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Depois de ter apresentado uma crítica à generalidade dos peixes, no capítulo 5, o Padre António Vieira enuncia os principais defeitos e vícios de alguns destes animais em particular, como intuito de os evidenciar nos homens. A última criatura marinha a ser criticada é o polvo.
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Padre António Vieira inicia o seu discurso com as principais características do polvo, começando por apresentar o que ele aparenta ser e aquilo que verdadeiramente é.
- Indo à l.771, vemos que “o polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura a mesma mansidão.” Temos aqui a presença de duas figuras de estilo:
- A comparação, uma vez que temos a substituição do termo “como” pelo termo “parece”;
- A anáfora, que se verifica pela repetição das expressões “com aquele” e “parece”.
Depois Padre António Vieira continua e diz que “debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham contestamente os dois grandes doutores da igreja Latina e Grega que o dito polvo é o maior traidor do mar.”
Vamos então analisar as características do polvo:
- O polvo parece uma estrela, a própria brandura mansidão e, por isso, aparenta ser um santo, quando na realidade ele é o contrário acabando por ser hipócrita e traidor.
Padre António Vieira utiliza como argumento de autoridade, o facto de S. Basílio e S. Ambrósio (os grandes doutores da igreja latina e grega) concordarem com ele, reforçando a sua credibilidade.
- Depois de apresentar as características e as críticas do polvo vai explicar em que consiste a traição do polvo através da comparação:
1º) (l.776) “Consiste esta traição do povo, primeiramente, em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado”, ou seja, ele muda de cor consoante o sítio onde está. Esta ideia é reforçada na l.779 - Temos aqui uma enumeração anafórica uma vez que ele enumera vários exemplos (para reforçar a ideia que apresentou antes) e é anafórica porque repete-se várias vezes a expressão “se está”.
2º) Logo a seguir comparam-se as cores do camaleão com as cores do polvo, sendo que o camaleão muda de cor para se proteger, enquanto o polvo muda de cor para atacar.
3º) O último exemplo que ele dá é Proteu, que muda de figura para se proteger (como faz o camaleão) O exemplo do camaleão e de Proteu surgem como contraste ao polvo, pois não são traidores como ele que muda de cor apenas para atacar.
Com efeito, ao dissimular-se, tomando a cor daquilo que o rodeia, o polvo engana as suas vítimas como malícia e mentira caçando-as mais facilmente.
A completa desconformidade entre aquilo que o polvo mostra ser e aquilo que é verdadeiramente faz com que os outros (os inocentes e os distraídos) sejam enganados.
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Vejamos agora a l.784.
- “Fizera mais Judas?”- Pergunta retórica
A traição é de tal forma hedionda que Padre António Vieira afirma que o polvo é pior que Judas estabelecendo a seguir um paralelismo entre eles (l.784- continuação)
- “Judas abraçou Cristo mas (foram) outros (que) O prenderam;
- O Polvo é o que abraça e mais o que prende;
- Judas com os braços fez o sinal, e o Polvo dos próprios braços faz as cordas.
Trocadilho: 1º) Literal: Judas avisou os soldados romanos onde estava Jesus
2º) Metafórico: os braços do polvo são como cordas que prendem as presas
Padre António Vieira escolhe o exemplo de judas por ser um caso conhecido pelo auditório, usando-o isso como um argumento de autoridade. _(Delectare - chamar a atenção do auditório)
Judas é o paradigma do traidor no evangelho, porque o apóstolo planeou a entrega de cristo às escuras, mas executou a traição às claras, enquanto o polvo, escurecendo a água com a sua tinta, rouba a luz à sua presa para a apanhar.
(l.789) Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor! - Apóstrofe: interpela o polvo chamando-o de “peixe aleivoso e vil”
- Exclamação:__________________________________________
- Ironia: Sabemos que Padre António Vieira está a falar aos peixes que são uma metáfora dos homens, por isso, quando interpela o polvo, critica os homens dizendo que as suas ações são piores que as de Judas.
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Depois temos a comparação das características da água com as do polvo:
Oh, que excesso tão afrontoso e tão indigno de um elemento tão puro… (água)
- Interjeição:______________________________________
- Superlativo:__________________________________
A água é caracterizada como pura, clara, cristalina, um espelho natural da Terra e do céu transparente, em que nada se pode ocultar, encobrir nem dissimular. (adjetivação valorativa)
Critica o polvo como sendo indigno de viver na água, pois como diz na l.789 é “um monstro tão dissimulado tão fingido, tão astuto, tão enganoso e tão convencidamente traidor.”
- Superlativo:_____________________________________
Na l.793 (“lá disse o Profeta”) Trata-se de um argumento de autoridade, que salienta e corrobora o que o pregador disse sobre a simbologia da água.
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Apresentado que o polvo foi o grande traidor do mar, Vieira vai virar-se para os traidores da terra, visando atingir os moradores do Maranhão e os colonos.
- São grandes as atrocidades cometidas contra os índios;
- Os colonos, disfarçados de bons samaritanos, enganam-nos e tiram-lhes tudo o que podem, inclusive a própria vida.
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Como não podia deixar de ser, Santo António aparece como antítese do polvo (l.809)
- “Mas” (conjunção adversativa que contribui para a ideia de oposição entre o Sto. António e o polvo);
- A sucessão de nomes sublinha e enaltece, de forma positiva, a atuação de Sto. António;
O capítulo acaba com uma crítica feroz aos portugueses. Padre António Vieira parte do exemplo de Santo António como sendo "o mais puro exemplar da candura, da sinceridade, da verdade, onde nunca houve dolo, fingimento ou engano" - Vieira refere a degenerescência dos valores nacionais, uma vez que, no passado, as características exemplares de Santo António eram extensivas a todo o povo português, não sendo, por isso, atributos dos santos (últimas linhas) "bastava antigamente ser português, não era necessário ser santo.”
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As críticas de Padre António Vieira aos homens do seu tempo são intemporais, pois adequam-se também ao nosso.
O grande defeito que Padre António Vieira aponta aos peixes, que podemos ver no Homem, neste capítulo, é a traição:
- Critica, através da alegoria dos peixes, a sociedade brasileira (colonos do Maranhão) do seu tempo.
- Temos como exemplo de pessoas que se aproveitam dos outros quando precisam e no fim os traem pelas costas sabendo por vezes que poderão arruinar as suas vidas.
Podemos assim dizer que os defeitos dos homens atribuídos metaforicamente aos peixes se encontram imortalizados em forma de sermão.