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Poema Primeiro - Análise do Poema - NotaPositiva

O teu país

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Clara Rodrigues

Escola

Colégio de São Gonçalo - Penafiel

Poema Primeiro – Análise do Poema

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Resumo do trabalho

Análise do poema "Poema Primeiro" de Fernando Pessoa, realizado no âmbito da disciplina de Português (12º ano de escolaridade)...


Análise do Poema

"Poema Primeiro"

.

Eu nunca guardei rebanhos,

Mas é como se os guardasse.

Minha alma é como um pastor,

Conhece o vento e o sol

E anda pela mão das Estações

A seguir e a olhar.

Toda a paz da Natureza sem gente

Vem sentar-se a meu lado.

Mas eu fico triste como um pôr de sol

Para a nossa imaginação,

Quando esfria no fundo da planície

E se sente a noite entrada

Como uma borboleta pela janela.

.

Mas a minha tristeza é sossego

Porque é natural e justa

E é o que deve estar na alma

Quando já pensa que existe

E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

.

Como um ruído de chocalhos

Para além da curva da estrada,

Os meus pensamentos são contentes.

Só tenho pena de saber que eles são contentes,

Porque, se o não soubesse,

Em vez de serem contentes e tristes,

Seriam alegres e contentes.

.

Pensar incomoda como andar à chuva

Quando o vento cresce e parece que chove mais.

.

Não tenho ambições nem desejos

Ser poeta não é uma ambição minha

É a minha maneira de estar sozinho.

.

E se desejo às vezes

Por imaginar, ser cordeirinho

(Ou ser o rebanho todo

Para andar espalhado por toda a encosta

A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),

.

É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,

Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz

E corre um silêncio pela erva fora.

.

Quando me sento a escrever versos

Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,

Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,

Sinto um cajado nas mãos

E vejo um recorte de mim

No cimo dum outeiro,

Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,

Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,

E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz

E quer fingir que compreende.

.

Saúdo todos os que me lerem,

Tirando-lhes o chapéu largo

Quando me vêem à minha porta

Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.

Saúdo-os e desejo-lhes sol,

E chuva, quando a chuva é precisa,

E que as suas casas tenham

Ao pé duma janela aberta

Uma cadeira predileta

Onde se sentem, lendo os meus versos.

E ao lerem os meus versos pensem

Que sou qualquer cousa natural -

Por exemplo, a árvore antiga

À sombra da qual quando crianças

Se sentavam com um baque, cansados de brincar,

E limpavam o suor da testa quente

Com a manga do bibe riscado.

.

Reflexão:

O poeta compara-se a um pastor que anda pelos campos a guardar rebanhos, neste caso, os seus rebanhos são os seus pensamentos. O sujeito poético identifica-se bastante com a natureza, pois ele afirma que anda ao ritmo das estações, compara os seus estados de espírito com momentos de natureza. Na ultima estrofe do poema o sujeito poético apresenta uma saudação de uma espécie de camponês que tira o chapéu em sinal de respeito e deseja aquilo que é mais importante para o Homem ligado à natureza. Alberto Caeiro afirma-se um poeta que exprime o desejo de abolir a consciência, isto é, o vicio de pensar, lamentando o facto de ter consciência dos seus pensamentos, enunciando repetitivamente o acto de ver, além de outras sensações



274 Visualizações 09/10/2019