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Trabalho de análise do poema "Comunhão" da autoria de Miguel Torga, no âmbito do contrato com a leitura. Inclui uma biografia de Miguel Torga.
Comunhão
Tal como o camponês, que canta a semear
A terra,
Ou como tu, pastor, que cantas a bordar
A serra
De brancura,
Assim eu canto, sem me ouvir cantar,
Livre e à minha altura.
Semear trigo e apascentar ovelhas
É oficiar à vida
Numa missa campal.
Mas como sobra desse ritual
Uma leve e gratuita melodia,
Junto o meu canto de homem natural
Ao grande coro dessa poesia.
de Miguel Torga
Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia Rocha foi um dos mais importantes escritores portugueses do século XX.
Escritor português natural de Vila Real. Proveniente de uma família humilde, teve uma infância rural dura, que lhe deu a conhecer a realidade do campo feita. Emigrou com 13 anos para o Brasil, onde durante cinco anos trabalhou na fazenda de um tio. De regresso a Portugal, em 1925, concluiu o ensino liceal. Em 1928 entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro, "Ansiedade", de poesia. É em Coimbra, onde vai também a exercer a sua profissão de médico a partir de 1939 e onde escreve a maioria dos seus livros.
Miguel Torga, tornou-se o poeta do mundo rural. A obra de Torga tem um carácter humanista: criado nas serras transmontanas, entre os trabalhadores rurais, assistindo aos ciclos de perpetuação da Natureza. Torga aprendeu o valor de cada homem, como criador e propagador da vida e da Natureza: sem o homem, não haveria searas, não haveria vinhas e toda a paisagem rural.
Foi várias vezes premiado, nacional e internacionalmente. Foram-lhe atribuídos, entre outros, o prémio Diário de Notícias (1969), o Prémio Internacional de Poesia (1977), o prémio Montaigne (1981), o prémio Camões (1989), o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1992) e o Prémio da Crítica, consagrando a sua obra (1993).
Morre em Coimbra a 17 de Janeiro de 1995 pelas 11 horas.
Após uma análise do poema acima apresentado, de Miguel Torga podemos concluir que é um poema constituído por apenas uma estrofe de catorze versos.
Este poema apresenta rimas cruzadas, emparelhas e interpoladas, possuindo ainda uma sonoridade leve e calma.
Miguel Torga apresenta nos seus poemas um grande apego à terra e ao campo, ou seja, à vida campestre. Este apego é profundo, é da sua origem transmontana, aldeã.
Assim, deparamo-nos com um poema que nos fala da semente, da seiva, da colheita, enfim, que remetem para os símbolos bíblicos.
A Bíblia é o livro sagrado de um povo de agricultores e pastores e, por isso, não é de admirar o uso da linguagem simbólica das sementeiras e das sementes para falar de realidades espirituais e transmitir mensagens de fé. A semente, embora pequena, tem a capacidade de produzir uma enorme quantidade de outros grãos e de estar na origem de uma grande árvore. A semente já contém em si o que no futuro se vai manifestar. Ela é o símbolo de todas as capacidades e possibilidades, da abundância de vida.
O sujeito poético inicia a sua composição lírica com duas comparações: “Tal como o camponês” e “Ou como tu pastor”. O sujeito poético compara o canto destes dois seres ao seu próprio canto, isto é, o canto através da palavra que é a poesia. E qual é a sua forma de cantar? O sujeito poético canta “livre” e “sem me ouvir”, pelo facto de ser um canto que provém de dentro, dentro de si, razão pelo qual ninguém não o ouve e nem mesmo a ele próprio.
O sujeito poético remete a seguir para o ofício de pastor, tendo esta palavra um sentido duplo: o pastor de ovelhas e o das missas, ou seja, o sujeito “compara” por assim dizer que o bom pastor era Jesus e o povo eram as suas ovelhas.
Através da conjunção coordenativa adversativa “Mas”, o sujeito marca uma oposição. Assim, a única coisa que vai sobrar “desse ritual” é o que vai restar na recordação daquela melodia “leve” e “gratuita” da sua poesia.
Toda a poesia exprime um conjunto de mitos agrários de uma forma pessoal que é a sua visão.
Feita a análise interna, retornemos ao título deste poema. O título deste poema é comunhão, porque o eu lírico está em comunhão com a natureza e com todo o ambiente pastoril e campestre.