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Trabalho sobre Cesário Verde e análise do poema "de tarde", do mesmo autor, realizado no âmbito da disciplina de Português (11º ano).
José Joaquim Cesário Verde, nascido a 25 de Fevereiro de 1855 em Lisboa, é um poeta Parnasiano de grande importância para a língua Portuguesa. Embora tenha vivido apenas 31 anos, Cesário influenciou a literatura e a poesia em Portugal do século XX (vinte). Poeta do campo que vivia na cidade, era oriundo de uma família ligada a agricultura e ao campo e, talvez por isso, fosse tão apaixonado pela natureza. Trabalhador com seu pai numa loja de ferragens e em negócios de fruticultura, Cesário estudou também na universidade de letras embora a tivesse vindo a abandonar passados alguns meses.
Vítima de uma doença da época, a tuberculose, Cesário perdeu o seu irmão e a sua irmã, tendo mesmo este sentido a doença a partir de 1877 morrendo em 1886.
Na sua vida, Cesário escreveu vários poemas, alguns dos quais foram publicados em revistas e jornais da altura, mas que só em 1887 foram publicados em livro após a sua compilação realizada pelo amigo de universidade Silva Pinto.
Poeta do Campo perdido na cidade, como dizia Fernando Pessoa, Cesário acreditava que o campo era fonte de alegria, amor e vida enquanto a cidade era melancólica, doentia e triste. Na cidade, o poeta procurava em cada recanto algo que lhe lembrasse a vida no campo. Num simples canteiro recheado de cor, Cesário imaginava os campos floridos. A sua inteligência, a sua imaginação e a sua arte de escrever levavam-no a pintar telas com letras e pontos descrevendo o que via enquanto passeava pela cidade (deambulismo). Defensor do trabalho e de quem trabalha e é humilde, nas suas prosas e com um jeito impressionante, Cesário deixa várias críticas sociais para com aqueles que vivem a custa do outro, não trabalham e não são humildes.
No poema que a seguir vou ler, intitulado de “ De Tarde” é visível o gosto do poeta pelo campo e pela natureza.
(Cesário Verde)
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Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
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Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal*1 azul de grão-de-bico
Um ramalhete*2 rubro de papoulas.
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Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia*3.
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Mas, todo púrpura*4 a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
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Esquema rimático: (Rima cruzada)
a - b - a - b
(4 quadras cada uma com 4 versos)
Demonstrativo "Naquele" e a forma verbal no Pretérito Perfeito "Houve" remetem para o passado, instaurando a memória como meio de representação poética.
Aliteração: " A um granzoal azul de grão-de-bico", "Um ramalhete rubro de papoulas", "E houve talhadas de melão, de damascos, / E pão-de-ló molhado em malvasia"
Indicadores de tempo: “inda o Sol se via”
Indicadores de espaço: “A um granzoal azul de grão-de-bico”, “Pouco depois, em cima duns penhascos,”
Neste poema verifica-se a capacidade descritiva de Cesário Verde e o seu gosto pela natureza. É possível verificar-se ainda uma característica muito especial do poeta, o gosto pela simplicidade. O facto de a burguesa ter descido do burrico descontraída e sem imposturas tolas e ter ido colher papoulas deu a Cesário um significado belo. Para o poeta o real valor das coisas estava na simplicidade.
A descrição do local onde a burguesa fora colher as pápulas “um granzoal azul de grão-de-bico” demonstra a capacidade descritiva do real observado pelo poeta e, assim quando a sua poesia é lida logo o leitor imagina a sena presenciada pelo poeta.
Verifica-se ainda o gosto de Cesário pela mulher simples que não se dá a luxos e que, tal como ele, gosta da natureza e do campo.
Na segunda estrofe o poeta usa a aliteração em “granzoal azul grão de bico” e em “ramalhete rubro” para valorizar a ideia de campo.
Ao usar o gerúndio (“descendo”) faz transmitir a ideia de movimento da figura feminina naquele momento.
De seguida o sujeito poético faz uma pequena descrição dos elementos que compõem a merenda, através de alguns substantivos e de enumerações (“talhadas de melão, damascos”, “pão de ló molhado em malvasia”) onde frisa o erotismo dos frutos e do resto da comida, através de sensações visuais e gustativas.
Na última quadra, Cesário Verde inicia a frase com uma conjunção coordenativa adversativa que confere a ideia de que o poeta esqueceu o picnic por um instante e se concentra na mulher que lhe provoca vários sentimentos e que é portadora de uma grande sensualidade «Mas, todo púrpura, a sair da renda, dos teus seios como duas rolas», usando aqui a comparação.
O poema termina com uma frase exclamativa que pretende transpor-nos aquilo que o sujeito poético reteve do picnic, ou seja, essencialmente a beleza daquela figura feminina que vai provocando um turbilhão de ideias na cabeça do sujeito poético.
Nesta, os dois seios remetem para a sensualidade da mulher, destaca-se muito a cor vermelha «rubro» que nos remete para a vida sanguínea mas também para o calor dos seios da figura feminina, metonimicamente deslocados para as papoulas.
Em finalização, deste poema retém-se o gosto do poeta pelo campo e a atração que aquela figura feminina lhe provoca.