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Camilo escreveu a novela Amor de Perdição quando se encontrava preso por adultério na cadeia da Relação do Porto, no ano de 1861.
Esta obra conta a história de um amor impossível entre Simão e Teresa, devido à rivalidade das suas famílias e outros conflitos.
O amor tratado nesta obra é amor-paixão, isto é, o amor vivido de forma tão intensa e impetuosa que conduz à desgraça e à perdição.
A obra pode considerar-se, pelas suas características, uma novela, uma vez que:
O tema predominante de Amor de Perdição é o amor, que leva à perdição e à morte. Relativamente ao recorte das personagens na obra, podem considerar-se como personagens coletivas as famílias, pelas características que são comuns a todos os seus elementos.
Destas 3 famílias destacam-se algumas personagens individuais:
O protagonista da novela é Simão botelho que com 15 anos é fisicamente descrito pelo narrador como belo homem com as feições da sua mãe e a corpulência dela. Antes de se apaixonar pela sua vizinha Teresa de Albuquerque, Simão destaca-se pelo seu comportamento violento e arruaceiro (pela sua rebeldia, agressividade, impulsividade e determinação). Com a descoberta do amor, Simão transforma-se, aceita as regras sociais e dedica-se aos estudos com o objetivo de garantir uma carreira futura e o sustento da família com que sonhava. Assim Simão encarna a figura do herói romântico uma vez que dedica a sua vida ao amor que sente por Teresa; enfrenta autoridade dos pais e as regras sociais; revela coragem nos seus atos; mostra respeito pelos que não são da sua condição social, como Mariana e João da Cruz.
A segunda personagem principal é Teresa de Albuquerque que tinha apenas 15 anos quando se apaixonou por Simão. Tratava-se de um amor que não cedia perante as convenções sociais. Fisicamente é descrita pelo narrador como “regularmente bonita” e, por Mariana, como uma “menina muito branca, alva como leite”. Psicologicamente revela desde o início da novela um temperamento forte, com maturidade, apesar dos seus 15 anos, que a capacita para desobedecer à vontade do pai, Tadeu de Albuquerque, que a queria obrigada a aceitar, como esposo, o seu primo Baltasar Coutinho. É também caracterizada pela sua pureza, fragilidade e pela sua capacidade ilimitada de sofrer em nome do amor. Estas características correspondem ao perfil da mulher-anjo e da heroína romântica.
Mariana é uma personagem de grande relevância que funciona como adjuvante. Apoia e ajuda Simão desde que ele chega a casa de seu pai, o ferrador João da Cruz, até à sua morte. O narrador descreve-a fisicamente como uma moça de 24 anos, formas bonitas, um rosto belo e triste e uma formosa rapariga da aldeia. Psicologicamente, Mariana caracteriza-se pela sua enorme generosidade e total dedicação a Simão. Também encarna a mulher-anjo do Romantismo uma vez que nutre por Simão um amor não correspondido, um amor-dedicação que não espera a recompensa no casamento. Para além disso é muito sensível e tem sonhos intuitivos, sofrendo com aqueles que considera maus presságios para a vida de Simão. Apesar do seu amor secreto por ele, o seu caráter humilde permite que Mariana entregue correspondência de Simão a Teresa.
Domingos Botelho, pai de Simão, Tadeu de Albuquerque, pai de Teresa, Baltasar Coutinho, primo e pretendente de Teresa, e João da Cruz, pai de Mariana, embora personagens secundárias, são também personagens que se individualizam e que têm um papel importante no desenrolar da narrativa.
Como sabemos Simão matou o primo e pretendente de Teresa, Baltasar Coutinho. Como consequência foi preso na cadeia de relação do Porto e graças à ternura e solidariedade de Mariana, Simão tinha com quem contar dentro da prisão.
Logo no início do capítulo conseguimos perecer quando decorre a ação através da referência temporal: 4 de agosto de 1805, hora de almoço.
O capítulo inicia-se com um diálogo entre João da Cruz e a sua cunhada Josefa no qual João da Cruz está saudoso da sua filha e decide ir vê-la ao Porto.
O seu discurso reproduz um modo de falar das figuras populares e regionais, rico em metáforas e expressões populares como por ex.: “Isso não é de homem que põe navalha na cara, Josefa”;” Vão-se os anéis e fiquem os dedos”; ”Estou cá por dentro negro como aquela sertã!”.
Também percebemos na conversa de João da Cruz os indícios de morte, o que não deixa de ser um T.R.:
"Parece coisa do demónio, mulher!…”; “Estou cá por dentro negro como aquela sertã!”; “eu estou cá de candeias às avessas” (estar maldisposto e zangado);
“O ferrador largava o martelo; sentava-se aos poucos no tronco, e coçava a cabeça com frenesi (impaciência). Depois recomeçava novamente, e tão alheado (distraído) o fazia, que estragava o cravo (prego de ferradura) ou martelava os dedos.”
Vemos aqui o estado de inquietação de João da Cruz. Continuando:
“– Isto é coisa do Diabo! – exclamou ele; e foi à cozinha procurar a pichorra, que emborcou como qualquer elegante de paixões etéreas se aturde com absinto. – Hei-de afogar-te, coisa má, que me estás apertando a alma! – continuou o ferrador, sacudindo os braços, e batendo o pé no soalho.”
A referência ao negro, ao demónio, ao diabo e à alma trata-se de um indício trágico, pois prepara o leitor para um acontecimento trágico.
Entretanto passa um viajante que diz ter de pagar uma dívida de seu pai a João da Cruz. Este sem ter conhecimento do pai do passageiro pergunta-lhe que é seu pai. O viajante responde e dá um tiro em João da Cruz que acaba por morrer. Ironicamente João da Cruz morre no preciso local onde matara o pai do passageiro à 10 anos atrás, tendo sido, por isso, um crime de vingança.
Outra fala importante é a seguinte:
“Deus terá descontado nos instintos sanguinários do teu temperamento a nobreza de tua alma! Pensando nas incoerências da tua índole, homem que me explicas a providência, assombram-me as caprichosas antíteses que a mão de Deus infunde em alentos na criatura. Dorme o teu sono infinito, se nenhum outro tribunal te cita a responder pelas vidas que tiraste, e pelo que fizeste da tua.”
Trata-se de um comentário do narrador, que demonstra a sua opinião fazendo o elogio da “nobreza de alma” de João da Cruz. Verificamos também o uso do eufemismo.
Sabidas as notícias Josefa escreve uma carta a Mariana com o sucedido. Analisemos, então, o diálogo entre Mariana e Simão:
Estava Mariana no quarto do preso, quando a carta lhe foi entregue.
– Não conheço a letra, Mariana… E a obreia é preta…
Mariana examinou o sobrescrito, e empalideceu.
– Eu conheço a letra – disse ela – é do Joaquim da Loja. Abra, depressa, senhor Simão… Meu pai morreria? – intuição de Mariana que contribui para a sua caracterização de mulher-anjo
– Que lembrança! Pois não teve há três dias carta dele? E não disse que estava bom?
– Isso que tem?… Veja quem assina.
Simão buscou a assinatura, e disse:
– Josefa Maria! É sua tia que lhe escreve.
– Leia… leia… Que diz ela? Deixe-me ler a mim… - esta indecisão demonstra o seu nervosismo O preso lia mentalmente, e Mariana instou:
– Leia alto, por quem é, senhor Simão, que estou a tremer… e vossa senhoria descora… Que é, meu Deus? Simão deixou cair a carta, e sentou-se prostrado de ânimo. Mariana correu a levantar a carta, e ele, tomando-lhe a mão, murmurou:
– Pobre amigo!… Choremo-lo ambos… choremo-lo, Mariana, que o amávamos como filhos…- Simão considera Mariana como sua irmã* e João da Cruz como seu pai
– Pois, morreu? – bradou ela.
– Morreu… mataram-no!…
A moça expediu um grito estrídulo, e foi com o rosto contra o ferro das grades. Simão inclinou-a para o seio, e disse-lhe com muita ternura e veemência:
– Mariana, lembre-se que é o meu amparo. Lembre-se de que as últimas palavras de seu pai deviam ser recomendar-lhe o desgraçado que recebe das suas mãos benfeitoras o pão da vida. Mariana, minha querida irmã*, vença a dor que pode matá-la, e vença-a por amor de mim. Ouve-me, amiga da minha alma?
Mariana exclamou:
– Deixe-me chorar, por caridade!… Ai! meu Deus, se eu torno a endoidecer!
– Que seria de mim! – atalhou Simão – A quem deixaria Mariana o seu nobre coração para me suavizar este martírio? Quem me levaria ao desterro uma palavra amiga que me animasse a crer em Deus! Não há-de enlouquecer, Mariana, porque eu sei que me estima, que me ama e que afrontará com coragem a maior desgraça que ainda pode sugerir-me o Inferno! Chore, minha irmã, chore; mas veja-me através das suas lágrimas!
Esta última fala é de grande intensidade dramática, na qual Simão põe em destaque a necessidade que tem do apoio de Mariana. Verificamos o uso de exclamações e suspensões de frase que evidenciam uma linguagem fortemente emotiva e trágica.
Assassinato de João da Cruz pelo filho do homem que o ferrador matara 10 anos antes, como vingança pelo crime do qual o corregedor Domingos Botelho o salvara da forca. Carta a Mariana informando-a da morte do pai e reações de desgosto desta e de Simão.