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Trabalho escolar dedicado ao tema da emigração cujo título é "Sangria da Pátria", efetuado no âmbito da disciplina de Geografia (8º ano).
Portugal, na década de 60, teve uma grande vaga de emigração devido há falta de condições económicas e à prepotência do regime (ditadura). A maioria das famílias eram pobres e tinham uma vida miserável. As pessoas andavam descalças, não tinham água nem luz e em muitos casos o salário mal dava para a comida.
Devido a tanta pobreza poucos eram os portugueses que iam à escola, pois tinham de trabalhar. Os que estudavam, na maioria dos casos, atingiam o 4º ano de escolaridade, logo não tinham muitos conhecimentos.
Por outro lado, após a 2ª guerra mundial (1939-1945), muitos países europeus ficaram devastados. Contudo, os portugueses preferiam viver num país destruído pela guerra do que em Portugal onde viviam na miséria.
Durante a guerra colonial (1961-1974) muitos jovens portugueses iriam ser destacados para Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, assim o governo proibiu a saída dos jovens com mais de 16 anos. Contudo, muitos não queriam ir combater. Logo, quem não pode emigrar legalmente foi de “assalto”, atravessando clandestinamente pelas fronteiras de Espanha onde alguns passadores de contrabandistas ajudavam e organizavam fileiras clandestinas de emigração.
A França era horizonte para os emigrantes portugueses, pois tinha saído da guerra e precisava de muita mão-de-obra. Assim, as autoridades francesas regularizavam cada vez mais facilmente os emigrados sem papéis e no início do ano 1970 os portugueses registados eram mais de 700.000.
Nos primeiros anos de emigração para França os portugueses viveram os chamados “Anos de lama”, em que viviam nas bidonvilles e trabalhavam de sol a sol. Os portugueses foram bem-recebidos pelos franceses, pois eram bons trabalhadores, trabalhavam de sol a sol e contentavam-se com um salário baixo. Por outro lado, os grupos racistas de França estavam focados nos árabes e não nos portugueses.
Em 1968, Marcello Caetano (1906-1980), Presidente do Conselho de Ministros de Portugal, alterou a politica de emigração. Colocou fim ao jogo duplo de Salazar e fez prevalecer as teses modernistas em matéria económica. O governo concedeu uma amnistia, criou centros sociais de apoio em França, ampliou a rede consolar em França e a emigração clandestina deixou de ser considerada crime, exceto para casos de evasão ao serviço militar.
Em 1971 foi subscrito um novo acordo com a França, mas a expetativa de uma abertura do regime não se verificou e a promessa de eleições livres, feita em 1969, não se cumpriu. Este é o retrato social de um Portugal que não soube investir e acreditar nos seus filhos, que forçados partiram à busca de uma vida melhor. Muitos por lá ficaram e criaram raízes.
Bidonvilles (literalmente, “cidades de lixo”), eram bairros de lata. Só nos arredores de Paris foram contabilizadas 119 bidonvilles durante a década de 60. As primeiras barracas começaram a surgir em Champigny (França), construídas por emigrantes clandestinos que não tinham outra forma de ter uma habitação. A maioria dos habitantes que aí viviam eram portugueses, tornando-se no maior bairro de lata em França conhecido como a "capital dos portugueses". Muitos dos emigrantes portugueses tinham vergonha de dizer em que condições viviam em França, passando a mensagem de que tudo corria bem.
Em 1967, residiam neste bairro mais de 14.000 portugueses e durante cerca de 10 anos foi o centro de distribuição destes trabalhadores para toda a França. Estima-se que até 1972, ano em que iniciou o seu desmantelamento, tenham passado por lá cerca de 150 mil pessoas.
Américo Garcia, atualmente com 80 anos, nasceu numa aldeia do concelho de Trancoso, onde atualmente reside, conta-nos como emigrou para França.
“Na minha aldeia vivia-se com muitas dificuldades. Eu trabalhava na agricultura, mas ganhava muito pouco, mal dava para a comida.” - Refere com um ar triste. “Fui de “assalto” para França em 1965, tinha 26 anos. A pobreza era muita, eu fui com mais três homens da minha aldeia. A minha mulher ficou cá com os filhos.
Tive que pagar 10 contos aos passadores, naquela altura era uma fortuna! Foi uma viagem muito dura, passei muita fome e muito frio. Quando chegámos a França levaram-nos para Champigny, eram barracas por todo o lado! Vivi numa durante 6 anos. Não sabia falar francês, mas consegui arranjar trabalho na construção. Passei muita miséria para conseguir juntar algum dinheiro para mandar para casa e é muito triste estar longe da família. A minha mulher foi ter comigo passado um ano, nessa altura eu já tinha os papéis. Os meus filhos ficaram cá. O mais velho tinha 7 anos e ficou com os meus pais numa aldeia; o mais pequeno tinha 3 anos e ficou com os avós da parte da mãe noutra aldeia, só se viam na missa ao domingo.
Foi uma vida muito triste e muito dura! Fui muitas vezes à poubelle (lixo)! Só ao fim de 4 anos conseguimos juntar dinheiro para vir a Portugal. Os rapazes já não nos conheciam e custou-nos muito, mas se não tivéssemos ido eles tinham passado fome.
Ficámos lá durante 14 anos. Quando viemos já eram uns homens! Compramos uns terrenos na aldeia e dedicámo-nos à agricultura. Nunca vou esquecer o que passei!”