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Trabalho escolar sobre o Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, realizado no âmbito da disciplina de Português (9º ano)...
«Auto da Barca Do Inferno» é uma obra de Gil Vicente e também o título deste trabalho. Esta obra está incluída no conteúdo a leccionar na disciplina de Língua Portuguesa no 9ºAno, e como tal depois de estudarmos esta obra durante o 1.º período foi-nos proposto a realização deste trabalho para aprofundarmos ainda mais os nossos conhecimentos.
Aqui, estão presentes textos que falam da obra em geral (as suas circunstâncias, algumas curiosidades,...), o argumento da obra, um resumo de cada uma das personagens que nela participa, os processos de cómico e também a linguagem utilizada na obra.
Utilizei uma escrita simplificada para melhor compreensão.
Faço votos para que esteja do seu agrado!
O Auto da Barca do Inferno é uma complexa alegoria dramática de Gil Vicente, encomendada pela Rainha D. Leonor, viúva de D. João e representada pela primeira vez em 1517 perante o rei D. Manuel I. É a primeira parte da chamada trilogia das Barcas (sendo que a segunda e a terceira são respectivamente o Auto da Barca do Purgatório e o Auto da Barca da Glória).
Os especialistas classificam-na como moralidade, mesmo que muitas vezes se aproxime da farsa. Ela proporciona uma amostra do que era a sociedade lisboeta das décadas iniciais do século XVI, embora alguns dos assuntos que cobre sejam pertinentes na actualidade.
Diz-se "Barca do Inferno", porque quase todos os candidatos às duas barcas em cena – a do Inferno, com o seu Diabo, e a da Glória, com o Anjo – seguem na primeira. De facto, contudo, ela é muito mais o auto do julgamento das almas.
Apesar de se intitular Auto da Barca do Inferno, ela é mais o auto do julgamento das almas.
Convém frisar que, nesta obra, não há propriamente uma acção encadeada, evolutiva e dinâmica que obrigue as personagens a entrar e a sair do palco amiudadas vezes.
O argumento da obra «Auto da Barca do Inferno» é o julgamento das almas humanas na hora da morte. Como lugar deste julgamento é escolhido um profundo braço de mar (a água como símbolo da passagem da vida para a morte e da purificação) onde estão dois arrais: um conduz a Barca da Glória (o Anjo), outro a Barca do Inferno (o Diabo). Por este porto vão passar diversas almas que terão que enfrentar um tribunal, esgrimir argumentos de defesa constituindo-se como advogados em causa própria, e enfrentar os argumentos do Anjo e o Diabo que surgem como advogados de acusação.
Através da brilhante metáfora do tribunal, Gil Vicente põe a nu os vícios das diversas ordens sociais e denuncia a «podridão» da sociedade, recorrendo ao processo já utilizado pelos poetas da Antiguidade Clássica do Ridendo castigat mores (rindo, corrigem-se os costumes).
Assim, a grande maioria das almas são condenadas ao Inferno. Joane (o parvo) fica no cais porque não é responsável pelos seus actos e o Judeu vai à toa (a reboque da barca) porque, não se identificando com a religião católica, não tenta embarcar na Barca da Glória e é recusado pelo Diabo.
Apenas os quatro cavaleiros (personagem colectiva) vão embarcar directamente na barca da Glória porque se entregam em vida aos ideais do Cristianismo (luta contra os mouros).
Ao definir este percurso para cada uma das almas, Gil Vicente tinha por certo o objectivo de fazer desta obra alegórica um auto de moralidade, através do qual o Bem fosse compensado e o Mal Castigado.
As personagens desta obra são divididas em dois grupos: as personagens alegóricas e as personagens-tipo. No primeiro grupo inserem-se o Anjo e o Diabo, que representam respectivamente o Bem e o Mal, o Céu e o Inferno. Ao longo de toda a obra estas personagens são como que os “juízes” do julgamento das almas, tendo em conta os seus pecados e a vida na terra. No segundo grupo inserem-se todas as restantes personagens do Auto. Todos mantêm as suas características terrestres, o que as individualiza visual e linguisticamente, sendo quase sempre estas características sinal de corrupção.
O Fidalgo representa a nobreza e critica, aqueles que só pensam no seu estatuto social. Este personagem depara-se com o diabo, vindo carregado com a sua cadeira de espaldar, que representa os bens materiais e o poder, o pajem, que simboliza a tirania que exercia sobre o seu povo e o manto com cauda que simboliza a sua vaidade.
No início da cena, o Fidalgo apresenta-se muito relaxado no diálogo que tem com o diabo, porém á medida que o discurso vai avançando e que vão sendo feitas as acusações por parte do diabo e posteriormente pelo Anjo, o seu humor altera-se um pouco, mostrando arrogância e irritação.
O seu percurso cénico, resume-se a falar inicialmente com o Diabo e, posteriormente com o Anjo.
Tanto o diabo como o anjo acusam-no de ter sido tirano perante o seu povo, acusa-o de vaidade e de ridicularizar os mais pobres. Perante estas acusações o Fidalgo apresenta como argumentos, o facto de ter na terra quem reze por ele, e o simples facto de ser fidalgo de solar. Este segundo, mostra como esta personagem estava convencida de que o seu estatuto social lhe iria valer para poder ir para o paraíso.
Durante o discurso com o Diabo, e perante o argumento de defesa, que tinha quem rezasse por ele em terra, Gil Vicente pretende criticar a prática errada da religião.
Perante a recusa do Anjo de embarcar o Fidalgo no seu barco este mostra-se arrependido, mas ao conversar novamente com o Diabo, ainda tenta regressar a terra apresentando como argumento o de querer ir ver a sua amante e posteriormente a sua mulher. O Diabo responde-lhe que tanto a amante como a mulher tinham chorado de alegria no seu funeral e que tinha sido enganado a vida toda. É por fim condenado ao Inferno.
O Onzeneiro, representa a burguesia e um vício social da época. Com ele Gil Vicente, pretende criticar os burgueses que naquele tempo se dedicavam aos juros de onze por cento aplicado aos empréstimos de dinheiro.
O Onzeneiro entra em cena e depara-se com o diabo que o trata como seu parente, mostrando com ironia que a personagem tinha qualquer coisa a ver com ele, que era como se fossem da mesma família. A personagem vem irritada e a reclamar que lhe estavam mesmo a entregar dinheiro quando morreu.
Uma bolsa de dinheiro é o símbolo cénico que o Onzeneiro traz consigo e que representa a sua ganância pelo dinheiro. Este é acusado pelo Anjo de ter roubado a vida toda, de ter o coração “cheio de dinheiro” e também de ter uma ligação obsessiva ao dinheiro. Por ter esta obsessão tão grande, quando o Anjo lhe recusa a passagem para o Paraíso, este pensa que é porque não tem dinheiro para pagar, querendo regressar á terra para o ir buscar e assim ter a salvação. O Onzeneiro realiza um percurso em que fala primeiro com o Diabo, depois com o Anjo e por fim é também condenado ao inferno.
O Parvo é uma quebra na rotina, e não pretende criticar ninguém, mas sim tornar a peça não tão monótona e criar um pouco o cómico.
Esta personagem, não é acusada de nada, nem transporta objectos cénicos, pois tudo o que fez foi sem consciência alguma.
A sua entrada em cena, cria logo o cómico, o qual tem vários tipos que se apresentam ao longo da cena e da peça (cómico de situação, de personagem e de linguagem).
O Parvo fala primeiro com o Diabo, que o tenta convencer a entrar na sua barca, mas ao falar com o Anjo este leva-o consigo, devido á sua simplicidade, ingenuidade e a não ter errado nas acções que fez, pois fê-las sem consciência. O Anjo, diz ao Parvo que fique por ali até aparecerem mais pessoas, o que foi feito com a intenção de este travar também diálogo com as restantes personagens.
O Sapateiro representa a baixa-burguesia, e um grupo de ofícios. Nesta personagem, está novamente presente a critica ás práticas erradas da religião.
Esta personagem entra em cena, transportando consigo o avental e as formas de sapatos que representam os anos que enganou os seus clientes. Este é acusado de roubar os clientes e de não revelar todos os seus pecados, perante a confissão; aos quais o Sapateiro responde que sempre se tinha confessado, que tinha ido á missa, que tinha dado ofertas para a igreja e até que tinha assistido ás orações pelos mortos. Mais uma vez, esta personagem está convencida que por assistir ás missas e se ter confessado estava automaticamente no Paraíso.
Em cena, o Sapateiro fala em primeiro lugar com o Diabo, depois com o Anjo e é condenado ao Inferno.
O Frade representa o Clero. Este tem uma entrada em cena muito pouco vulgar para um padre, vindo a cantar e com uma moça pela mão. Esta é um dos seus elementos cénicos, juntamente com o seu equipamento de esgrima (broquel, espada, capuz e capacete) e com o seu hábito. A moça representa o seu rompimento dos votos de castidade a que os padres são obrigados e o equipamento de esgrima representa as práticas mundanas a que o padre se dedicava.
Este frade é um pouco fora do vulgar, que é visível pela sua entrada em cena, ou seja dedicava-se a bens materiais o que é exactamente oposto á condição de um padre e por isso é acusado pelo diabo de não ter exercido correctamente a sua profissão, de ter quebrado os votos de castidade e de fazer coisas poucos próprias da sua condição social. O Frade defende-se dizendo que ir para o inferno não tinha ficado escrito no seu “contracto”, e argumentando que no seu convento ele não era o único a quebrar os votos de castidade (pretende-se aqui alargar a critica).
Esta personagem, não dialoga com o Anjo, apenas com o Parvo, pois o Anjo nem se dá ao trabalho de falar com uma personagem que supostamente deveria ir para o Paraíso, pois deveria agir de acordo com o bem. Por fim, o Frade resigna-se e vai para o Inferno.
A Alcoviteira representa os elementos do povo e baixa-burguesia que se dedicavam a encaminhar as raparigas e mulheres casadas para a prostituição. Representa esta actividade profissional.
Esta personagem apresenta-se com voz elogiosa e usa uma linguagem popular. Começa por recusar a entrada no Inferno e acusa-se a si própria dizendo tudo o que traz consigo como se fosse a coisa mais natural. É a personagem que mais bagagem traz, representando todos os pecados que fez ao longo da sua vida. Tanto o Diabo como o Anjo não a acusam, mas ela defende-se por não querer ir para o Inferno, dizendo que casava muitas mulheres, que tinha sido muito martirizara, que tinha convertido muitas raparigas, que as tinha encaminhado e até que as vendia aos padres da Sé, argumentando que servia a igreja, deveria ir para o Paraíso.
Em cena, a Alcoviteira dialoga primeiro com o Diabo, depois com o Anjo e finalmente é condenada ao Inferno.
O Judeu representa a religião e pretende salientar como os Judeus eram mal considerados pelos cristãos. Tanto o Diabo como o Anjo não o acusam directamente, pois o Diabo não o quer na sua barca, por estes serem muito mal considerados. É apenas acusado pelo Parvo de comer carne nos dias santos, que na sua religião era proibido.
O Judeu aparece em cena com um bode, que representa a sua religião. O Judeu, ao contrário das outras personagens quer ir para a barca do inferno, pois já sabe que é condenado.
Perante a recusa do Diabo, o Judeu roga-lhe pragas.
O seu percurso em cena passa pelo Diabo, que lhe recusa a passagem, tentando o Judeu entrar através do seu dinheiro, o que revela outro carácter dos Judeus – o apego ao dinheiro; pelo Anjo, em que apenas fala com o Parvo, e por fim volta ao Diabo que como o leva obrigado diz que o leva a reboque.
O Corregedor e o Procurador aparecem juntos em cena, para por um lado quebrar a monotonia e por outro para alargar a crítica a todos os que trabalham com leis. Representam, assim a classe dos magistrados, criticando o funcionamento da justiça.
O Corregedor é quem se apresenta primeiro em cena, trazendo consigo os processos que representam a corrupção. No diálogo com o Diabo, mostra-se convencido de que a sua posição social o irá salvar. Seguidamente aparece o Procurador, que vem auxiliar o Corregedor, mostrando assim a cumplicidade que existia nos membros da justiça. Os seus símbolos cénicos são os livros.
Ambos são acusados de enganarem os mais pobres, de aceitarem dádivas dos Judeus, de julgarem mal os processos e de aceitarem roubos. O principal argumento dos dois é a sua posição social, argumentando também com o facto de dizerem que agiram sempre segundo a justiça e quando o Diabo acusa o Corregedor de aceitar as dádivas dos Judeus, este desculpa-se com a sua esposa, afirmando que ele não tinha nada a ver com isso.
Ambos são condenados ao Inferno e no fim o Corregedor fala com Brízida Vaz (Alcoviteira), pois conhece-a dos problemas com a justiça.
O Enforcado representa as vítimas da justiça e aparece a seguir ao Corregedor e ao Procurador para vermos como este foi vítima da sua corrupção. Não sabemos bem, o que Gil Vicente pretende criticar com esta personagem, até porque não é acusado de nada, nem tão pouco se defende, ou melhor, defende-se por não querer ir para o inferno, baseando-se nas palavras que em Terra alguém lhe tinha dito. No seu diálogo com o Diabo, ficamos a perceber que o Enforcado é um pouco ingénuo, por ter acreditado em tudo o que lhe tinham dito, e por pensar que morrer numa forca iria para o paraíso, só porque morria a sofrer. Isto revela como a lei espiritual é contrária á lei do homem. Não sabemos porque é que é condenado á morte em Terra, talvez por ter sido criminoso? Não sabemos.
No seu percurso fala só com o Diabo e o seu símbolo cénico é a corda.
Os Quatro Cavaleiros representam aqueles que combatiam pela fé cristã. Aparecem em cena apregoando uma cantiga que lembra ás pessoas que ficaram em Terra a necessidade de passarem por aqueles barcos e como a vida é uma passagem. Nesta cantiga está contida a moralidade da peça, que é o facto de a vida ser uma transitoriedade e de termos de ser julgados ao chegar aquele cais.
Os cavaleiros nem sequer param na barca do Diabo e quando este os interpela eles simplesmente lhe perguntam se sabe com quem está a falar. Estes personagens não apresentam argumentos para ir para o Paraíso, apenas o Anjo quando os vê chegar, diz que já os esperava e que eles são que tinham sido verdadeiros mártires da fé cristã. Os seus símbolos cénicos são as cruzes de Cristo.
Sendo a obra de Gil Vicente profundamente marcada pela crítica aos comportamentos e mentalidades das diferentes classes sociais da época, é o cómico um dos meios utilizados pelo dramaturgo para atingir o seu objectivo.
É habitual agrupar os efeitos cómicos destinados a provocar o riso em três grupos: cómico de linguagem, cómico de situação e cómico de carácter.
O primeiro tem a ver com o vocabulário e com o próprio discurso e consiste na utilização de jogos de palavras, latim macarrónico, calão, pragas, diferentes registos de língua, ironia, etc. (Exemplos: «Santo sapateiro honrado!» -> ironia; «rapinastis coelhorum» ->latim macarrónico.)
O cómico de situação resulta das circunstâncias criadas pela própria situação em que a personagem se encontra. (Exemplo: O frade entra a cantar e a dançar com uma moça pela mão.)
Finalmente, o cómico de carácter é o que deriva da maneira de ser e de se apresentar da personagem. (Exemplo: O Parvo, por ser tolo, não tem consciência dos seus actos nem das suas palavras.)
A estes processos de cómico devemos juntar: gestos, olhares, entoação, vestuário, etc.
Nesta obra, as personagens de Gil Vicente falam sobretudo um português variadíssimo (vulgar, médio, elegante ou pseudo-elegante, erudito ou pseudo-erudito, com muitos arcaísmos, que eram correntes na linguagem popular).
A falta duma edição crítica das obras vicentinas, após o indispensável estudo ortográfico e fonético das mesmas, origina sempre graves dificuldades a quem pretenda apresentar o texto de qualquer das suas peças. A evolução da linguagem opera-se no século XVI com grande rapidez; o facto de se conhecerem algumas folhas volantes.
É admirável como Gil Vicente consegue fazer com que cada personagem utilize as formas linguísticas próprias de seu meio social. É a essa adesão à linguagem falada com enorme diversidade que faz do teatro vicentino, além de um monumento de arte, também um documento linguístico — um repositório de falas portuguesas do início do século XVI.
A fim de facilitar a leitura e compreensão, procedeu-se muitas vezes à actualização da linguagem.
Depois de concluído o trabalho, posso afirmar que tive gosto em fazer o trabalho e também aumentei os meus conhecimentos sobre esta grande obra de Gil Vicente que estivemos a estudar. Foi com grande interesse e curiosidade que pesquisei e elaborei o trabalho.
O Auto da Barca do Inferno é considerado um auto de moralidade pois é uma crítica à sociedade e serve para que as pessoas reflictam sobre o que fazem e também sobre as acções praticadas pelos outros. Esta obra continua a ter imenso sucesso pois as críticas feitas podem ser aplicadas hoje em dia.