Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit, sed do eiusmod
Todos os trabalhos publicados foram gentilmente enviados por estudantes – se também quiseres contribuir para apoiar o nosso portal faz como o(a) Francisca Gomes Ferreira e envia também os teus trabalhos, resumos e apontamentos para o nosso mail: geral@notapositiva.com.
Trabalho escolar sobre Antero de Quental, escritor e poeta de Portugal, realizado no âmbito da disciplina de História (11º ano).
Antero Tarquínio de Quental nasceu em Ponta Delgada nos Açores, no dia 18 de Abril de 1842. "Nasci nesta ilha de São Miguel descendente de uma das mais antigas famílias dos seus colonizadores", dirá o próprio mais tarde numa carta autobiográfica.
Seu pai, Fernando de Quental foi um dos 7500 liberais que, dez anos antes, haviam desembarcado no Mindelo, com o objectivo de transformar Portugal numa Monarquia constitucional. Aliás, toda a sua família paterna tinha já demonstrado ao longo dos séculos uma grande inclinação lutadora e revolucionária, que acabou por ser herdada pelo escritor. A mãe de Antero, Ana Guilhermina da Maia, deu-lhe uma educação muito religiosa que muito irá contribuir para as suas reflexões místicas, mesmo depois de abandonar a religião.
Aos cinco anos aprende francês com António Feliciano de Castilho, o poeta cego, figura de proa do romantismo, que, entre 1847 e 1850, reside em Ponta Delgada, provocando uma autêntica revolução cultural entre a sociedade da cidade.
Até aos 10 Antero de Quental frequenta o Liceu Açoriano, uma escola particular, e cresce calmamente na ilha de S.Miguel, longe da azáfama do continente e da inauguração dos Caminhos de Ferro.
Em Agosto de 1852 vem para Lisboa com sua mãe onde frequenta o Colégio do Pórtico, de que é director o seu já conhecido Castilho.
No ano seguinte, regressa a Ponta Delgada com seu pai (por causa das epidemias de cólera que flagelavam o continente) e em 1855, concluirá os estudos primários no Liceu da cidade.
Quando faz 14 anos, é aluno interno no Colégio de S. Bento, em Coimbra, e é aí que, com a ajuda de seu tio paterno Filipe de Quental, lente de Medicina, conclui os estudos preparatórios para o ingresso na Universidade de Coimbra, onde se matricula no 1º ano de Direito a 28 de Setembro de 1858, sendo admitido a 2 de Outubro.
A vida de Antero como universitário em coimbra é extremamente turbulenta, sendo que até ele própro sentiu uma grande mudança no seu temperamento:
"O facto mais importante da minha vida durante aqueles anos, e provavelmente o mais decisivo dela, foi a espécie de revolução intelectual e moral que em mim se deu, ao sair, pobre criança arrancada ao viver quase patriarcal de uma província remota e imersa no seu plácido sono histórico, para o meio da irrespeitosa agitação intelectual de um centro, onde mais ou menos vinham repercutir-se as encontradas correntes do espírito moderno."
Entre as suas façanhas em coimbra contam-se a condenação a oito dias de prisão por parte da polícia académica; a participação activa numa sociedade clandestina (denominada "Sociedade do Raio") responsável por vários desacatos académicos; e a famosa "Qustão Coimbrã".
Dotado de um temperamento bipolar, de convicções iberistas e socialistas, Antero termina o curso de direito a 2 de Julho de 1864 (22anos), sem nunca ter sido um aluno brilhante.
Quental, em conjunto com Eça de Queirós, Teófilo de Braga, Camilo de Castelo Branco, Oliveira Martins e Guerra Junqueiro, foram os responsáveis por uma autêntica revolução literária em Portugal. Estes e mais uns quantos, foram os criadores do Famoso Cenáculo.
Os 10 anos seguintes da vida de Antero esgotaram-se rapidamente entre as viagens (foi à França e aos Estados Unidos para ter um contacto mais directo com as classes operárias), a escrita de poemas ("Sonetos"), e a participação activa no Cenáculo (conferências do casino). Antero de Quental encontrava-se claramente numa das suas fases eufóricas.
Recusa um cargo no governo socialista em 1871.
Em 28 de Novembro desse mesmo ano, sua mãe morre, e diz ele numa carta a Oliveira Martins: "Acabo de receber um dos maiores golpes que podia receber. Morreu minha Mãe. V. sabe o que é ser filósofo, mas sabe também o que é ser filho. Diga-me duas palavras das suas, fortes e boas. Eu sei o que há a dizer a mim mesmo, mas far-me-á bem que mo diga V. Eu estou muito sereno e conformado e aplicando à minha situação os dogmas da nossa comum religião. Mas isto não impede que esteja triste."
Em 1874 adoece gravemente e em 1879, adopta as duas filhas do seu recentemente falecido amigo Germano Meireles, instalando-se em Vila do Conde, onde recupera calmamente ("Fixei actualmente a minha residência em Vila do Conde, terrazinha antiga, plácida e campestre, muito ao sabor dos meus humores de solitário. Vivo aqui como um verdadeiro ermita."). Quando a mãe das suas pupilas morre, em 1885, Antero interna-as num asilo de órfãs no Porto.
Cinco anos depois, o rei D. Carlos vê-se ameaçado pelo ultimato inglês, e Antero parte para ponta Delgada, onde tem uma discussão com a irmã sobre as pupilas.
No dia 11 de Setembro compra um revólver e, às 20 horas, num banco do lado norte do Campo de S. Francisco, suicida-se com dois tiros.
Quental retratado por Culumbano Bordalo Pinheiro
Em Janeiro de 1865, Castilho escreve ao editor António Maria Pereira uma carta, que será publicada como posfácio do Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas.
Nela, o velho poeta discute poemas de Antero de Quental, Teófilo Braga e Vieira de Castro, ironizando particularmente sobre as Odes Modernas (obra em que Antero de Quental defende a nova corrente literária do Realismo em detrimento do Romantismo tradicional).
Antero resolve descer à liça e contestar ao seu velho mestre o direito de se arvorar em árbitro das letras nacionais - faz publicar uma carta-aberta a Castilho, "Bom-senso e Bom-gosto", onde, exaltadamente, se insurge contra o desdém de Castilho relativamente à nova geração de poetas dizendo que "...é natural que V.Exa não compreenda de literatura, uma vez que não tem olhos para ver..."
E então desencadeia-se a que é talvez a mais famosa polémica literária portuguesa, conhecida por Questão Coimbrã ou Questão do Bom Senso e Bom Gosto: A famosa Questão Literária ou Questão de Coimbra, que durante mais de seis meses agitou o nosso pequeno mundo literário e foi o ponto de partida da actual evolução da literatura portuguesa. Os novos datam todos de então. O velho Castilho, viu a geração nova insurgir-se contra a sua chefatura anacrónica.
Houve em tudo isto muita irreverência e muito excesso, mas é certo que Castilho, que não compreendia a nova literatura e a frescura de ideias dos novos escritores, julgou poder suprimi-la com processos de velho pedagogo.
No início de 1866, Ramalho Ortigão sai em defesa de Castilho com o folheto A Literatura de Hoje no qual acusa Antero de cobardia, pois este invocara como argumentos a velhice e a cegueira do poeta:
Antero escreve:
"O caso era cómico e não trágico. Ramalho Ortigão escreveu insolências bastante indignas a meu respeito num folheto a propósito da sempiterna questão Castilho. Eu vim ao Porto para lhe dar porrada. Encontrei, porém, o Camilo o qual me disse que adivinhava o motivo da viagem e que antes das vias de facto, ele iria falar com o homem para ele dar satisfação. Aceitei. A explicação, porém, do dito homem pareceu-me insuficiente e dispunha-me a correr as eventualidades da bofetada quando me veio dizer o Camilo que o homem se louvava em C.J.Vieira e Antero Albano com plenos poderes de decidir a coisa e que fizesse eu o mesmo em dois amigos meus; na certeza de que uns e outros seriam considerados padrinhos de um duelo no caso de se não entenderem a bem."
No duelo, em 4 de Fevereiro, logo no primeiro assalto, Antero fere Ramalho num braço. A luta termina, as honras estão lavadas e os dois escritores reconciliam-se.
Em 1871, a 22 de Maio, são abertas as Conferências do Casino, que o grupo do Cenáculo, orientado por Antero, promovem. Anima-as um substracto republicano, iberista, realista, proudhoniano. Realizam-se no Casino Lisbonense e Antero pronuncia a conferência e uma outra, no dia 27: Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos. Eça de Queirós desenvolve o tema O Realismo como Nova Expressão de Arte. Salomão Sáragga, especialista em hebraísmo, quando se preparava para proferir a sua lição sobre Os Historiadores Críticos de Jesus, o governo manda, em 26 de Junho, encerrar as Conferências, alegando que constituem uma ofensa à religião e às instituições do Estado. Os protestos irrompem de diversos sectores. Antero escreve e publica, em 30 de Junho, ao presidente do Conselho de Ministros:
“A Portaria com que V.Ex.a. mandou fechar a sala das Conferências Democráticas, é um acto não só contrário à lei e ao espírito da época, mas sobretudo atentório da liberdade do pensamento, da liberdade da palavra, e da palavra de reunião, isto é, daqueles sagrados direitos sem os quais não há sociedade humana, verdadeira sociedade humana, no sentido ideal, justo, eterno da palavra. Pode haver sem eles aglomeração de corpos inertes: não há associação de consciências livres. Ex.mo. Sr.: nem eu nem V.Ex.a. passaremos à história: e muito menos as ineptas portarias que V.Ex.a. faz assinar a um rei sonâmbulo. Mas supondo por um momento que alguma destas coisas possa passar ao século XX, folgo de deixar aos vindouros com este escrito a certeza duma coisa: que em 1871 houve em Portugal um ministro que fez uma acção má e tola, e um homem que teve a franqueza caridosa de lho dizer.”