Bernardo Claraval

Bernardo Clavaral
 

"Quem não medita não julga com severidade a si mesmo, porque não se conhece"

Quem foi São Bernardo, enquanto pessoa e enquanto religioso?

São Bernardo nasceu em 1090 com o nome de Bernardo de Fontaine.

Tinha seis irmãos e pertencia à alta nobreza da Borgonha (França).

Com nove anos é enviado para uma espécie de colégio interno da altura, onde mostra um particular interesse pela literatura.

Com vinte e dois anos decide entrar na Abadia da ordem de Cister, uma das maiores ordens monásticas da altura.

Nos primeiros tempos em Cister, Bernardo não se poupou a sacrifícios, sujeitando-se a autoflagelações e violentas mortificações que lhe provocaram a doença que o acompanhou toda a vida. Foi também neste período de penitência que Bernardo começou a receber visões e graças místicas extraordinárias.

Devido ao seu domínio da retórica, Bernardo convence rapidamente, entre amigos e conhecidos, mais trinta jovens a ingressarem na ordem, iniciando assim aquele que seria o seu legado, a evangelização dos mais jovens. Esta acção valeu-lhe o lugar na frente da fundação de um novo mosteiro em França: o Mosteiro de Claraval; consequentemente, Bernardo e nomeado abade deste mosteiro.

Bernardo impunha aos seus seguidores uma disciplina severa, baseada nas Sagradas Escrituras e nos Ensinamentos de Santo Agostinho.

Apesar do seu regime severo, Bernardo consegue sobrelotar o novo mosteiro e converter quase toda a sua família: os cinco irmãos e o pai (tornam-se monges); a irmã e a mãe (tornam-se  religiosas). Na mesma altura, torna-se necessária a construção de uma nova abadia.

É nesta época que Bernardo escreve as suas primeiras obras.

Bernardo é convocado para vários concílios do clero, assim como contribui para o reconhecimento da Ordem dos Templários, cujos estatutos ele próprio redige.

As duas ordens Beneditinas: Ordem de Cister e Ordem de Cluny, estavam desde os primórdios da sua formação, ligadas. No entanto, São Bernardo consegue a independência de Claraval em relação a Cluny.

São Bernardo fundou 72 mosteiros, espalhados por toda Europa: 35 na França, 14 na Espanha, 10 na Inglaterra e Irlanda, 6 em Flandres, 4 na Itália, 4 na Dinamarca, 2 na Suécia e 1 na Hungria, além de muitos outros que se filiaram à Ordem.

Em 1151, dois anos antes de sua morte, existem 500 abadias cistercienses. Há 700 monges ligados a Claraval.

Bernardo morre em 1153 com 63 anos.

Foi canonizado em 18 de Junho de 1174 por Alexandre III e declarado Doutor da Igreja por Pio VIII em 1830. É comemorado no dia 20 de Agosto.

Que marca(s) deixou na vida da sua época?

São Bernardo de Claraval foi um dos maiores activistas religiosos do período românico. Deixou-nos um enorme legado de obras literárias, tratados e homilias, entre outros, em que se revela um homem de severa disciplina que defende os monges beneditinos brancos (os cistercienses segundo a cor de seu hábito) contra os monges beneditinos negros (clunisienses), entre outras ideias.

São Bernardo foi responsável pela sobrelotação de vários mosteiros assim como pelo sucesso da opção de vida monástica na altura.

Marcou profundamente a sua época com as suas ideias por vezes extremamente tradicionais e antiquadas, mas também pelo seu espírito jovem de evangelização, pela sua enorme capacidade crítica e pela sua escrita inovadora, assim como o dom da retórica que o caracterizava.

Em que bases/princípios definiu a sua doutrina?

São Bernardo, como já foi referido, defendia uma disciplina e modo de vida severos e extintos de prazeres humanos. Baseava as suas ideias na leitura das Sagradas Escrituras, e em Santo Agostinho, cuja escrita era sua predilecta.

São Bernardo era apologista de uma vida solitária e pouco prazerosa ou confortável. Baseava esta sua crença nos primórdios da vida monástica: os Padres do Deserto - tratavam-se de jovens que, seguindo o desejo de dedicar inteiramente a sua vida ao Deus Cristão, optavam por uma vida de recolhimento, silêncio e meditação vivida, na maioria dos casos, no deserto, que, alegavam eles, ter as condições necessárias para o estilo de vida que pretendiam; estes jovens, acabaram por juntar-se em grupos, formando os primeiros ‘monges’, contudo com o passar dos anos, alguns deles voltaram à ‘civilização’, sem nunca desistirem do seu estilo de vida, e recolheram-se em lugares afastados dos núcleos citadinos: em campos abandonados, montanhas, etc.- era neste estilo de vida que São Bernardo baseava as suas teses; este defendia uma vida solitária, de sacrifícios e oblações tendo como único objectivo a santificação do corpo e da alma, para que no dia do Julgamento Final, pudessem apresentar-se na presença do Deus Castigador, como reconhecia a sociedade da época: um Deus severo, negro, como negras eram as abadias e as igrejas da altura.

Qual o impacto dessa doutrina na vida do seu tempo?

São Bernardo, devido ao sucesso que teve na ‘recruta’ de jovens para a vida monástica, foi reconhecido por todas as classes do seu tempo, não podendo assim, evitar o impacto social das suas teses, ideias e críticas. Assim, a sociedade da altura, de certa maneira, moveu-se segundo alguns dos padrões estabelecidos pelo Abade de Claraval: reconheciam Deus como castigador, negro, omnipotente, omnisciente e omnipresente, que via tudo e todos e julgava as acções de cada um, castigando-os pelas negativas e louvando-os pelas positivas, através de providências (por exemplo: as pessoas associavam a morte de alguém da família a algum pecado cometido por um membro dessa família; ou a falta de água à corrupção da sociedade).

Podemos assim concluir que a doutrina, os escritos e as ideias de São Bernardo exerceram um contributo inigualável para a formação da ideologia do período Românico e da sociedade da altura.

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