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Resumo/Apontamentos sobre o Ser Humano, as diferentes concepções de homem (Wundt, Freud, Watson, Piaget, Damásio), realizado no âmbito da disciplina de Psicologia (12º ano).
Há autores que colocam, a ênfase nos processos mentais, no interior do ser humano. No âmbito destas duas perspectivas podemos situar Freud e Wundt, há uma grande diferença de concepções entre ambos, mas os dois defendem que o que é determinante no ser humano são os processos mentais que estão na base de comportamentos e atitudes.
Outros autores defendem que o ser humano se caracteriza antes de mais pelo seu comportamento, pela reacção a estímulos externos, a estímulos provenientes do meio ambiente. Watson, fundador do behaviorismo ou teoria do comportamento, defende esta perspectiva considerando que nós somos produtos do meio, das aprendizagens.
As duas concepções que referimos remetem para dois pólos opostos das dicotomias: inato/adquirido, interno/externo, individual/social.
A superação destas dicotomias conduziu a uma perspectiva integradora em que se considera que a defesa exclusiva de um dos pólos conduz a uma concepção redutora do ser humano. Piaget e Damásio são dois autores que vão privilegiar uma concepção integradora, recusando a defesa de qualquer perspectiva que exclua qualquer factor na explicação do comportamento, dos processos mentais e do desenvolvimento do ser humano. Piaget ultrapassa as dicotomias inato/adquirido, interno/externo, indivíduo/sociedade. António Damásio mostra que não faz qualquer sentido opor orgânico/psicológico, razão/emoção, processos cognitivos/processos emocionais.
Wilhelm Wundt, nasceu em 1832, na Alemanha. Aos 19 anos, entra na universidade, tendo-se formado em Medicina na Universidade de Heidelberg. No decorrer do curso compreende que o seu interesse não é propriamente a medicina e especializa-se em fisiologia.
Entre 1858 e 1862, publica a obra Contributos para uma Teorias das Percepções Sensoriais, onde usa pela primeira vez a designação de «psicologia experimental».
Tomando como modelo as ciências experimentais, como a física e a química, propõe-se constituir a psicologia como uma nova área da ciência objectiva e experimental. Neste sentido, fundou em Leipzing um laboratório, que designa por Instituto de Psicologia Experimental, em 1879, procurando seguir o modelo dos laboratórios de outras ciências, designadamente as técnicas utilizadas pelos fisiologistas.
Organiza as suas aulas numa obra, que publica em 1874, Princípios de Psicologia Fisiológica, considerada por muitos a sua obra fundamental, dado que é nela que estabelece os princípios da psicologia como ciência experimental independente.
Orientou a sua escrita para várias áreas: ética, lógica e filosofia sistemática. Durante 10 anos, dedicou-se a uma área da psicologia de que é também o primeiro investigador sistemático: a psicologia cultural. Numa obra monumental, constituída por 10 volumes – Psicologia Cultural -, abordou o desenvolvimento do pensamento humano manifestado na linguagem, nos mitos, nas artes, nos costumes, nas leis, na moral. Defendeu uma concepção, ainda hoje vigente, segundo a qual o desenvolvimento dos processos cognitivos está muito influenciado pelas condicionantes sociais.
O objectivo do estudo de Wundt era:
Partilhava a convicção de que a consciência era constituída por várias partes distintas e que se deveria recorrer à análise dos elementos mais simples. Para ele, “a primeira etapa da investigação de um facto deve ser uma descrição dos elementos individuais (…) dos quais consiste”. Para Wundt, os elementos da consciência não eram estáticos: a consciência tinha um papel activo na organização do seu próprio conteúdo.
O autor considerava que era compatível o reconhecimento dos elementos simples da consciência e a afirmação de que a mente consciente tem capacidade para proceder a uma síntese desses elementos em processos cognitivos de nível mais elevado.
Os elementos simples constitutivos da consciência eram as sensações e os sentimentos. As sensações ocorrem sempre que um órgão dos sentidos é estimulado e esta informação é enviada ao cérebro. Seria possível estudar-se de forma rigorosa a sensação estabelecendo a sua intensidade, modalidade do sentido (visual, auditivo, etc.) e a sua duração.
O sentimento é a componente subjectiva da sensação; são as qualidades que acompanham as sensações e que não fazem parte do estímulo. Assim, uma sensação pode ser acompanhada de um sentimento de prazer/desprazer, de excitação/depressão e de relaxamento/tensão.
E de notar que o sentimento subjectivo acontece ao mesmo tempo que as sensações físicas provocadas pelos estímulos físicos sonoros. A emoção seria constituída por um conjunto complexo de sentimentos.
Todos os processos psicológicos podem, segundo Wundt, ser descritos como passagens de elementos mais simples aos mais complexos: é um processo progressivo de complexidade em que, partindo de elementos simples como as sensações, a consciência, no seu processo criativo de organização – produzir ideias.
Exemplo: quando percepcionamos uma casa apercebemo-la como uma unidade, um todo, e não como uma somo de elementos que podem ser estudados num laboratório.
Para explicar esta experiência consciente unificada, Wundt recorre ao conceito de apercepção: processo de organização dos elementos mentais que formam uma unidade, uma síntese criativa. Esta unidade não é a soma dos elementos constitutivos, mas uma combinação que gera novas propriedades e características. Wundt afirma: “todo o composto psíquico é dotado de características que e modo algum consistem na mera soma das características das partes”.
Para conhecer os elementos constitutivos da consciência, Wundt utiliza como método a introspecção controlada: só o sujeito que vive a experiência é que pode descrevê-la, fazendo a auto-análise dos seus estados psicológicos em condições experimentais.
Wundt definia as condições experimentais em que decorria a descrição das experiências interiores, dos estados subjectivos provocados pelos estímulos que poderiam ser visuais, auditivos ou tácteis. Os observadores treinadores eram alunos ou psicólogos que trabalhavam com o autor, que exigia um grande rigor nas descrições, que seriam quantificadas. Antes de se submeterem À introspecção controlada, isto é, experimental, teriam de ter feito cerca de 10 000 auto-análises individuais.
Assim, a introspecção era uma percepção interna que dava a possibilidade de aceder aos elementos básicos para se conhecer a consciência. Que é o objecto da psicologia. As outras ciências recorriam à percepção externa para obterem dados sobre o seu objecto de estudo, que é a realidade. O objecto da introspecção é o próprio sujeito, enquanto o objecto das observações que se fazem nas outras ciências é o real exterior ao sujeito.
Contudo, a introspecção controlada só dava a conhecer os elementos básicos da consciência, as sensações e as percepções; os processos mentais complexos, não poderiam ser estudados experimentalmente, tendo de se recorrer a metodologias qualitativas.
Wundt demarcou-se do pensamento da época procurando autonomizar a psicologia da filosofia. Nesse sentido, definiu um objecto (a consciência) e um método de investigação (introspecção controlada) com a finalidade de dar um estatuto de ciência à psicologia. Procurou desenvolver uma teoria sobre o mundo interno a sua fundamentação nas investigações das neurociências contemporâneas.
Freud nasceu na Morávia. Formou-se em Medicina na Universidade de Viena, em 1881, e desenvolveu e desenvolveu trabalhos experimentais em biologia e fisiologia. Paralelamente interessava-se pelos clássicos gregos e latinos e pela literatura europeia.
Durante cerca de um ano (1885-1886) estudou em Paris, com o professor Jean Charcot, que recorria à hipnose para tratar a histeria. Na época dominava a convicção de que a histeria era uma perturbação exclusivamente feminina. Manifestava-se por um conjunto de sintomas orgânicos, como paralisias, desmaios, perdas de memória, da fala, cegueira, etc., mas que não tinham origem no sistema nervosa. São as experiências com Charcot que levam Freud a pôr a hipótese da existência do inconsciente, isto é, de uma instância do psiquismo que se desconhece.
Esta hipótese é aprofundada com o trabalho que vai desenvolver com Breur, que recorria à hipnose como terapia para os sintomas histéricos. Os dois consideram que a causa das perturbações teria de ser procurada no inconsciente do doente, onde estavam retidas recordações traumáticas. O carácter penoso dessas lembranças reprimidas impedia que se pudessem exprimir, manifestando-se em perturbações orgânicas.
Freud abandona a actividade por considerar que a hipnose não era o melhor método para a cura, os resultados positivos eram pouco duráveis. Sozinho, vai desenvolver um conjunto de concepções que vão constituir uma teoria sobre o psiquismo humano e uma técnica terapêutica: a psicanálise.
A experiência com Charcot e sobretudo com Breuner leva Freud a concluir que não é possível compreender muitos aspectos do comportamento humano, designadamente certas patologias, se só se admitisse a existência do consciente. A ideia de que o ser humano é racional e que através da introspecção conheceria o fundamental de si próprio – a consciência – vai ser negada por Freud. Para se compreender o ser humano, tem de ser admitir a existência do inconsciente, que define como uma zona do psiquismo constituída por:
Freud apresenta em dois momentos duas interpretações do psiquismo da mente humana:
Na primeira tópica recorre à imagem do icebergue: o consciente corresponde à parte visível, enquanto o inconsciente corresponde à parte invisível, submersa, do icebergue. O inconsciente é uma zona do psiquismo muito maior por comparação com o consciente e exerce uma forte influência no comportamento. Ao consciente, constituído por imagens, ideias, recordações, pensamentos, é possível aceder através da auto-análise, tendem a tornar-se conscientes. O recalcamento é um mecanismo de defesa que desenvolve ao inconsciente os materiais que procuram tornar-se consciente.
Icebergue | |
Consciente (parte visível) | Inconsciente (parte submersa) |
. Raciocínio . Percepções . Pensamentos |
. Memória . Fantasias . Lembranças . Recalcamentos . Desejos . Pulsões agressivas . Pulsões inatas . Medos |
A partir de 1920, apresenta a segunda tópica sobre a estruturação do psiquismo, que é constituído por três instâncias:
O Id é a zona inconsciente, primitiva, instintiva, a partir da qual se formam o ego e o superego. Existe desde o nascimento e é constituído por pulsões, instintivos e desejos completamente desconhecidos. «O id desconhece o julgamento de valores, o bem e o mal, a moralidade». Rege-se pelo princípio do prazer, que tem como objectivo a realização, a satisfação imediata dos desejos e pulsões. Grande parte destes desejos é de natureza sexual. O id é o reservatório da libido, energia das pulsões sexuais.
O ego é a zona fundamentalmente consciente, que se forma a partir do id. Rege-se pelo princípio da realidade, orientando-se por princípios lógicos e decidindo quais os desejos e impulsos do id que podem ser realizados. É o mediador entre as pulsões inconscientes e as exigências, do mundo real. Forma-se durante o primeiro ano de vida.
O superego é a zona do psiquismo que corresponde À interiorização das normas. Resulta do processo de socialização, da interiorização de modelos como os pais, professores e outros adultos. É a componente ética e moral do psiquismo. Pressiona o ego para controlar o id. Forma-se entre os 3 e os 5 anos.
Freud conclui que muitos dos sintomas por eles apresentados eram manifestações de conflitos psíquicos relacionados com a sexualidade, sujeita à repressão. Muitos desses conflitos remetiam para experiências traumáticas vividas na infância e recalcadas no inconsciente. O reconhecimento da importância da sexualidade na vida psíquica humana e a afirmação da existência de uma sexualidade infantil vão provocar um enorme escândalo. Freud esclarece que a sexualidade não pode ser associada à genitalidade, antes corresponde ao prazer que tem origem no corpo e que suprime a tensão.
Para o fundador da psicanálise, o desenvolvimento da personalidade processa-se numa sequência de estágios psicossexuais.
A cada estágio psicossexual corresponde uma determinada zona erógena. Aos diferentes estágios do desenvolvimento correspondem conflitos psicossexuais específicos.
Estágio oral – decorre do nascimento até cerca dos 12/18 meses. A zona erógena é a boca: o bebé obtém o prazer ao mamar, ao levar objectos à boca, bem como através de estimulações corporais. O desmame corresponde a um dos primeiros conflitos vividos. É neste estágio que o ego de forma.
Estágio anal – decorre dos 12/18 meses aos 2/3 anos, e a zona erógena é a região anal. A criança obtém prazer pela estimulação do ânus e expulsar as fezes. É nesta fase que se faz a educação para a higiene, relativamente À qual a criança ou cede ou se opõe ao cumprimento das regras.
Estádio fálico – decorre dos 3 aos 5/6 anos. a zona erógena é a região genital: os órgãos sexuais são estimulados pela criança, que assim obtém prazer. A curiosidade sobre as diferenças sexuais é grande. É neste estágio que surge o complexo de Édipo, que consiste na atracção da criança pelo progenitor do sexo oposto e agressividade para com o progenitor do mesmo sexo. É com este, que surge como modelo, que ela se vai identificar. A identificação leva a criança a adoptar os seus comportamentos, valores e atitudes. É a sua interiorização que conduz À formação do superego. É através do processo de identificação que se supera o complexo de Édipo.
Estágio de latência – decorre dos 5/6 anos até à puberdade. Este período é caracterizado por uma aparente atenuante da actividade sexual. Ocorria a amnésia infantil: a criança reprime no inconsciente as experiências que a perturbam no estágio fálico. A criança investe a sua energia nas actividades escolares.
Estádio genital – a partir da puberdade. Há uma activação da sexualidade que esteve latente no período anterior. É neste estádio que há uma reactivação do complexo de Édipo. O processo de autonomia relativamente aos pais passa por os encarar de forma mais realista (luto das imagens idealizadas dos pais que caracterizam os estádios anteriores). O prazer sexual envolve todo o corpo, integrando todas as zonas erógenas.
Freud considera a necessidade de constituir um método próprio. Aplica o método clínico adaptando um conjunto de técnicas que permitiriam trazer ao consciente as causas não conhecidas dos pacientes. O psicanalista, na sua prática terapêutica, recorre a alguns procedimentos ou técnicas próprias:
Associações livres – o psicanalista pede ao analisando que diga tudo o que sente e pensa. É no decorrer deste procedimento que se manifestam resistências, desejos, recordações e recalcamentos inconscientes que o analista procurará identificar e interpretar.
Interpretação dos sonhos – o psicanalista pede ao analisando que lhe relate os sonhos. Segundo Freud, o sonho seria a realização simbólica de desejos recalcados. Freud distingue o conteúdo manifesto do sonho (o que é lembrado, o que e consciente) e o conteúdo latente (os desejos, medos, recalcamentos que estão subjacentes)
Análise da transferência – o psicanalista analisa e interpreta os dados do processo de transferência. A transferência é um processo em que o analisado transfere para o psicanalista os sentimentos de amor/ódio vividos na infância, sobretudo relativamente aos pais.
Análise dos actos falhados – o psicanalista procura interpretar os esquecimentos, lapsos e erros de linguagem, leitura ou audição do analisando. Segundo Freud, estes erros involuntários manifestariam desejos recalcados no inconsciente e que irromperiam na vida quotidiana.
“O tratamento do psicanalista não comporta senão troca de palavras entre o analisando e o médico. O paciente fala, conta os acontecimentos da sua vida passada e as suas emoções. O médico esforça-se por dirigir a marcha das ideias do paciente, desperta recordações, orienta a sua atenção em certos sentidos, dá-lhe explicações e observa as reacções de compreensão ou incompreensão que provoca no doente. (…) Com palavras um Homem pode tornar-se o seu semelhante feliz ou levá-lo ao desespero, e é com a ajuda das palavras que o mestre transmite o seu saber aos alunos, que o orador empolga os auditores e determina os seus juízos e decisões.”
Freud
É Freud quem reconhece três grandes revoluções na forma de encarar o ser humano:
Com Freud, abre-se uma nova perspectiva que nada tem a ver com a psicologia, que reduz o ser humano a uma fórmula de comportamento estímulo – resposta. É dominado desde o nascimento por pulsões (sobretudo de carácter sexual), vivendo conflitos que se manifestam no comportamento da importância da vida afectiva, no desenvolvimento cognitivo e social.
A preocupação central de Watson foi desmarcar-se da psicologia tradicional, que tinha por objecto o estudo da mente, da consciência, através da introspecção. Declara a necessidade de a psicologia se constituir como ciência autónoma e objectiva. Embora não negando os estados mentais e a consciência, considera que não se podem constituir como objecto de estudo da psicologia, são constituintes da vida pessoal.
“A psicologia como a vê o comportamentalista é um ramo puramente objectivo das ciências naturais. A sua finalidade teórica é a previsão e o controlo do comportamento. (…) Creio que podemos escrever uma psicologia (…) recorrendo a termos como estímulo e resposta, formação e integração de hábitos e aprendizagem. A psicologia que eu pretendo elaborar toma como ponto de partida o facto observável (…).”
Watson
E vai ser em termos de estímulo – resposta que Watson orienta a sua concepção: para ter o estatuto de ciência rigorosa e objectiva, a psicologia terá de definir como objecto de estudo o comportamento.
O comportamento é: O conjunto de respostas (R) de um individuo a um estímulo (E) ou a um conjunto de estímulos (situação)
R = f(S)
O objectivo desta corrente é estabelecer as relações entre estímulos e as respostas, entre causas e efeitos. O comportamento é o conjunto de respostas determinadas pela situação do meio físico ou social. Pode ir desde um simples acto reflexo, como afastar a mãe de uma agulha, a actos mais complexos.
Segundo o processo de investigação das outras ciências, preconiza que se parta da análise dos comportamentos mais simples para se entender os mais complexos. O esquema estímulo – resposta pode ser aplicado a todo o comportamento.
Cabe à psicologia observar, quantificar, descrever o comportamento enquanto relação causa efeito, mas nunca interpretá-lo. O caso da psicologia o objectivo seria enunciar leis (Leis do comportamento) a partir do estudo da variação das respostas em função dos estímulos.
“Dêem-me uma dúzia de crianças sadias, bem constituídas, e a espécie de mundo que preciso para as educar, e eu garanto que, tomando qualquer uma delas ao acaso, prepará-la-ei para se tornar um especialista que eu seleccione: um médico, um comerciante, um advogado e, sim, até um pedinte ou ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações, tendências, aptidões, assim como da profissão e da raça dos seus ancestrais.”
Watson
Uma ideia central do behaviorismo decorre da sua concepção de ser humano: uma página em branco inicial que o meio e a educação vão moldar. A importância decisiva dos factores do meio no desenvolvimento da criança, para os behavioristas, está claramente reflectida nas afirmações de Watson que acima foi referido.
Os comportamentos são, portanto, aprendizagens condicionadas pelo meio onde nos encontramos inseridos; o comportamento humano é produto de associações de uma resposta (R) a um estímulo (E) ou um conjunto de estímulos (S – situação).
Com uma experiencia feita com uma criança, o autor conclui que grande parte das respostas dos seres humanos são resultado de aprendizagens condicionadas do meio.
Rejeita qualquer ideia de transmissão hereditária de uma aptidão ou qualidade de carácter. O meio constrói o ser humano, daí a importância da educação.
Watson recorre ao Método experimental. Define uma amostra da população dividindo-a em dois grupos. No grupo experimental faz variar o factor que considera responsável pelo comportamento. No grupo de controlo não há qualquer intervenção. O comportamento dos dois grupos é depois comparado. Se se concluir que a variável que se manipulou modifica o comportamento, e depois de confirmado por outras experiências, faz-se a generalização para a população.
Para o autor, só o método experimental asseguraria o carácter científico À psicologia liberta de métodos qualitativos e subjectivos.
A importância do papel de Watson na história da psicologia é indiscutível. Rompe com as concepções dominantes na época e adopta um modelo de investigação e de interpretação que visa dotar a psicologia com o estatuto de ciência objectiva. A necessidade de ruptura leva-o à defesa de uma concepção de comportamento limitada. Confinando o comportamento humano à formula estímulo – resposta, afastou do estuda ad psicologia os processos mentais e os comportamentos mais complexos.
Apesar destas reservas, Watson foi bastante importante, sendo depois seguido por Hull e Skinner. Vão pôr em causa o reducionismo behaviorista, criticando sobretudo o facto de não ter tido em conta os estados mentais e as representações mentais e de ter remetido a psicologia apenas para o estudo dos comportamentos observáveis.
Ao considerar que o ser humano é resultado de processos de aprendizagem, deu grande ênfase à influência do meio, à prevalência dos factores adquiridos sobre os factores inatos. Nesse sentido, achava decisivo para o progresso do ser humano as reformas sociais.
A psicologia está dominada por duas correntes que se opõem:
Piaget vai afastar-se das posições extremadas das duas correntes, propondo um novo modelo explicativo: o sujeito constrói os seus conhecimentos pelas suas próprias acções.
Piaget defende uma posição interaccionista: o sujeito é um elemento decisivo nas mudanças que ocorrem nas estruturas do conhecimento, da inteligência. Assim, o conhecimento depende da interacção entre as estruturas inatas do sujeito e os dados provenientes do meio.
Este processo interactivo desenvolve-se por etapas, que Piaget designa de estágios de desenvolvimento. Esta concepção construtivista e interaccionista do autor supera a dicotomia inato/adquirido que marca a história do pensamento.
Para Piaget era importante entender como a inteligência se desenvolve para conseguir entender o comportamento humano.
O ser humano manifesta-se através da inteligência. Onde tem origem? Como se desenvolve?
Para compreender a inteligência humana, o autor desenvolve cinco conceitos.
Esquemas – por esquemas entende o autor conjunto de acções executadas pelo ser humano, sejam elas físicas (apreensão, sucção, mobilidade motora, etc.) ou intelectuais (comparar, medir, organizar, etc.)
Adaptação – para nos adaptarmos ao mundo exterior, para pudermos desenvolver os nossos esquemas teremos de encontrar forma de adaptar os nossos esquemas internos à informação exterior. Isto é a adaptação do nosso comportamento.
Assimilação – este conceito explica a forma como integramos o nosso conhecimento que constantemente provêm dos dados exteriores integrando-os nos esquemas previamente desenvolvidos.
Acomodação – processo que explica a forma como o nosso organismo (estruturas mentais) se modifica para acolher novas informações e para formar novos esquemas.
Equilibração – sempre que integramos novas informações através da assimilação e procuramos acomodá-las às nossas estruturas. Desejamos o equilíbrio entre ambas.
Exemplo: uma criança de dois anos não conseguirá assimilar informação própria para uma criança de 7/8 anos porque as suas estruturas mentais ainda não estão preparadas ou desenvolvidas para acomodar essa informação. Assim não vale a pena estimular exageradamente uma criança porque ela entra em desequilíbrios entre aquilo que querem que ela assimile e aquilo que ela consegue acomodar.
A criança nasce com alguns esquemas (mentais e físicos) e a partir daí, pela interacção com o meio (assimila) vai acomodar e desenvolver em cada fase, o seu conhecimento (de forma equilibrada).
Piaget diz haver quatro estágios do desenvolvimento da inteligência (cognitiva) da criança/individuo.
Período sensório – motor: este período desenvolve-se entre os 0 anos e os 2 anos. É caracterizado pelo desenvolvimento da inteligência prática. O bebe já nasce com esquemas de conhecimento, a partir dos quais constrói a sua inteligência futura. A aprendizagem mais importante desta fase prende-se com locomoção, o equilíbrio motor. Ao mesmo tempo a criança, que é o centro do mundo, descobre que os objectos permanecem quando os escondemos.
Período pré – operatório: entre os 2 anos até aos 6/7anos. Nesta fase a criança desenvolve a sua função simbólica (reprodução do mundo através de símbolos, desenhos, alfabeto, sons, música). Ao mesmo tempo ela permanece encerrada no seu próprio ego e constitui um universo pessoas baseado na fantasia e imaginação no qual ela é personagem principal. Este período volta na adolescência.
Período das operações concretas: entre os 6/7 anos até aos 11/12 anos. Nesta fase nós temos o desenvolvimento das operações mentais ligadas ao cálculo lógico matemático, porém ainda aplicadas aos objectos seus conhecidos, ao mundo concreto que a rodeia. A criança já tem a noção da conservação do peso, volume e da matéria, consegue classificar e fazer séries numéricas sobre o mundo que a rodeia, e em termos de personalidade, ela começa a descentrar-se, isto é, estabelece relações de empatia/simpatia com o mundo que a rodeia.
Período das operações formais: entre os 11t/12 anos até ao final da vida, sendo que entre os 11/12 anos e os 16 anos temos um maior número de operações com estas características a acontecer. Este estágio é caracterizado pelo desenvolvimento do pensamento abstracto, o individuo apresenta boa compreensão do sistema lógico e formal, argumenta e raciocina sobre ideias, desenvolve teorias próprias de forma sistemática e organizada. O seu egocentrismo é de natureza intelectual, o que faz com que se julgue dono da verdade, capaz de solucionar todos os problemas.
Objectivo: procura compreender a mente a partir do funcionamento do cérebro.
António Damásio defende que o comportamento humano não é baseado exclusivamente no uso da razão, nem na manifestação pura da inteligência. Ele vai descobrir que sem emoções não há razão que nos valha e que toda a inteligência é emocional, isto é, António Damásio vais desenvolver a inteligência emocional e superar a inteligência cognitiva.
Como é que António Damásio chega a esta conclusão?
António Damásio descobriu, através dos seus estudos da mente, que as emoções serviam como marcadores das experiências diárias, sem as quais a compreensão dos fenómenos ficaria incompleta.
Damásio estudou o caso de Phineas Gage (anexo 1) , através de técnicas de imagiologia cerebral, reconstituiu a situação da autópsia: a trajectória da barra de ferro e as lesões provocadas no cérebro de Gage. É a relação entre o reconhecimento das lesões e o efeito no comportamento que leva a equipa de Damásio a investigar situações semelhantes nos seus doentes. Estudaram, sobretudo, o modo como as emoções afectavam as áreas do cérebro ligadas às decisões. É a partir do estudo aprofundado destes casos e baseado em experiências laboratoriais que Damásio elabora a sua teoria.
Ao percepcionar o mundo exterior, eu recolho dois tipos de informação:
Exemplo:
Ao observar um cão que se comporta de forma agressiva, eu estou a recolher uma representação cognitiva que inclui duas informações: a informação que resulta da percepção externa (o cão com ar feroz) e a informação emocional interna (o medo face ao cão). Isto é, ficam associadas à nossa mente as duas informações, que serão utilizadas numa situação diferente.
“Quando o marcador somático negativo é justaposto a um resultado futuro, a combinação funciona como uma campainha de alarme. Quando, ao invés, é justaposto um marcador somático positivo, o resultado é um incentivo”.
António Damásio
As emoções são instrumentos para avaliar o meio, as situações e agirmos de forma adaptativa. Quando, por alguma razão, eu não consigo ligar as emoções às reacções começo a cometer erros de inadaptação à realidade, como por exemplo, haver um tsunami e em vez de fugir, ficar na praia a ver.
“A emoção e o sentimento desempenham um papel no raciocínio e esse papel é geralmente benéfico. (…) Quer a emoção responda a um estímulo escolhido pela evolução, tal como acontece no caso da simpatia, ou a um estímulo aprendido individualmente, tal como acontece no medo que podemos ter adquirido em relação a um certo objecto, como consequência de o termos associado a um estímulo de medo primário, o facto é que as emoções, positivas ou negativas, bem como os sentimentos que se lhe seguem, se tornam componentes obrigatórios das nossas experiências sociais.
(…) Dou especial valor às emoções e aos sentimentos ligados às consequências futuras das decisões visto que eles constituem uma antecipação da consequência das acções, uma espécie de previsão do futuro.
(…) É importante notar que o sinal emocional não é um substituto do raciocínio. O sinal emocional tem um papel auxiliar. Aumenta a eficiência do raciocínio e aumenta também a sua rapidez.”
António Damásio
Esta teoria defende que o que fazemos e o modo como reagimos envolve um conjunto de processos complexos não observáveis (tendo algumas ideias baseadas no behaviorista).
A mente trataria a informação armazenada depois de recolhida no meio ambiente. O modo de recolher, processar e transformar a informação, é próximo do funcionamento dos computadores: o cérebro corresponderia ao hardware e os processos mentais ao software.
Dada a comparação entre a maneira de funcionar da mente e um computador esta teoria é chamada modelo de mente computacional. Este movimento designado, por muitos, revolução cognitiva, tem como objecto de estudo os processos cognitivos que orientam o comportamento.
Jerome Bruner foi um dos impulsionadores da corrente cognitivista:
“A revolução [cognitivista] pretendeu trazer a “mente” de volta para as ciências humanas, depois de um longo inverno de objectivismo”
Jerome Bruner
Com esta frase Bruner critica o behaviorismo.
Bruner considerou que o modelo computacional era limitado e redutor, não reflectindo a complexidade e plasticidade da mente humana, isto é, o desenvolvimento da mente está ligada à construção de significados pelos seres humanos na sua relação com o meio. Estes significados nada têm a ver com o modo informático de processamento da informação: neste processo a mente é criativa, produz sentido, é pessoal e subjectiva.
A esta nova corrente chamou-se psicologia cultural, isto é, passa a considerar-se como objecto de estudo o sentido e significado que cada pessoa dá às experiencias que lhe acontecem, assim bem como a interpretação e o significado que cada cultural dá a esses mesmos acontecimentos.
A pertença a um dado grupo social marca a forma de uma pessoa pensar e de se comportar e por isso não podemos compreender os processos cognitivos sem termos em conta o factor cultural. Tomemos por um exemplo simples: se vês alguém a baixar o olhar quando fala com uma pessoa mais velha, podes pensar que se trata de alguém envergonhado ou que tenta esconder algo. Noutras culturas, a interpretação mais adequada será a de um comportamento de deferência e respeito devido aos mais velhos. Isto é, o comportamento “baixar os olhos” tem significados diferentes em diferentes contextos.
Os significados são construções produzidas para explicar como é que os seres humanos funcionam e como e que se relacionam uns com os outros, por que razões se comportam de determinada maneira, como encaram os problemas, etc. Estes conteúdos são adquiridos no processo de socialização numa dada sociedade, numa determinada cultura. Variam, portanto, de sociedade para sociedade, porque dependem das práticas sociais e das instituições.
Em conclusão, a psicologia cultural é uma teoria da mente que procura conhecer o processo de produção de significados, estes estão ligados a um dado contexto cultural o que leva Bruner a afirmar que a “cultura molda a mente”.
Segundo Bruner, as culturas produzem um conjunto de narrativas que organizam as experiências, que descrevem um modo padronizado de pensar os comportamentos, as motivações, as intenções. As diferentes narrativas têm origem nas dinâmicas sociais.
Bruner considera a narrativa como o elemento de ligação entre o nosso “eu” e o mundo social, o que sugere que têm a mesma origem.
A construção de identidade depende de três factores:
O Eu começa a construir-se socialmente logo nos primeiros seis meses de vida.
Quando nos apresentamos costumamos fazer uma descrição objectiva de nós próprios, como o nome, idade e interesses. É a partir de estas situações/descrições que contamos a nossa história.
Uma memória é algo que está impresso em mim, são emoções fortes, é algo que eu senti, e por isso me recordo do acontecimento.
Existem três tipos de memórias que utilizamos quando estamos a contar a narrativa da nossa existência:
A construção da identidade passa pela narração (história com significado sobre a minha vida que conto a mim mesmo ou aos outros.
Nas nossas narrativas entrelaçam-se significados pessoais (reflectindo o sujeito que as narra) e significados socioculturais (reflectindo o que o grupo social partilha). As narrativas estruturam as identidades quer a individual quer a social, sendo por isso, imprescindível para quem pretende estudar a mente.
Uma das contribuições para a consideração das narrativas para a compreensão dos processos de construção das identidades é que as coloca numa permanente negociação entre as pessoas, liga as identidades ao mundo ( aos contextos, às situações e às relações) e permite compreender a forma como são sempre mudança e coerência.
As identidades das pessoas dependem sempre da capacidade humana de construir e reconstituir significado no mundo, de organizar as experiências e as acções de forma integrada e com sentido.
Porque que é que as histórias culturais têm estas características?
Estas histórias culturais não serviam para dizer o que é bem ou mau, mas sim para entender as crianças.
Ex.:
Para as crianças existem dois tipos de mães. A mãe boa, que garante segurança, conforto, dá mimos e protecção ao filho. Este tipo de mãe nas histórias culturais é associada “á mãe”. O outro tipo de mãe, a mãe má, que é a que impões limites, está associada à ideia de madrasta, como se fosse uma pessoa estranha que entrou em casa e afectou o dia-a-dia da criança (complexo de eléctra, pois quer que a mãe “desapareça”).
As crianças têm fortes instintos de agressividade, ansiendades de separação, ciúmes fraternos (que hipotesiam a morte do irmão/irmã), desejos desmedidos, reacções exageradas (medos, isto tudo são, conflitos internos que a criança tem.
Ex:
Hansel e Gretta: a casinha de chocolate simboliza o medo de não terem comida para se alimentarem.
As crianças recalcam os sentimentos para poderem conviver em sociendade.
Para Bettelheim, as histórias servem para as crianças perceberem que existem outras como elas, isto é, as histórias manifestam aquilo que a criança é.
Ex:
Quando existe a “morte” dos pais nas histórias cultural, isto simboliza o afastamento dos pais, quer seja por 1 hora ou 5.
Capuchinho Vermelho: A criança da história já corresponde a uma criança mais velha, pois leva o lanche á avó sem o comer (ao contrário do que acontece com Hansel e Gretta que ao verem a casinha de chocolate, começam a devorar a casa). Nesta história já está simbolizado o impulso sexual, pois a Capuchinho Vermelho tem vontade de conhecer o lobo (impulso sexual), mas ao mesmo tempo tem medo deste (medo de conhecer a sexualidade).
Às 4h30m da tarde de 13 de Setembro de 1848 um grupo de operários estava dinamitando um rochedo para construir um caminho-de-ferro. Gage foi o encarregado de vazar a pólvora para dentro de um profundo buraco aberto na rocha. No momento em que ele pressionou a pólvora para o buraco, o atrito fez uma faísca, fazendo-a explodir.
A explosão resultante projectou a barra, de um metro de comprimento, contra seu crânio em alta velocidade. Esta barra entrou pela bochecha esquerda destruindo seu olho, atravessando - na sequência - a parte frontal do cérebro e saindo pelo topo do crânio, do outro lado.
Gage perdeu a consciência imediatamente e começou a ter convulsões. Porém ele a recuperou momentos depois sendo levado ao médico local - Jonh Harlow - que o socorreu.
Incrivelmente, ele estava falando e podia até caminhar. Perdeu muito sangue, mas depois de alguns problemas de infecção ele, não só sobreviveu à lesão, como também se recuperou fisicamente muito bem.
Durante três semanas a ferida foi tratada pelos médicos. Em Novembro, Gage já circulava pela vila. Mas, tornou-se o contrário do que era antes do acidente. Transformou-se num homem de mau génio, grosseiro, desrespeitoso para com os colegas e incapaz de aceitar conselhos. Os seus planos futuristas foram abandonados e ele passou a agir sem pensar nas consequências.
A sua transformação foi tão grande que todos diziam que "Gage deixou de ser Gage". Morreu em 1861, treze anos depois deste acidente, sem dinheiro e epiléptico.
A psicologia surge, nos finais do século XX, como manifestação da necessidade de a mente se estudar a si própria de forma objectiva e rigorosa, deixando as especulações para a filosofia.
Perspectiva | Quem defendeu | Método |
Existência de processos mentais e da consciência | Wundt | Introspecção Controlada |
Existência do inconsciente (id, ego, superego) Sexualidade (5 estádios de desenvolvimento psicossexual) | Freud | Método Psicanalítico |
Behaviorismo (o comportamento é o conjunto de respostas a um conjunto de estímulos) Aprendizagem (causa-efeito) | Watson | Método Experimental |
Inteligência (4 estádios) Desenvolvimento Cognitivo | Piaget | Observação Naturalista Método Clínico |
Integração Cognitivo-emocional (marcadores somáticos; as nossas emoções e os sentimentos sustentam as nossas tomadas de decisão) | Damásio | Imagiologia Cerebral Prática Clínica |
Modelo de mente computacional | ------------ | Comparação entre a mente e um computador |
Psicologia cultural (objecto de estudo o sentido e significado que cada pessoa dá às experiencias que lhe acontecem) | Jerome Bruner | Conhecer o processo de produção de significados e o contexto cultural em que são criados |
Psicanálise dos contos de fadas | Bruno Bettelheim | Os contos de fadas são a simbolização das vidas das crianças |