Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit, sed do eiusmod
Todos os trabalhos publicados foram gentilmente enviados por estudantes – se também quiseres contribuir para apoiar o nosso portal faz como o(a) Rui Parreira e envia também os teus trabalhos, resumos e apontamentos para o nosso mail: geral@notapositiva.com.
Ficha de Leitura sobre a obra de Ilse LosaTítulo, «O Mundo em que Vivi», realizada no âmbito da disciplina de Português (10º ano)...
Nome do autor: Ilse Losa.
Título da obra: O Mundo em que Vivi.
Editor: Edições Afrontamento.
Local e data: Porto; 1987.
Ilse Losa nasceu na Alemanha, em Bauer, em 1913 acabando por falecer, muito recentemente em Portugal, no Porto, em 2006. Frequentou o liceu em Osnabrück e Hildesheim e depois um instituto comercial em Hannover. A sua qualidade de judia criou-lhe embaraços no seu país, de onde foi forçada a sair. Na Inglaterra teve os primeiros contactos com escolas infantis e com os problemas das crianças. Refugiando-se em Portugal, aqui casou, adquirindo a nacionalidade portuguesa.
A sua já variadíssima obra inclui romances, contos, crónicas, trabalhos pedagógicos e literatura para crianças. Colaborou em diversos jornais e revistas alemães e portugueses, está representada em várias antologias de autores portugueses e ela própria cooperou na organização e traduziu antologias de obras portuguesas publicadas na Alemanha. Traduziu em alemão alguns dos mais consagrados autores.
Principais Prémios/Acontecimentos
Principais Obras
Texto: Literário.
Género Literário: Narativo_romance.
Tema:
Este romance de Ilse Losa, publicado em 1949, evoca memórias da sua infância na Alemanha, perturbada pelos ecos de tempos difíceis, até ao momento da sua partida, deixando para trás o mundo em que viveu: amigos, familiares, ruas e casas conhecidas. A narrativa baseia-se no confronto entre o olhar ingénuo da criança, reforçado pela simplicidade linguística e a imagem de um mundo divido por motivos raciais. (Outra Época)
Resumo sintético:
Rose é narradora autodiegética de “O Mundo em que Vivi”, texto publicado em 1949. A evocação autobiográfica de Rose remonta há primeira infância, numa aldeia conturbada da Alemanha, pelos finais da Primeira Guerra Mundial, e desenvolve-se até ao segundo conflito mundial, descrevendo alguns dos momentos mais críticos desses anos difíceis, desde a crise económica e social até à ascensão do nazismo.
A memória da infância dessa menina frágil, de cabelo loiro, de feições infantilmente lisas é marcada pelo amor e admiração que tinha pelo avô “Markus”, mas também por questões sem resposta como os motivos que levam os adultos a envolverem-se em guerras.
O crescimento de Rose, é marcado pela impressão de que era uma criança diferente das outras por ser judia, mas como tantas outras na sua maneira de ser, na perspectiva que tinha acerca do Mundo que a rodeava, apenas o que a diferenciava era mesmo ser judia. Rose, sendo então uma criança como tantas outras, caracterizava-se pela sua curiosidade, imaginação, ingenuidade e sensibilidade. As crianças vêem o Mundo de uma forma muito particular, sem pensar em perigos ou dificuldades, por isso a perspectiva que têm é ingénua. A curiosidade de Rose revela-se pelo desconhecimento que tem do mundo em geral e da guerra em particular. Além disso, é muito curiosa, querendo conhecer os membros da família que vê nos álbuns, tentando também perceber por que razão não usa meias como as dos colegas ou qual o problema de ser judia, entre outros aspectos.
A sensibilidade de Rose está intimamente ligada aos seus avós, tendo dois irmãos, que não viviam com ela mas com os seus pais (“Bruno” e “Rudi”). A relação que estabelece com eles é diferente. Para ela, o avô é uma figura terna, paterna, que lhe dá força e ânimo, que lhe dá mimos, que lhe faz surpresas, ou seja, o avô é o adulto que mais importância tem na sua vida. Verifica-se que tem uma dependência afectiva do seu avô. O avô para Rose representa conforto. Por outro lado, Rose associa a avó “Ester” à figura de autoridade pois ela é bastante rigorosa, é ela que castiga e que repreende, sendo por essa razão que Rose age com timidez muitas das vezes que fala sobre algo ou em algumas circunstâncias em que se relaciona com a avó.
Todavia, a sua vida é marcada pela diferença. Rose não vive com os pais, a família é afectada pela guerra e, acima de tudo, pelo facto de ser judia. A religião desempenha um papel fundamental na sua vida devido às regras e princípios que ela e os avós têm de seguir. Congregam-se numa igreja diferente (sinagoga), o dia do culto religioso é o sábado (sabat) e há vários rituais que têm de cumprir.
Rose vivia numa aldeia bastante pequena, tão pequena que nem sequer estava assinalada no mapa. Comparando-a com Nova Iorque onde os seus tios viviam (tia “Jertrud” e tio “Josef”), era como uma mosca em relação com um elefante: era insignificante. Tinha apenas três ruas principais.
O espaço atrás da casa continha pereiras, macieiras e entre elas um poço onde vivia a ninfa “Raquel” amaldiçoada por “Stefanie Kahn”. Ao lado do poço havia um lavadouro onde a avó de Rose lavava a roupa às quartas-feiras, e por detrás do lavadouro, havia um salgueiro com os ramos pendentes sobre o ribeiro, sendo aí o lugar preferido de Rose.
Rose imaginava Kaiser, num castelo azul, numa sala azul, com mobília azul, no seu trono azul segurando um ramo de miosótis e, por isso, ela não conseguia associa-lo a guerras. Mas pouco tempo depois, passou a vê-lo como um fugitivo, no seu cavalo preto, galopando por florestas negras, sendo extremamente fácil de o associar a prantos e matanças, devido à sua face torcida e desfigurada.
Rose via as guerras como jogos para onde os soldados eram obrigados a ir, onde se podia matar sem se ser castigado. Mais tarde, ainda reforçou mais a ideia que já tinha anteriormente, associando as guerras a um jogo por se poder ganhar ou perder.
O pai de Rose estava doente, conseguindo a doença do pai “Leo” quebrar a dificuldade de comunicação, a tristeza dominava-a por completo. Havia falta de amor entre Rose e os seus pais (pai “Leo” e mãe “Selma”), tendo em conta que passou a maioria da sua infância com os seus avós, estando muito ligada a eles. Não tinha muita intimidade com o pai embora ele lhe “comprasse o carinho”: o pai de Rose comprava presentes para os seus filhos para compensar o tempo perdido no seu trabalho.
Mais tarde, após a morte dos avós, do pai e de outros familiares e amigos, desfeito o sonho de poder tirar um curso, tendo em conta que as suas qualidades financeiras não o permitiam, Rose vai trabalhar para Berlim, onde consegue uma colocação modesta numa companhia de seguros, mantendo viva a lembrança daquele que foi o seu primeiro amor, “Paul”. Aceitou esse emprego para ter uma vida melhor e para a sua mãe não ter que trabalhar tanto, ajudando-a assim, a sustentar a família. É então que, ao ver-se procurada por dois polícias da G.E.S.T.A.P.O. com o objectivo de a questionarem acerca do seu chefe de trabalho, abandona assim o seu país rumo a um longo exílio da terra natal e um tempo de felicidade ensombrada, com medo de matarem ou de prenderem, devido ao facto de ser judia.
Valeu a pena ler esta obra. Fez-me reflectir sobre a vida de antigamente, sobre a ingenuidade de muitas pessoas, pois eram pessoas com uma mentalidade diferente das pessoas da nossa sociedade contemporânea. O contexto histórico e social que serve de fundo a esta obra vai condicionar algumas decisões de algumas personagens, tendo em conta que é no decorrer da Primeira Guerra Mundial. Estas personagens vão construindo a sua vida a partir da concretização de projectos. A sua religião vai influenciar as suas vidas, o facto de serem judeus e judias vai influenciar as suas crenças, os seus valores, os seus rituais e as suas formas de estar perante o Mundo que as rodeia, pois são estas potencialidades e capacidades apreendidas e interiorizadas através do modo de como se relacionam nesse determinado contexto histórico e social. Além de lhes permitir dar um sentido ao universo que as rodeia, são também importantes condicionadores do modo que as personagens têm de ver realidade, estando os seus actos/acções dependentes dos seus valores. Concluindo então, que o facto de serem judeus vai prejudicar autenticamente a inserção das personagens na sociedade em que estão inseridas, nomeadamente “Rose” que foi forçada a abandonar o seu país para que não fosse encontrada.
.