutivelmente um papel nesta mudança. Assim, a afirmação do sentimento da infância, por volta de 1550, foi acompanhado de toda uma série de disposições legais que respondiam ao mesmo tempo às preocupações de moral religiosa e às preocupações de ordem pública. Esta legislação, pouco aplicada de imediato, testemunha também o primeiro balbuciar de uma política de protecção da primeira infância, premissa de uma intervenção mais alargada do Estado nas questões demográficas.

Mas foi certamente pela difusão de modelos ideológicos que o papel da Igreja e do Estado foi mais importante. Estes modelos de crianças são modelos fora do comum: não deixaram por isso de contribuir para a «privatização» da imagem da criança. Modelos inacessíveis vieram fortalecer a emergência da criança como indivíduo na sociedade ocidental.

Dois modelos foram difundidos pela Igreja, que soube utilizar o suporte textual e iconográfico oferecido pela imprensa: o da criança mística e o da criança-Cristo. Exaltando as virtudes daqueles cuja a fé é suficientemente forte para suportarem os piores tormentos do corpo, que podem conduzi-los à morte prematura, a corrente mística contribuiu para valorizar o indivíduo. Engendrou o modelo de santidade infantil: a imagem do homem-santo excepcional é também a da criança-santa excepcional, tal como Pedro de Luxemburgo ou Catarina de Siena.

Desde a mais tenra idade estas crianças não tiveram outra ambição senão a de se entregar a Deus, e este amor de Deus levara-as a separar-se das coisas deste mundo, a descuidar os deveres mais elementares que requer um corpo ainda frágil, os cuidados de higiene e de alimentação. A exaltação da infância mística é uma atitude que se opõe em tudo à concepção «naturalista» do corpo solidário. Este não tolerava a ruptura do ciclo vital, o corpo místico, pelo contrário, implica o celibato, postula a ausência de uma descendência ou antes, aspira a uma posteridade de um nível superior, espiritual.

À criança régia não se pede que preste provas: logo à partida é uma criança pública. O seu nascimento é público, e durante a sua primeira infância não há para ele vida privada, é constantemente vigiado, o mínimo dos seus gestos é observado e mesmo anotado, como prova o texto deixado por Héroad, o médico do jovem Luís XIII, onde a criança vivia sob o olhar atento da corte. Mas, futuro pai dos seus súbditos, não tem contacto com eles.

Na segunda metade do século XVII, e mais ainda no século XVIII, os nascimentos dos príncipes ocupam um lugar essencial na amoedação, tornada privilégio real. Nestes tempos, favoráveis às teorias populacionais, é um meio seguro imprimir nas consciências de cada um a imagem de um casal real rodeado dos seus filhos e de convidar cada família a seguir o seu magnífico exemplo.

Conclusão

Após a realização deste trabalho, ficámos com uma perspectiva completamente diferente da vida da criança no antigo regime, e sem dúvida, aprofundámos conhecimentos neste tema, porém gostaríamos de ter mais dados históricos acerca do assunto.

Visto que são contextos históricos diferentes, a sua comparação é impossível, no entanto durante a execução da pesquisa comentamos entre o grupo as diferenças verificadas entre o Antigo Regime e actualidade, como a humanidade evoluiu, pelo menos teoricamente, no campo dos direitos das crianças.

Quanto ao produto final do trabalho o grupo ficou satisfeito, visto que conseguimos cumprir os objectivos iniciais, contudo a escassez de informação quer na Internet, quer nos livros dificultou-nos bastante o trabalho, necessitando de repetidas pesquisas, muitas vezes, sem resultados.

Webgrafia/Bibliografia

- http://www.bibliotecas.cm-amadora.pt/pitira/bhtm/ultima_aula.htm

- http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/5126/1/subalternas.pdf

- Didacta, Enciclopédia Temática Ilustrada

- Circulo de Leitores, História da vida privada, 1990.

- Couto, Célia Pinto do, Rosas, Maria Antónia Monterroso, O Tempo da História, 1º Parte-11º ano, Porto Editora, Porto

 

 

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