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Tiago Branco

Escola

Escola Secundária de Tábua

Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo – Análise do Poema

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Resumo do trabalho

Análise do poema "Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo" de Sophia de Mello Breyner Andersen, realizado no âmbito da disciplina de Português (10º ano).


INTERPRETAÇÃO DO POEMA “PARA ATRAVESSAR CONTIGO O DESERTO DO MUNDO”

DE SOPHIA DE MELO BREYNER ANDERSEN

Este poema assenta toda a sua estrutura na repetição, no eco, através da acumulação de fórmulas semelhantes, quer por anástrofe, quer por repetição:

Para

atravessar contigo o deserto do mundo

enfrentarmos juntos o terror da morte

ver a verdade

perder o medo

meu

reino

segredo

silêncio

espelho

minha

rápida morte

pérola redonda e seu oriente

vida

imagem

sem

véu do dia duro

os espelhos

O Eu poético, entrega-se totalmente nas mãos de um “Tu”, aparentemente superior, reconhecendo a sua nudez humana (“Sem os espelhos vi que estava nua / E ao descampado se chamava tempo”).

Declara na 1ª estrofe o grande e único objectivo da sua vida, isto é, superar a condição dura (“atravessar (…) o deserto do mundo”), temporal, terrífica (“terror da morte”) da vida e do mundo; vencer os obstáculos do medo (“perder o medo”) e encontrar a verdade (“ver a verdade”), contando com a ajuda de um “Tu” para a realização deste obejectivo (“Ao lado dos teus passos caminhei”).

Para isto, tal como mostra a 2ª estrofe, o Eu deixa, larga tudo o que possuía – tesouros (“meu reino”, “minha pérola”), o seu “segredo”, as suas ilusões (“meu espelho”, “minha imagem”, ou seja, a vida – aquilo que constitui o seu paraíso (“abandonei os jardins do paraíso”).

Por mais diversas que sejam as palavras à volta de “meu” ou “minha”, elas mostram um único sentido da vida, o efémero, o temporal, o contingente, o artificial.

Parece nos estranho o Sujeito Lírico abandonar todo o que é seu o que o torna individual, este despir-se de si mesmo, mas a finalidade deste acto já nos foi dita na 1ª estrofe – a procura da intemporalidade, da essência, do eterno, e da verdade.

Em síntese, as duas primeiras estrofes dizem:

Ao lado de teus passos caminhei

Por ti deixei

E abandonei os jardins do paraíso

Três acções passadas, situadas num tempo intermitente e passageiro e que se encadeiam umas nas outras.

Um tempo de lamentação, como é sugerido pela repetição do ditongo “ei”, resultante do encontro com a nostalgia provocada por uma não solidão aparente (“ao lado dos teus passos”) que se vem a verificar realmente solidão, resultante do abandono da sua individualidade.

A situação abstracta (o despir-se de si mesma) sobrepõe-se à concreta (a companhia física do “Tu”).

A solidão impõe-se e o Eu enfrenta-se, o advérbio “cá”, que inicia a 3ª estrofe, cria dois espaços do poema. “Cá” é o início dum tempo, um outro em que o Eu – despido do que é finito – se enfrenta a si mesmo, à sua essência, deixando de ser cego mas sim estando “à luz” e “sem véu do dia duro / sem os espelhos” ve-se liberto – “vi que estava nua” – este é o encontro por excelência, o encontro consigo mesmo.

A última estrofe conclui o processo iniciado valorizando, através da antítese metafórica da nudez e do acto de se vestir (“estava nua” versus “me vestiste”), a aprendizagem espiritual da autêntica liberdade e da resistência à adversidade: “E aprendi a viver em pleno vento”.

O sujeito poético subtrai-se da exigência das leis rígidas do espaço e do tempo em que se encontrava enclausurado, como que numa redoma (“nos jardins do paraíso”), passando a estar no “descampado [que] se chamava tempo”, nesta mudança está implícita a total liberdade.

A mudança do tempo verbal capta a nossa atenção e, de uma situação temporal determinada pelo pretérito perfeito, passa-se a uma situação de atemporalidade (mostrada pelo pretérito imperfeito).

O dístico final do poema presentifica a consubstanciação do “Eu” com o “Tu” (“com teus gestos me vestistes”) realizada depois do algo atingido (“por isso”); da total libertação, em comunhão perfeita com o “Tu, o eu aprende “a viver em pleno vento”.

É aqui que se finda a passagem de uma vida virtual, criada pelos espelhos, para uma vida real. Esta essência tem a sua leveza sugerida pela aliteração do /v/ presentes depois da partícula “Cá”, isto é, após a libertação, após a transformação.

COMENTÁRIO

Em conclusão, o poema transmite-me a ideia de que nunca devemos viver na ilusão apesar de aparentemente isso nos parecer mais cómodo, uma vez que nessa “realidade” estamos presos num mundo virtual. Devemos sempre ver o Mundo de uma forma clara, ou seja, sermos verdadeiramente livres. Percebi ainda que as pessoas que nos amam realmente são aquelas que nos ajudam a sair do mundo de “mentira”, e não aquelas que nos ajudam a construir as ilusões.

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[Ver aqui mais Análises de Poemas do 10º ano]



244 Visualizações 28/09/2019