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Trabalhos de Agronomia

 

Efeitos das Micorrizas

Autores: Afonso Meireles

Instituição: UTAD (Univ. Trás-os-Montes e Alto Douro)

Data de Publicação: 07/03/2010

Resumo do Trabalho: Trabalho sobre os efeitos das micorrizas nativas e não nativas no crescimento e nutrição da “Pinot Noir” (Vitis vinifera L.) em dois solos com níveis distintos de fósforo.

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Efeitos das Micorrizas no crescimento e nutrição da “Pinot Noir”

Os efeitos das micorrizas nativas e não nativas no crescimento e nutrição da “Pinot Noir”( Vitis vinifera L.) em dois solos com níveis distintos de fósforo

A.Meireles a

a1Aluno nº30358, Curso de Engenharia Agronómica da UTAD, afonsoportista@msn.com

Introdução

Este trabalho tem como objectivo mostrar a influência que as micorrizas podem exercer sobre  o crescimento e nutrição na vinha, mais precisamente na casta “Pinot noir”. Esta experiência foi realizada em dois tipos de solos, Chehalis e Jory. Chehalis é um solo característico do fundo do vale Oregon e o solo de Jory é um solo característico da encosta do vale Oregon. Estudos previamente realizados na área da vinha, provaram que a casta “ Pinot Noir” necessitava das micorrizas(AMF- Fungo Micorrizico Arbustivo) para a promoção de um crescimento e desenvolvimento normal. Os estudos realizados demonstraram que a presença de AMF favorece o aumento da absorção de fósforo por parte da videira, não se sabendo qual o papel dos AMF na absorção de outros nutrientes por parte da planta.

Verificou-se neste estudo um contraste entre os dois solos, uma vez que os solos da encosta vermelha (Ultisols of Jory) localizados na zona de Oregon são caracterizados por possuírem uma alta acidez, baixa fertilidade, serem altamente intemperados e com baixa concentração de fósforo (10 mg kg-1), e por outro lado, o outro solo utilizado no estudo pertence à outra região vinhateira localizada no fundo do vale, abaixo das encostas de Oregon (Chehalis), sendo que estes solos, devido à sua localização geográfica e por seres solos aluviais tem uma maior fertilidade de que os solos da encosta vermelha.

Em ambos os solos, as videiras, têm mostrado teores de colonização por parte de AMF altos, apesar da diferença de fertilidade existente entre estes dois solos, principalmente a nível de fósforo e cálcio, sendo maior esta concentração nos solos do vale.

Confirmou-se que para determinado solo, os fungos nativos são mais eficazes do que os fungos não nativos, devido à sua adaptação aos factores edáficos da região. O objectivo principal deste estudo é compreender se o crescimento da vinha situada no solo da encosta tem uma maior dependência de AMF para a obtenção de nutrientes, nomeadamente a concentração de fósforo, comparando o crescimento da vinha no solo do vale. Aquando da obtenção dos resultados foi comparado o comportamento das plantes que possuíam as micorrizas com as plantas que não possuíam as micorrizas.

Materiais e Métodos

Para a realização deste estudo, foram colhidas amostras de ambos os solos, sendo que estas amostras foram colhidas de 0 a 30 cm de profundidade, de salientar que ambos os solos foram colhidos pela Oregon State University. Estas amostras foram secadas e esterilizadas a 150ºC durante 48horas e na amostra de solo Jory (JY) foi adicionado calcário dolomítico para que assim este apresentasse um pH semelhante ao do solo Chehalis (CH), devido a esterilização a que são sujeitos, estes solos são previamente armazenados durante 2 a 4 meses. Posteriormente foi utilizado um ramo da poda, com um ano de idade, colhida pela Woodhall Research Vineyard, sendo depois armazenada a uma humidade e temperatura de 4ºC por 3 meses para mais tarde produzir três ramos que seriam usados na experiência.

O trabalho divide-se em duas experiências:

. Experiência 1: teste de mistura de AMF nos dois solos;

. Experiência 2: teste do nativo versus não nativo G. mossae nos dois solos.

Experiência 1

Seis replicações foram incluídas em cada tratamento para um total de 24 plantas envasadas (unidades experimentais). Dentro de cada tipo de solo, metade dos vasos receberam a mistura de AMF, e a outra metade servirá de grupo de controlo em que não recebe a mistura de AMF.

Os AMF’s inoculados são:

. Scutellospora calospara;

. G. mossae;

. Glomus sp.

Todos os fungos tiveram um isolamento prévio do solo Jory da Woodhall Research Vineyard, sendo posteriormente cada espécie de fungo isolada para serem propagadas em esporos e novamente cultivadas, em recipientes com solo arenoso, muito fraco em concentrações de fósforo, e com a presença de Sorghum bicolor L. Para a promoção de um crescimento dos AMF’s foi depositado nos seus tratamentos solo inoculado contendo raízes, plantas, esporos e hifas. Depois dos tratamentos foi depositado em cada pote (vaso) um extracto microbial, correspondente à concentração microbial nos dois tipos de solos quando não estavam tratados, e concentração de AMF inoculado. Foi realizada tal operação de modo que os solos tratados ficassem com concentrações microbianas e de AMF o mais semelhante possível às concentrações que possuem no seu ambiente natural, tendo sido o extracto obtido através por um crivo de 38μm.

As plantas que posteriormente iriam ser utilizados na experiência cresceram em estufa, sendo que a temperatura foi ajustada de forma a corresponder à temperatura no exterior (14-20ºC/20-30ºC) para noite e dia respectivamente, não apresentarando stress hídrico. Também foram fertilizadas com 400ml de solução de Hoagland (Hoagland e Arnon, 1950) uma vez de duas em duas semanas sendo, a solução de Hoagland uma solução nutritiva para plantas em hidropúnia.

Experiência 2

Seis replicações foram incluídas em cada tratamento para um total de 36 unidades experimentais (plantas envasadas). Em cada tipo de solo, um terço dos vasos receberam o G.mossae inoculado, isolado do Chehalis solo, o outro terço recebeu o G.mossae incoculado tendo sido isolado do solo Jory e outro terço não recebeu os AMF sendo denominados de vasos do controlo. Cada pote de micorrizas recebeu 300 propágulos infectados do fungo G.mossae. Mais tarde o rebento principal da planta atingiu uma altura característica (cerca de 140 cm), como resposta a este facto, os rebentos laterais começaram a crescer.

Resultados

Verificou-se na experiência 1, que no solo CH, o crescimento dos rebentos de “Pinot noir” das plantas sem AMF (grupo de controlo) apresentaram um crescimento significativamente maior do que os rebentos que possuíam AMF (incluídos nos tratamentos), dado que estes resultados foram obtidos 57 dias depois da plantação. Oitenta e quatro dias após a plantação, o crescimento das plantas de controlo e das plantas de tratamento já tinham valores muito próximos acabando por mais tarde ter um crescimento muito semelhante. Por sua vez, no solo Jory, as plantas com tratamento tiveram um crescimento muito similar em relação às plantas do grupo de controlo, isto nos primeiros 57 dias, contudo, 84 dias depois da sua plantação os rebentos das plantas com tratamento apresentavam um crescimento maior em relação ao grupo de controlo, deve-se no entanto salientar que 84 dias após a plantação, o grupo de controlo no solo Jory tem tendência a parar o crescimento, e já o grupo com tratamento tem um crescimentos exponencial adquirindo valores tão altos como os valores adquiridos pelos rebentos do solo Chehalis.

Houve uma maior retenção de biomassa no solo Jory, sendo que as plantas em que  AMF estava presente reteram três vezes mais biomassa do que as plantas do grupo de controlo, por outro lado no solo Chehalis, não foram encontradas diferenças significativas entre os dois grupos( Com e sem AMF). Não se obteve qualquer diferença entre os dois grupos nos dois tipos de solos  em relação à razão rebento/raiz. A nível de comprimento radicular, o grupo de controlo, no solo Chehalis,  apresentou um crescimento muito superior em relação às plantas pertencentes ao grupo com presença de AMF, por outro lado no solo Jory as plantas com AMF apresentaram um crescimento radicular superior ao grupo de controlo. A percentagem de colonização de AMF, foi superior em todos os aspectos nas plantas que se encontravam no solo Jory.

Quanto à nutrição das plantas, verifcou-se que quase todas as concentrações de nutrientes sofreram alterações com a presença de AMF, exceptuando o zinco (Zn), o cobre (Cu) e o cálcio (Ca).  No solo Jory, estando presentes AMF, as concentrações de nutrientes diminuiram com excepção do potássio (K) e do fósforo (P)(aumentaram), já no solo Chehalis, verificou-se que para as mesmas condições, relativamente à presença de AMF, o manganês (Mn) e o azoto (N) foram os dois nutrientes que obtiveram um maior grau de crescimento da sua concentração, e por outro lado as concentrações de Ferro (Fe), e de Boro (B) diminuiram com a presença dos fungos. As concentrações de nutrientes contidas nas plantas são inversas às concentrações de nutrientes existentes nos vasos. Assim, nas plantas com a presença de AMF no solo Jory obtiveram-se altas concentrações de todos os nutrientes. Por outro lado,as plantas que se encontravam no solo Chehalis obtiveram altas concentrações de macronutrientes, já as concentrações de micronutrientes baixaram com a presença de AMF.

Quando comparadas as duas experiências, verificou-se que o crescimento final dos rebentos do Pinot noir foi aproximadamente o triplo na experiência 2 face à experiência 1, exceptuando as plantas de controlo do solo Jory. De salientar que a adição do fungo G.mossae, inoculado de cada solo, melhorou ligeiramente o crescimento dos rebentos no solo Chegalis, 51 e 62 dias após a plantação, mesmo assim as plantas com G.mossae e as plantas do grupo de controlo obtiveram valores muito semelhantes 90 dias após a plantação. Enquanto que no solo Jory, houve um aumento exponencial no que toca ao crescimento das vinhas onde se encontrava presente G.mossae, no solo Chehalis, o grupo de controlo não apresentou um crescimento significativo, sendo que não foi apresentado qualquer crescimento depois de 35 dias após a plantação.

Quanto à acumulação de matéria seca nas videiras com a presença do fungo não se notou grande variação no crescimento das videiras no solo Chehalis. No entanto, a massa dos rebentos no solo Chehalis  foi três vezes superior na experiência 2 do que na experiência 1. No solo Jory existiu um aumento pouco significativo com a presença do fungo, existindo um aumento muito superior se comparado com os resultados obtidos na experiência 1.

Pôde-se também constatar que as concentrações dos nutrientes nas plantas com inoculação de G.mossae foram afectadas, à excepção das concentrações de Fe. As concentrações de nutrientes retidas no solo Chehalis, pelos diferentes grupos são muito semelhantes, por outro lado, no solo Jory, as concentrações de nutrientes aumentaram significativamente, quando comparadas com as obtidas no grupo de controlo no mesmo solo. Os grupos que possuíam os dois tipos de G.mossae inoculados no solo Chehalis, apresentaram valores superiores ou muito semelhantes, no caso da retenção de N, aos valores retidos pelo grupo de controlo. Já no solo Jory, os grupos onde o fungo inoculado estava presente, obtiveram sempre concentrações de nutrientes superiores aquelas que eram apresentadas pelo grupo de controlo.No solo Chehalis, a captação de Cu, foi superior no grupo que possuía o G.mossae nativo do solo, já na captação de P, o grupo que possuía o fungo não nativo obteve maiores concentrações. No solo Jory, os grupos que apresentavam a inoculação do fungo não nativo, que pertencia ao solo Chehalis conseguiram obter maiores concentrações de Cu e P, e apresentar valores muito semelhantes na concentração de N em relação ao grupo que continha o fungo nativo.

Conclusão

Pode-se concluir que o solo Jory, é pobre em P,e neste caso as videiras dependem intrinsecamente da presença de AMF para captação do mesmo, ainda que também, em menor escala, existisse um aumento na captação dos outros nutrientes, esta captação pode também ocorrer devido a uma maior captação de fósforo por parte da planta.

 Outro facto, que deve ser salientado, prende-se com a não deficiência em concentrações de P, descritas nas videiras, apresentadas pelo grupo de controlo, mesmo assim, ficou provado que as videiras precisam da presença de MAF para o seu crescimento, mesmo que se encontrem em solos secos, mesmo que estes solos apresentem altos níveis de concentração de P. No solo Chehalis, devido à sua fertilidade, a presença ou ausência de AMF não afecta os níveis de concentração, uma vez que as acumulações mais altas de S, Zn, ou Cu foram induzidas pelos altos níveis de P acumulado, que beneficiaram um bom crescimento da planta.

Por fim, pode-se afirmar que os AMF nativos não são necessariamente os mais bem adaptados a um tipo de solo na promoção e retenção de nutrientes e que a capacidade de retenção de Cu pela planta varia em diferentes populações do mesmo fungo podendo fornecer assim um desenvolvimento de uma função específica para inoculação em uso prático.

 

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