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Análise do poema “No Reino do Pacheco” de Alexandre O’Neill e biografia do mesmo, realizado no âmbito da disciplina de Português (10º ano).
No âmbito da disciplina de Português foi-nos proposta a elaboração de um trabalho de grupo, que constitui instrumento de avaliação desta disciplina. O trabalho é sobre os Poetas do séc.XX, ao longo do qual iremos analisar um poema chamado “No Reino do Pacheco” de Alexandre O’Neill e também faremos uma biografia do mesmo.
Ao analisarmos o poema, abordaremos vários aspectos:
Alexandre Manuel Vahia de Castro O’Neil de Bulhões nasceu em 1924, descendente de irlandeses, o que explica o seu apelido.
Tirou o curso na escola náutica de Lisboa, mas não lhe deram carta de piloto devido à sua miopia. O’Neill diz então: “Eu andei para marinheiro mas pus óculos e fiquei em terra”.
Em 1948, foi um dos fundadores do movimento surrealista de Lisboa.
Em 1949 apaixona-se por Nora Mitrani, surrealista francesa quando esta passa por Lisboa. Eles conheceram-se, conviveram, apaixonaram-se. Depois de regressar a Paris, Nora convida-o a ir ter com ela, porém o passaporte é-lhe negado pela PIDE. Ele nunca mais a viu e depois ela suicidou-se.
Casado duas vezes e com dois filhos, acredita-se ter sido Nora o grande amor da sua vida, a quem dedicou 6 poemas.
Entre 1958 e 1972 Alexandre publica imensas obras. Contudo a sua vida não era ganha a escrever poemas, do que ele vivia era da publicidade: a inventar slogans. É dele a famosa frase: “Há mar e mar, há ir e voltar”. Mas muitas vezes a sua imaginação era incompreendida e slogans como: “Num colchão de sumaúma, você dá duas que parecem uma…” eram rejeitados.
Em 1982, é premiado pela associação de Críticos Literários.
O’Neill tinha um ar natural e irreverente, era a criança que sempre foi poeta, um poeta negando-se ao “modo funcionário de viver”. Ele tinha um programa a cumprir: dar a ver, a viver a poesia, pois era um mágico, um lírico, um príncipe das letras.
Era um “grande poeta menor” transbordante de sonhos e sedento de realidades submersas; foi em vida e é em morte incompreendido e, por vezes, votado ao esquecimento. Foi esse o preço que pagou por se ter recusado diluir numa qualquer poesia do populismo fácil. Ele ignora este tipo de poesia pobre, decadente e estéril. Ele rejeita a fórmula cor-de-rosa de ver a realidade: o lado obscuro do real existe, mas não é poeticamente estético descrevê-lo. Paga-se um preço alto por se ousar levantar poeira, e ele fazia-o.
Fez da pátria o seu tema mais constante, e do verso crítico o pincel com que pintou paisagens, gestos e costumes quotidianos.
Destrói a imagem de um proletariado heróico e restitui-lhe a sua condição de anti-herói, abrangendo a melancolia quotidiana, a vida mesquinha, a cobardia. E fá-lo em nome da sua poesia da “verdade prática”.
Morre em Lisboa, em Agosto de 1986 de doença cardíaca.
"A Ampola Miraculosa", Cadernos Surrealistas, 1948
"Tempo de Fantasmas", Cadernos de Poesia, Lisboa, 1951
"No Reino da Dinamarca", Guimarães, Lisboa, 1958
"Abandono Vigiado", Guimarães, Lisboa, 1960
"Poemas com Endereço", Morais, Lisboa, 1962
"Feira Cabisbaixa", Ulisseia, Lisboa, 1965
"Portogallo mio rimorso", Einaudi, Torino, 1966
"De Ombro na Ombreira", Dom Quixote, Lisboa, 1969
"As Andorinhas não têm Restaurante", Dom Quixote, Lisboa, 1970
"Jovens, Nova Fronteira", Futura, Lisboa, 1971
"Entre a Cortina e a Vidraça", Estúdios Cor, Lisboa, 1972
"A Saca de Orelhas", Sá da Costa, Lisboa, 1979
"As Horas já de Números Vestidas", 1981
"Dezanove Poemas", 1983
"Uma Coisa em Forma de Assim", Presença, Lisboa, 1985
De todos os poemas que analisámos, escolhemos este, pois todo o grupo entendeu o poema, o seu significado. Também nos identificámos com ele já que o assunto do poema não é só de nosso interesse, como também de toda a humanidade.
NO REINO DO PACHECO
Às duas por três nascemos,
às duas por três morremos.
E a vida? Não a vivemos.
Querer viver (deixai-nos rir!)
seria muito exigir...
Vida mental? Com certeza!
Vida por detrás da testa
será tudo o que nos resta?
Uma ideia é uma ideia
- e até parece nossa! -
mas quem viu uma andorinha
a puxar uma carroça?
Se à ideia não se der
O braço que ela pedir,
a ideia, por melhor
que ela seja ou queira ser,
não será mais que bolor,
pão abstracto ou mulher
sem amor!
Às duas por três nascemos,
às duas por três morremos.
E a vida? Não a vivemos.
Neste reino de Pacheco
- do que era todo testa,
do que já nada dizia,
e só sorria, sorria,
do que nunca disse nada
a não ser para a galeria,
que também não o ouvia,
do que, por detrás da testa,
tinha a testa luzidia,
neste reino de Pacheco,
ó meus senhores que nos resta
senão ir aos maus costumes,
às redundâncias, bem-pensâncias,
com alfinetes e lumes,
fazer rebentar a besta,
pô-las de pernas pró ar?
Por isso, aqui, acolá
tudo pode acontecer,
que as ideias saem fora
da testa de cada qual
para que a vida não seja
só mentira, só mental
Alexandre O'Neill ao longo deste poema, descreve como deveria ser a vida, em aspectos relacionados com as acções. Mas o tema principal que O’Neill retrata são as ideias inutilizadas.
O título deste poema: No Reino do Pacheco, significa a vida de um homem pensante, que deveria partir para a acção e não se ficar apenas pelos pensamentos, pelas ideias.
Com base neste poema de Alexandre O’Neill podemos retirar uma palavra-chave: a Vida. O´Neill fala sobre a vida de uma forma irónica assim como faz em todos os seus poemas, dizendo que o principal das nossas vidas é o facto de cada Ser Humano ser único e de que cada um tem as suas próprias ideias.
Alexandre O’Neil diz que a vida é curta: Um dia nascemos, a vida passa tão depressa que nem damos por ela, e um dia estamos velhos e aí pensamos o que poderíamos ter aproveitado, o que poderíamos ter vivido. Por isso, como se costuma dizer, temos de saborear o momento, aproveita-lo enquanto não é tarde.
E será que há algum problema em querer viver? Quando se fala em viver, significa viver não só nos pensamentos, viver realmente, partir para a acção.
Antes de uma acção, vem sempre uma ideia, com certeza, mas há quem se deixe ficar apenas pelas ideias, pelo que gostaria de fazer e não fazê-lo mesmo. O sujeito poético dá o seguinte exemplo:” Se à ideia não se der/O braço que ela pedir/a ideia, por melhor/ que ela seja ou queira ser não será mais do que bolor”. Aqui fala sobre o dever de concretizar uma ideia e do facto de que ideias não realizadas não servem de nada pois são apenas mais umas no meio de tantas. Se a ideia ficar por detrás da “testa”, vai ser só mental, e assim será inútil.
Em conclusão o sujeito poético diz-nos que devemos agir em conformidade com os nossos ideais e que não devemos ter as ideias para agradar aos outros mas sim a nós mesmos. Alexandre O’Neill refere ainda que parte da nossa vida são as nossas ideias e que essas mesmas devem servir não para a “galeria” mas sim para serem aplicadas. Por isso, devemos libertar os nossos pensamentos e emoções e tudo pode acontecer pois seremos mais livres, mais realizados, mais felizes.
O poema divide-se quatro partes principais.
Consideramos o primeiro terceto, a primeira parte pois serve como que uma introdução, em que o sujeito poético se questiona acerca do tempo desde que nascemos até que morremos. Por isso a palavra-chave desta introdução é a vida.
A segunda parte são a segunda e terceira estrofes onde o poeta fala sobre a pobreza da vida mental, afirma que uma vida apenas feita de pensamentos torna-se “podre”, decadente e estéril. Ter ideias e ficar-se pelas ideias torna-as inúteis, assim a expressão chave é a inutilidade das (apenas) ideias.
A quarta e quinta estrofes constituem a terceira parte. A quarta é igual à primeira estrofe do poema, pelo que achamos que esta serve para reforçar a ideia do pensamento: “que andamos aqui a fazer na vida?”.
A quinta e penúltima estrofe explica que apenas uma vida mental é uma estupidez e por isso devemos libertar os nossos pensamentos. Então a expressão-chave é libertação de ideias.
Por fim, a última estrofe, como é um género de conclusão aconselha que deixemos sair as ideias e pensamentos que há em nós e torná-los acções. Concluímos assim que a concretização das ideias é o mais importante e não devemos deixá-las presas “dentro da testa” pois assim são inúteis. A palavra-chave é acção.
As palavras sublinhadas no poema são as que achamos que tinham outros sentidos, uma simbologia.
Testa - O autor usa testa no poema de um modo equivalente a “mente”, para falar assim da vida mental, que segundo ele é inútil se se ficar apenas por aí e não se partir para a realização.
Braço - Sendo o braço um membro do corpo que está associado ao trabalho (apesar da maior parte das vezes se costumar associar mais a mão), o braço representa aqui o transporte da ideia para o físico, a realização da ideia, do mental.
Bolor, Pão abstracto, Mulher sem amor - Estas três expressões têm o mesmo significado, sendo o bolor uma coisa má, que não serve para nada, que é “podre”, o autor pretende dizer que ninguém quer o bolor pois ele é inútil. Assim como o pão abstracto, se o pão não for mais de que um símbolo, não alimenta, logo também não é útil, e como a mulher sem amor, pois uma mulher sem amor (ou mesmo qualquer outro ser humano) não tem muito valor. Ora se uma há uma coisa que ninguém quer ou uma coisa que não passa de um símbolo, essas coisas são totalmente inúteis, não tendo mesmo significado. Alexandre O’Neill utiliza assim estas três expressões para dizer que é assim que as ideias não devem acabar, simbólicas, só mentais.
Reino do Pacheco – O Reino do Pacheco representa a vida no seu geral, sendo o “Reino” a sociedade e o “Pacheco” o cidadão comum. Por isso é a vida de um homem pensante.
Galeria - Galeria é o contrário da aplicação das ideias, são apenas ideias na teoria e não na prática.
Luzidia - Aqui o autor pretende dizer que a “testa “ (mente) é brilhante (luzidia).
Besta - O autor utiliza esta palavra para descrever algo que não se encontra muito bem. É como um “grito” que demonstra o seu desagrado de uma forma agravada. Por exemplo, na sua altura poderia ser um ditador (Salazar) que fazia coisas horríveis e a suposta Besta que deveria rebentar, era ele. Assim, podemos entender esta expressão como a queda de Salazar (Besta).
Estrofes
O poema está dividido em 6 estrofes. O’Neill não tem o costume de seguir um padrão, por isso, o poema, tem dois tercetos, uma sextilha, uma sétima, uma nona e uma estrofe de 16 versos.
Métrica
A maioria dos versos têm sete sílabas métricas, encontram-se no entanto, algumas irregularidades.
Rimas
É notável a irregularidade das rimas, não há um padrão:
Ao longo deste trabalho ficámos a saber mais e descobrimos várias curiosidades sobre o poeta Alexandre O´Neill. Escolhemos este poeta por ser um poeta fora do comum, que fala sobre a verdade como também para além dela.
Depois de termos escolhido um poeta diferente, um que falasse sobre as verdades como elas são tivemos alguma dificuldade em escolher o poema, pois havia vários por onde escolher e todos eles bons. “O Reino do Pacheco” embora um pouco grande, pareceu-nos o mais adequado já que todo o grupo concordou com o poema e entendeu o seu significado. Também nos identificámos com ele já que o assunto do poema não é só de nosso interesse, como também de toda a humanidade.
No trabalho em si, não encontramos dificuldades maiores e gostámos bastante de ter ficado a conhecer melhor o estilo poético de Alexandre O´Neill.