Síntese do capítulo Depois do desaparecimento de Baltasar, Blimunda passa 9 anos à procura do seu primeiro e único amor, acreditando que este ainda se encontra vivo. Percorreu Portugal, chegou a passar a fronteira e ao aperceber-se da língua estranha que falavam, voltou para trás. Repetiu os caminhos de norte a sul de Portugal mais do que uma vez, “quase sempre descalça”, as caras começavam a ser familiares devido às infinitas vezes que havia passado pelo mesmo lugar. Assim, ganhou o apelido de Voadora. Julgaram-na doida, mas “ouvindo-lhe as demais sensatas palavras e ações”, ficavam indecisos se aquilo que dizia era ou não falta de juízo completo Blimunda imaginara inúmeras vezes que estaria “ sentada na praça duma vila, a pedir esmola” e em vez de receber “dinheiro ou pão”, Baltazar iria estender o seu gancho e contar-lhe por onde andou perdido. Sem comer e cansada passava pela sétima por Lisboa. No Rossio passava um auto-de-fé, onde eram onze os supliciados. Blimunda foca a sua atenção para “um homem a quem falta a mão esquerda” que ardia num extremo. Ao aperceber-se que se tratava de Baltazar e reparando na “nuvem negra fechada” “no centro do seu corpo”, recolheu a sua vontade porque “à terra pertencia e a Blimunda”. Descodificação do vocabulário Alforge - saco fechado nas extremidades e aberto ao meio, formando dois compartimentos. Archotes - pedaço de esparto (planta) revestido de breu que é ateado para iluminar. Bonifrates – marioneta. Importância do tempo e do espaço O tempo e o espaço neste excerto servem para demonstrar a total inconsciência de Blimunda pelo meio envolvente. Inicialmente contava as estações, “depois perdeu-lhes o sentido”, contava as léguas que fazia por dia, porém não tardou até os números começarem a confundir-se. Havia percorrido tantos caminhos que a diferença entre Portugal e Espanha apenas era distinguida pela estranha língua do país vizinho. Para Blimunda tudo se resumia “em manhã, tarde, noite, chuva, soalheira, granizo, névoa e nevoeiro, caminho bom, caminho mau, encosta de subir, encosta de descer, planície, montanha, praia do mar, ribeira de rios, e rostos, milhares e milhares de rostos”. Provas de amor de Blimunda O amor que Blimunda sente por Baltasar, e que ela sabe que é recíproco, fez com que nunca desistisse de o procurar. Durante nove anos busca-o incansavelmente, percorre léguas e mais léguas na ilusão deste ainda se encontrar vivo. O número 9 tem um significado especial, em quase todas as crenças está associado ao culminar de um ciclo e ao início de outro superior. O nove é também um múltiplo de 3, número com uma grande importância simbólica de união e equilíbrio. O número nove, neste capítulo, surge a simbolizar insistência e determinação de Blimunda quando esta parte à procura do seu amado e encerra, simbolicamente, a ideia de procura pois, o que realmente acontece a Blimunda após os 9 anos de busca é que reencontra finalmente Baltasar, não como um encontro físico, mas místico e completo. O número 7 está também presente como uma simbologia no encontro entre as duas personagens, visto que é à sétima vez da passagem de Blimunda por Lisboa que esta encontra Baltazar. A Bíblia apresenta este número como um número que regula os ciclos da vida e da morte na Terra e pode ligar-se à ideia de felicidade, de totalidade, de ordem moral e espiritual. Simbologia da recolha da vontade de Baltazar por Blimunda A recolha da vontade simboliza a eterna união entre as duas personagens, a iniciação de uma outra vida em plenitude. A vontade de Baltazar não poderia nunca subir até às estrelas, uma vez que “ à terra pertencia e a Blimunda”. Quatro recursos estilísticos e valor expressivo decorrentes da análise textual · Enumeração: “em manhã, tarde, noite, chuva, soalheira, granizo, névoa e nevoeiro, caminho bom, caminho mau, encosta de subir, encosta de descer, planície, montanha, praia do mar, ribeira de rios, e rostos, milhares e milhares de rostos”. Auxilia no enaltecimento do total desconhecimento pelo meio envolvente por Blimunda · Adjetivação e Comparação: “A sola dos seus pés tornou-se espessa, fendida como uma cortiça”. Tem como objetivo exaltar os quilómetros que a personagem percorrera. Importância do excerto na obra O excerto constitui uma grande importância na obra, uma vez que corresponde ao encerramento da história de amor experienciada pelas duas personagens principais, Baltazar e Blimunda, como também o fim da narrativa. Assim, o excerto vem reforçar a ideia de um romance genuíno e puro partilhado pelo casal. A persistência e determinação de Blimunda aliada à recolha da vontade de Baltazar comprovam a sua união __________________________________ Outros Trabalhos Relacionados | Ainda não existem outros trabalhos relacionados | |