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Resumo/Apontamentos escolares sobre a Genética, realizado no âmbito da disciplina de Psicologia (12º ano).
A cada espécie de seres vivos corresponde um conjunto de características próprias que se distinguem.
Hoje, graças ao desenvolvimento da ciência, Biologia Molecular e da Genética, temos novas respostas a perguntas antigas.
Em psicologia tem-se vindo a desenvolver uma área específica – Genética do Comportamento – que investiga as influências hereditárias na forma de ser e de se comportar dos indivíduos.
Muitos aspectos dos seres humanos são transmitidos por hereditariedade. Muitas das nossas características, quer em termos da nossa constituição física, quer em termos do nosso comportamento, são herdados, já nascem connosco.
O óvulo e o espermatozóide: cada um de nós resultou da sua junção que gerou uma célula: o ovo. São precisamente células reprodutoras responsáveis pela hereditariedade.
O ovo, é assim, a primeira célula que constitui o indivíduo. Esta célula vai dividir-se em duas, que por sua vez se subdividirão até gerar o organismo – mitose.
Este processo de divisão celular está na base da produção das células novas que também têm por função substituir as que morrem. É, portanto um processo que está subjacente ao crescimento e desenvolvimento do indivíduo ao longo da sua vida.
Os seres humanos, são constituídos por células que apresentam uma organização completa – núcleo. É no interior deste que se encontra a informação genética responsável pelas características de cada espécie e de cada indivíduo.
No período de divisão celular, é possível observar longos filamentos enrolados – cromossomas. Estes são constituídos quimicamente por ADN e por proteínas. Os cromossomas constituem o suporte dos genes. São as estruturas mais importantes das células, uma vez que são responsáveis pela transmissão de informação hereditária.
As células de um organismo da mesma espécie têm o mesmo número de cromossomas (menos os sexuais). O número e a forma dos cromossomas são característicos de cada espécie, sendo designado por cariótipo.
Geralmente os cromossomas numa célula organizam-se em pares semelhantes, dois a dois, excepto o par de cromossomas sexuais.
A espécie humana tem 23 pares de cromossomas: 22 são comuns aos dois sexos. O par 23 – par cromossoma sexual – é distinto.
Mulher - XX ↔ Homem - XY
Sendo assim, o pai é que define o sexo da criança.
Dois cientistas apresentaram um modelo tridimensional para a estrutura do ADN. Segundo estes cientistas, cada molécula de ADN assemelha-se a duas cadeias enroladas em hélice – dupla hélice.
Os degraus da escada são constituídos por 4 bases azotadas: adenina (A), timina (T), guanina (G) e citosina (C).
Estas bases estão ligadas duas a duas; A-T G-C.
A cada conjunto formado por uma desoxirribose, uma molécula de ácido fosfórico e uma base azotada dá-se o nome de nucleótido. Este constitui a unidade básica do ADN.
É o número e a sequência dos nucleótidos que definem as características de cada ser vivo. Um dos maiores desafios da ciência consiste na análise da estrutura do ADN, com o objectivo de se construir um mapa com a posição dos cromossomas que constituem os genes humanos – genoma humano.
Segmentos de ADN com um determinado número de nucleótidos e com uma ordem própria constituem uma unidade de linguagem química – gene. O gene é um segmento de um cromossoma a que corresponde um código distinto, uma informação para produzir uma determinada protéina ou controlar uma característica.
Um cromossoma contém vários genes que são responsáveis por todas as características físicas do indivíduo. Os genes não actuam isolados, cooperam entre si, influenciando-se.
Nos últimos anos têm-se desenvolvido investigações para identificar o genoma, isto é, o conjunto de genes que constituem o ser humano.
De facto o que distingue os seres humanos de outros seres vivos é a grande complexidade das associações entre os genes.
Um cromossoma de cada par é transmitido pela mãe e outro pelo pai, dai que todos os seres humanos dispõem de duas variações de cada gene. Os cromossomas, com forma e estruturas idênticas, dizem-se cromossomas homólogos. Em cada par de cromossomas homólogos existem genes com informação para o mesmo carácter, isto é, situados no mesmo locus – são designados por genes alelos: o alelo é herdado da mãe e outro do pai.
Quando os alelos têm informação igual os indivíduos são homozigóticos, quando a informação é contrastante chamam-se heterozigóticos.
Diz-se que um gene é dominante quando produz efeito mesmo presente num só alelo. E diz-se recessivo quando apenas faz efeito quando presente nos dois alelos.
A constituição genética de um individuo para um determinado carácter e constitui o genótipo do individuo, o modo como o genótipo se vai manifestar no indivíduo corresponde ao fenótipo: o fenótipo resulta da expressão do genótipo em interacção com o ambiente.
Ora, os genes não constituem estruturas homogéneas, isto é, não são todos iguais e não têm todos a mesma relevância. Têm diferentes importâncias.
Os genes de desenvolvimento, que codificam a forma do organismo definindo, por exemplo, a pertença a uma dada espécie. São estes genes que desenham o padrão do organismo. São por isso, designados também por “genes arquitectos” dado que a sua expressão permite construir o indivíduo.
Apesar de a natureza não mudar, podem originar novos órgãos como consequência de mutações.
Estes genes desempenham um papel decisivo nas etapas de construção do cérebro. Pensa-se que estão envolvidos no prolongamento da construção do cérebro, isto explica um órgão desenvolver-se até à morte.
A quantidade de material genético em casa espécie mantém-se constante de geração em geração graças à ocorrência de um processo de divisão celular – meiose.
46 → 23 Cromossomas – por meiose
Se não ocorre-se este fenómeno a próxima geração seria composta por 92 cromossomas, o eu se traduziria numa alteração das características da espécie.
Durante a meiose ocorrem duas divisões do núcleo. Divisão I (redução dos cromossomas) e divisão II.
A separação, ao acaso, dos cromossomas homólogos, contribui para a variabilidade genética. Os gâmetas possuem um cromossoma de cada par de homólogos presentes na célula-mãe que lhes deu origem. Há sempre uma separação aleatória dos cromossomas homólogos – um da mãe e outro do pai - (o que faz a célula-filha ser de constituição genética diferente da célula-mãe). Se são cromossomas homólogos são portadores do mesmo tipo de genes, mas que depois se vão trocar entre si. Quer dizer, os cromossomas semelhantes, homólogos, são os que se agrupam no mesmo par, podem ter (por exemplo da mãe) um gene recessivo e outro (do pai) ter um gene dominante, mas há também assim uma distribuição dos cromossomas que é ocasional.
A cada par de cromossomas, um de origem materna e outro de origem paterna, chama-se cromossomas homólogos, que têm a mesma forma, estrutura, e têm informação genética para os mesmos caracteres.
A fecundação tem como consequência uma duplicação cromossómica. No entanto, para que a quantidade de DNA de cada espécie se mantenha constante de geração em geração, é preciso que ocorra um processo de divisão nuclear, a meiose. Neste processo, o número de cromossomas é reduzido para metade. Origina células que vão ter apenas um cromossoma (n) de cada par de cromossomas homólogos da célula original. Esta separação ocorre ao acaso a partir dos cromossomas homólogos.
A distribuição dos cromossomas não é certa.
Se os cromossomas homólogos fossem idênticos, esta distribuição não faria sentido, mas uma vez que são distintos, haverá gâmetas com combinações de genes muito diferentes das que ocorrem em qualquer dos progenitores.
A meiose é de grande importância, pois contribui para a variabilidade genética.
A clonagem corresponde ao inverso da variabilidade genética : o clone é um duplo genético.
O grande objectivo do Projecto do Genoma Humano é decifrar o ADN. O seu objectivo é fazer o mapa do posicionamento nos pares de cromossomas dos genes que constituem os seres humanos, sequenciando as bases.
A Fevereiro de 2001 foi feito o rascunho, que foi ultrapassado por versões mais complexas. A Abril de 2003, a primeira etapa foi completa, alguns milhões foram sequenciados. Não foi possível descobrir os genes da inteligência, das vocações mas reconheceram os que definem a cor dos olhos, etc.
Percebeu-se que a questão é muito complexa: é o jogo de influências que activam e desactivam os genes, possibilitando que o mesmo gene dê origem a proteínas diferentes conforme a célula ou o ambiente. Conhecer a sequência de ADN não permite, definir o que é que uma pessoa vai ser. O meio, a influência do meio, faz muita diferença.
A identificação dos genes responsáveis por doenças tem uma enorme importância médico, pois possibilita a identificação do erro genético do tipo de doença já declarada, e permite prevenir outras.
Temos de saber distinguir hereditariedade específica e individual. A específica corresponde à informação genética responsável pelas características comuns a todos os indivíduos da mesma espécie, a migração das aves, o acasalamento. Entre os seres humanos há um conjunto de características comuns, que nos definem como humanos. A individual corresponde à informação genética responsável pelas características de um indivíduo, é o que o torna único.
O genótipo é o conjunto de características tal como são definidas pelos genes, e que podem ou não exprimir-se conforme as características do meio em que se desenvolve.
O fenótipo designa a aparência do indivíduo, que resultam da interacção entre o genótipo e o meio ambiente. Corresponde à actualização do genótipo.
A pessoa é, assim, o resultado de uma história em que se interligam factores hereditários e factores ambientais. A complexidade do que somos deriva do potencial deriva do potencial herdado e dos efeitos do meio.
As potencialidades genéticas iniciam-se a partir da concepção, na sua génese intra-uterina. Efectivamente, desde o embrião que se fazem sentir os efeitos do meio: no desenvolvimento embrionário surgem potencialidades que não faziam parte da célula fertilizada e que se desenvolvem a partir de influências do ambiente pré-natal.
Esta interacção, pode permitir o desenvolvimento harmónico do potencial genético, mas pode também influenciar negativamente o processo de expressão e desenvolvimento desse potencial.
Se começarmos por referir o meio intra-uterino, sabemos que a má nutrição da mãe, a ingestão de substâncias tóxicas, medicamentos ou mesmo algumas doenças podem afectar negativamente o desenvolvimento do feto.
Conhece-se o efeito de produtos químicos que podem alterar a estrutura do ADN originando mutações. O exemplo mais estudado e conhecido é o efeito da talidomida, que fés com que muitas crianças nascessem sem pernas ou sem braços.
A influência do meio após o nascimento, que se manifesta nas mais diversas expressões, vai decidir grande parte do que somos.
Os investigadores que desenvolvem estudos sobre a transmissão hereditária recorrem à análise dos gémeos para investigarem a influência do meio no comportamento e desenvolvimento humanos.
Os gémeos falsos resultam da fecundação de dois óvulos por dois espermatozóides. a sua semelhança genética não é maior do que a apresentada por irmãos comuns.
Os gémeos verdadeiros resultam do desdobramento do ovo. Dado que este resulta de um óvulo fecundado por um espermatozóide, os dois ovos têm os mesmos cromossomas. São como clones. A configuração química é a mesma e têm o mesmo grupo sanguíneo.
Muitas investigações procuram avaliar o peso que os genes e o meio têm no desenvolvimento.
Embora o código genético seja exactamente igual, há factores que influenciam a forma como os genes se expressam. Estes factores podem exacerbar ou amortecer a expressão de um certo gene e por isso conduzir a pequenas diferenças nos caracteres.
René Zazzo centrou a sua investigação sobre o processo de individuação psicológica. Estudou sobretudo os gémeos verdadeiros, analisando o que designa por paradoxo dos gémeos. Apesar das semelhanças das condições biológicas e ambientais, os gémeos vão progressivamente distinguindo-se, para se diferenciarem em duas pessoas distintas e singulares.
«A mesma hereditariedade, o mesmo meio, e, contudo, dois seres diferentes»
Existem muitas teorias para tentar explicar o papel da acção da genética. Umas enfatizam o papel da hereditariedade enquanto outras o papel do meio.
Umas das teorias mais comuns, considerava que o ovo continha o indivíduo em miniaturas. Esta defendia que o desenvolvimento embrionário consiste no desenvolvimento de potencialidades preexistentes no ovo.
O desenvolvimento limitava-se, portanto, ao aumento do tamanho do ser em miniatura (homúnculo). O que é certo é que se chegaram a formar dois grupos distintos:
O naturalista suíço Charles Bonnet desenvolve esta concepção: o desenvolvimento não é mais do que uma ampliação, como a que ocorre na ampliação de uma fotografia. O preformismo não toma em consideração o efeito do ambiente, o desenvolvimento dependeria apenas da componente hereditária – determinismo hereditário.
O preformismo é negado por Caspar Wolff, que apresenta uma nova concepção: o ovo é uma estrutura desorganizada, e a diferenciação do embrião dá-se pelo efeito das forças exteriores. Esta teoria nega a existência de estruturas preformadas no ovo e que se desenvolvem mais tarde. O desenvolvimento é o resultado do crescimento, diferenciação e modificação.
No século XIX desenvolve-se a ideia de que os organismos dependiam da estrutura genética e da intervenção do meio. É a partir de um estado simples e homogéneo que se desenvolve progressivamente o embrião. Estas noções de genótipo e fenótipo.
O termo epigenético corresponde às modificações transmissíveis e reversíveis das expressões dos genes, mas que não implicam modificações nas sequências de ADN.
Exemplo: os gémeos verdadeiros têm a mesma carga genética, ou seja, todas as suas características são idênticas, incluindo o sistema nervoso. Mas verifica-se que o número de células nervosas é diferente e as conexões entre os neurónios apresenta também diferenças – há variabilidade individual.
O desenvolvimento humano resulta de um conjunto complexo de interacções entre as potencialidades genéticas e as influências do meio.
«(…) O cérebro humano constrói-se epigeneticamente, quer dizer que há um conjunto de ligações que se faz da aprendizagem e que impede que se defenda um determinismo estrito. (…).»
É no próprio desenvolvimento embrionário que emergem novas potencialidades que não estavam incluídas na célula fertilizada original, mas que se desenvolvem a partir das influências do meio ambiente pré-natal e da interacção das células.
O conceito de epigénese designa precisamente o que na construção do organismo e dos seus comportamentos não depende apenas dos genes nem da aprendizagem. A epigénese prolonga os efeitos da genética sem serem determinados por esta.
A complexidade do ser humano e o seu inacabamento biológico
Quando falamos em desenvolvimento humano podemos referir-nos ao desenvolvimento da espécie (filogénese) ou ao desenvolvimento do indivíduo (ontogénese).
A filogénese é o conjunto de processos de evolução dos seres vivos desde os mais elementares aos mais complexos. É a história evolutiva de uma espécie, de um grupo específico de organismos.
A ontogénese designa o desenvolvimento do indivíduo desde a fecundação até ao estado adulto.
Após alguns exemplos (peixe pararia cedo o seu desenvolvimento, enquanto que os pássaros cumpririam etapas posteriores), Haeckel formulou a lei segundo a qual “a ontogénese recapitula a filogénese”. Na lei da recapitulação ontofilogenética: o desenvolvimento do embrião recapitula etapas do desenvolvimento, que correspondiam a estádios da evolução.
Para provar a sua hipótese, apresentou um conjunto de desenhos de embriões (página 38) de várias espécies que supostamente demonstrariam a sua tese. Contudo, tudo veio a provar-se falso por o autor manipulou as imagens para poder comprovar a sua teoria.
Investigações posteriores vieram a provar que o indivíduo é produto da interacção entre os factores genéticos e os factores ambientais. É esta interacção que garante a adaptação ao meio ambiente, que é condição de sobrevivência.
Assim não é a filogénese que determina a ontogénese, mas sim a ontogénese causa da filogénese. São as transformações ontogenéticas que ocorrem no processo evolutivo que permitem a adaptação ao meio ambiente. A filogénese é, assim, uma sucessão de ontogéneses que evoluíram, produto de mutações e da selecção natural. Só assim as espécies sobrevivem.
Um dos investigadores que mais contribuiu para esta compreensão foi Stephen Gould. Na sua opinião, os estudos baseados no darwinismo omitiram o papel da ontogénese. Opõem-se a uma visão reducionista que esqueceu a importância do estudo do organismo individual: a ontogénese é central na compreensão do desenvolvimento humano.
Podemos afirmar que todos os seres vivos estão programados (exemplo: sementes -> dão sempre uma flor). Há, portanto, um programa de desenvolvimento que passa por diferentes fases e que culmina com o culmina com o florescimento de uma flor com características muito precisas que a distinguem de todas as outras.
Estes são programas genéticos fechados, isto é, prevêem de forma determinados processos evolutivos, comportamentos de determinadas espécies.
Há uma grande diferença entre os seres vivos “totalmente” programados e outros animais que são parcialmente programados. No ser humano, essa programação é a menos significativa, por comparação com outros animais – o programa genético é aberto.
O indivíduo não está determinado por um sistema de instintos que defina o seu desenvolvimento e o seu comportamento.
Certas especializações como as garras de um leão que o possibilitam a caça, o olfacto apuradíssimo dos cães, são importantes mas determinam limitações: funcionam apenas nos nichos onde os animais estão inseridos. Para além das funções para que estão programadas, estas capacidades de pouco servem quando as circunstâncias mudam.
A ausência destas especializações no ser humano torna-se uma vantagem. O se inacabamento permitem-lhe adaptar-se às mudanças, às situações imprevistas.
A complexidade do ser humano e o papel da aprendizagem na nossa existência resultam do facto de o Homem ser um ser biologicamente inacabado. O seu organismo leva muito mais tempo a atingir o pleno desenvolvimento. Ao contrário dos patos que logo que nascem nadam atrás da mãe, o ser humano nasce com uma incapacidade para reagir de forma tão eficaz ao meio.
O ser humano é um prematuro, no sentido em que não apresenta as suas capacidades, as competências desenvolvidas. O carácter embrionário do bebé torna-se uma vantagem, porque o longo período de imaturidade é essencial para a sobrevivência e adaptação da espécie. A necessidade e a capacidade para aprender estendem-se durante a adolescência e o estado adulto.
No plano físico, o ser humano apresenta um inacabamento biológica que se designa por neotenia (atraso no desenvolvimento, o que implica uma maior necessidade dos adultos e por um maior período de tempo; inacabamento biológico do ser humano ao nascer, o que implica que a infância humana seja tão longa: o processo de desenvolvimento continua após o nascimento). O processo de desenvolvimento do cérebro, está ligado ao retardamento ontogenético, isto é, ao prolongamento do período da infância e da adolescência. São os genes do desenvolvimento que tornam o ser humano um ser neoténico.
Arnold Gehlen afirma que o Homem é “um ser aberto ao mundo”: o seu inacabamento biológico, a sua prematuridade, explicaria a ausência de uma programação biológica tão rígida como a que existe em outros animais. A aprendizagem irá cumprir as tarefas que nos animais são definidas pela hereditariedade, ou seja, o ser humano tem de aprender o que a hereditariedade proporciona a outras espécies.
O facto de ser inacabado, prematuro, biologicamente desamparado, torna-o aberto a múltiplas potencialidades. A sua natureza torna flexível o processo de adaptação ao meio. O Homem tem a necessidade de criar a sua própria adaptação, a cultura, que vai transmitir de geração em geração.
No sistema nervoso podemos encontrar dois tipos principais de células:
A. Neurónios;
B. Células gliais;
a) Neuónios – células especializadas responsáveis por grande parte das funções do sistema nervoso.
b) Células gliais – facultam os nutrientes (oxigénio, glicose), que alimentam, isolam e protegem os neurónios. São estas células que controlam o desenvolvimento dos neurónios. Dá-se bastante importância a estas células pois, se descobriu que influenciam de forma decisiva a comunicação cerebral, o funcionamento das sinapses e outras funções que afectam o funcionamento de sistema nervoso. Têm um papel fundamental no desenvolvimento do cérebro no período fetal, e na maturação dos neurónios. São também responsáveis pelo asseguramento da manutenção do ambiente químico que rodeia os neurónios, bem como a determinação de quais os neurónios que estão aptos e quais não estão.
Nos neurónios podemos distinguir três componentes distintas:
A. Corpo celular
B. Dentrites
C. Axónio
a) Corpo celular – contém o núcleo que é o armazém de energia da célula. Este fabrica proteínas sob o controlo do ADN presente no núcleo celular. É o centro metabólico do neurónio. É deste que saem dois tipos de prolongamentos: as dentrites e o axónio.
b) Dentrites – são extensões do corpo celular (dentrite significa arvore). Graças às dentrites, o neurónio apresenta uma maior superfície de recepção e emissão de mensagens. Estas ramificações múltiplas recebem e transmitem informação de e para outras células.
c) Axónio – é o prolongamento mais extenso do neurónio e transmite as mensagens de um neurónio para o outro. Este prolonga-se a partir do corpo celular e termina num conjunto de ramificações semelhantes a raízes (telodentrites). A maior parte dos contactos é feita através da sua arborização terminal.
Há axónios que estão envolvidos por camadas de mielina (substância branca de matéria gorda) outros são constituídos por substâncias cinzentas. O cérebro é cinzento por fora e branco por dentro, pois a camada exterior é constituída por neurónios cujos axónios não estão cobertos por mielina, enquanto que a camada interior estão cobertos.
O axónio e certas dentrites, constituem uma fibra nervosa. Estas podem agrupar-se em feixes e ao conjunto de fibras nervosas envolvidas por uma membrana dá-se o nome de nervos.
O tamanho dos axónios é variável, tal como a velocidade de transmissão. Aqueles que têm maior diâmetro são os que permitem velocidades mais elevadas. Os neurónios que estão envolvidos por mielina, por um lado estão expostos a uma maior velocidade da condução das mensagens e, por outro, isolar as fibras umas das outras.
A. Neurónios aferentes ou sensoriais – são afectados pelas alterações ambientais e activados por estímulos interiores ou exteriores. Recolhem e conduzem as mensagens da periferia para os centros nervosos: espinal medula e encéfalo.
B. Neurónios eferentes ou motores – transmitem as mensagens dos centros nervosos para os órgãos responsáveis pelas respostas – músculos e glândulas.
C. Neurónios de conexão ou interneurónios – interpretam e elaboram as respostas. A actividade destes neurónios torna possível a capacidade intelectual, as emoções e as capacidades comportamentais. Exemplo: afastar a mão quando nos queimamos, responder a um teste ou compor uma música.
Os nossos neurónios estão organizados em redes, trocam informações sob forma de descargas eléctricas e químicas que atravessam imensos pontos de comunicação.
O papel do sistema nervoso consiste em transmitir sinais, mensagens de um grupo de neurónios para o outro. A informação que circula ao longo dos neurónios designa-se por influxo nervoso.
Quando há uma informação a ser transmitida este é o processo:
Antigamente pensava-se que o cérebro apenas servia para controlar o sono e baixar a temperatura, tudo o resto vinha do coração. Pensava-se assim pois emoções como o medo, a angústia, eram no coração que se sentia, com o aumento do ritmo cardíaco. E estas emoções no cérebro não eram codificadas tão facilmente.
Após várias tentativas de teorias são os frenologistas que defendem a relação íntima entre o cérebro e as características da personalidade e do temperamento de cada pessoa. Chegou mesmo a ser produzido um mapa onde indicava cada espaço para cada emoção.
Antigamente pensava-se que a função do cérebro teria algo a ver com o tamanho da caixa craniana… Mas, é claro que não existe qualquer relação entre as irregularidades da caixa craniana com as nossas características e capacidades. Contudo, esta ideia está na base das actuais concepções de localização cerebral.
Os frenologistas foram os primeiros a afirmar que o estudo da mente humana se deve basear no conhecimento biológico do cérebro.
O cérebro humano apresenta características estruturais muito próprias que o distinguem do cérebro dos outros animais.
O cérebro apesar de se diferenciar pela sua estrutura, diferencia-se também pela sua organização segundo determinadas funções que lhe conferem um carácter único.
O nosso cérebro, bem como de todos os mamíferos, está dividido em dois hemisférios: o hemisfério esquerdo e o hemisfério direito. Estes estão separados por uma fissura longitudinal e ligados por um sistema de fibras nervosas – corpo caloso.
O córtex cerebral é a camada cinzenta que cobre os hemisférios cerebrais e onde residem as capacidades superiores dos seres humanos.
Estes dois hemisférios desempenham diferentes funções – lateralização hemisférica.
Para se descobrir as diversas funções foram feitos estudos em doentes epitépticos. Para impedir que a actividade eléctrica passasse de um hemisfério para o outro, seccionaram o corpo caloso conseguindo que as crises se atenuassem ou até desaparecessem. Isto fez com que a qualidade de vida dos doentes melhorasse mas isto trouxe negatividade nas suas vidas, como por exemplo se o doente pegasse uma caneta com a mão direita, sem a estar a ver, era capaz de a reconhecer e descrever, mas se a segurasse com a mão esquerda, declarava não ter nada.
Isto permitiu reconhecer quais as funções de cada hemisfério.
A. Direito – controla a formação de imagens, as relações espaciais, a percepção das formas, das cores, das tonalidades afectivas e o pensamento concreto.
B. Esquerdo – responsável pelo pensamento lógico, linguagem verbal, discurso, cálculo e pela memória.
É graças ao funcionamento integrado dos dois hemisférios, que por exemplo atribuímos significado a uma expressão verbal. É o hemisfério esquerdo que permite a produção do discurso, mas é o direito que dá a entoação.
Cada hemisfério é constituído por 4 lobos – frontal, parietal, occipital e temporal. Cada um integra áreas corticais. Apesar da sua especialização, estas áreas actuam de forma coordenadas e complementar para realizarem determinados processos.
I. Lobos occipitais – Localizada na parte inferior do cérebro, coberta por córtex cerebral – córtex visual (porque processa os estímulos visuais). É constituída por várias subáreas que processam os dados visuais depois de terem passado pelo tálamo.
Depois de percebidas por esta área – área visual primária, estes dados passam para a área visual secundária (a informação recebida é comparada com os dados anteriores e que permite identificar cães, automóveis, etc. O córtex visual, comunica com outras áreas do cérebro que dão significado ao que vemos. Dai o mesmo objecto não ser identificado, percepcionado da mesma maneira por toda a gente. Uma lesão nesta área provoca a agnosia, impossibilita o reconhecimento de objectos, caras, etc.
II. Lobos temporais – localizado acima das orelhas, com a principal função processar os estímulos auditivos. Os sons produzem-se quando a área auditiva primária é estimulada. Tal como nos acima falados, é uma área de associação – área auditiva secundária – que recebe os dados e que, em interacção com outras zonas, lhes atribui um significado, permitindo o seu reconhecimento.
É na zona onde convergem os lobos occipital, temporal e parietal que se localiza a área de Wernicke, desempenha um papel importantíssimo na produção do discurso. Esta área permite-nos compreender o que os outros dizem.
III. Lobos parietais – localizados na parte superior do cérebro. Estes são constituídos por duas subdivisões – a anterior e a posterior. A zona anterior designa-se por córtex somatossensorial – tem como função possibilitar a recepção de sensações, como o tacto a dor. Nesta área primária está representada todas as áreas do corpo. São as que ocupam mais espaço e mais sensíveis pois têm mais dados para interpretar; A zona posterior é uma área secundária – analisa, interpreta e integra as informações recebidas pela área primária, permitindo a localização do nosso corpo no espaço, o reconhecimento dos objectos através do tacto.
IV. Lobos frontais – situados na parte da frente do cérebro. São responsáveis pelas actividades cognitivas que requerem concentração, pelos comportamentos de antecipação, planificação de actividades, pensamento abstracto, memória de trabalho e raciocínio completo. Intervêm também na regulação das emoções. Estes são constituídos por diferentes partes. O córtex motor (fica situado na parte dos lobos frontais) é responsável pelos movimentos da responsabilidade dos músculos, também aqui cada parte do corpo está representada. Por de trás do córtex motor, está localizado a área de Broca, responsável pela produção do discurso.
Existe uma relação entre esta área e a área de Wernicke – antes de se produzir qualquer discurso, as palavras são seleccionadas pela área de Wernicke e depois passadas para a área de Broca que as traduzirá em sons que serão traduzidos em movimentos adequados a produzir o discurso.
As áreas pré-frontais estão intimamente relacionadas com a memória, permitindo-nos recorrer ao passado, planear o futuro, resolver problemas, antecipar acontecimentos, etc. Estas áreas são o grande organizador do pensamento reflexivo e da imaginação. Estas também envolvem complexas relações com as emoções. Exemplo: Phineas Gage.
Phineas Gage ficou com uma barra espetada na cabeça. Para além de crises de epilepsia esporádicas, manteve as suas capacidades motoras bem como as intelectuais. Contudo, a sua personalidade sofreu alterações profundas. Antes era um homem calmo, educado, trabalhador. Depois do acidente passou a ser um homem sempre irritado, grosseiro, enfurecido.
António Damásio, face a estes sintomas, coloca a hipótese de as emoções e as capacidades de reflexão estratégica estarem relacionadas. Damásio defende que a emoção está intimamente relacionada com as escolhas racionais. Diz mais, ele diz que a emoção pode ser um guia das nossas escolhas.
Através das suas investigações chega-se à conclusão de que o córtex controla as nossas pulsões e impulsos impedindo-nos de reagir de forma desadequada a uma situação como beber antes de conduzir.
Se ocorre uma ruptura entre o centro emocional e o córtex frontal, se a informação não se estabelece entre as duas áreas, estamos perante uma indiferença afectiva, por exemplo quando nos cortam um dedo à uma indiferença pois temos mais 9 dedos.
Apesar de existir zonas especializadas, esta especialização não nos pode conduzir a uma perspectiva que defende uma localização de forma compartimentada.
A evolução dos conhecimentos conduziu à identificação de funções desconhecidas bem como à redistribuição das que já se tinha identificado. Mas, fundamentalmente, modificou-se a ideia de funcionamento: a uma concepção que privilegia a localização das funções de forma compartimentada opõem-se, actualmente, uma concepção que constata que o cérebro funciona como um todo, como uma rede funcional.
Constata-se que uma informação perdida devido a uma lesão, pode ser recuperada por uma área vizinha. É o que se designa por função vicariante. Exemplo: pessoas que perdem a fala devido a um acidente cerebral, mais tarde recuperam esta capacidade.
Isto deve-se à plasticidade, a redundância das funções cerebrais explicam o facto de outras regiões do cérebro poderem substituir as lesadas.
Podemos então concluir que o cérebro funciona de uma forma sistémica: é um conjunto complexo de elementos em que as componentes especializadas que o constituem são interdependentes., funcionam de forma integrada.