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Viagens na minha terra (Resumo)
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Resumo do trabalho
Viagens na minha terra
Garrett recebe um convite para fazer uma viagem e para a relatar num folhetim de jornal, o que veio a acontecer daí a sua ora ter marcas de um texto jornalístico (nomeadamente uma crónica):
- Preocupação com a atualidade e com o leitor;
- Uso de uma linguagem coloquial;
- Uso da 1º pessoa e discurso valorativo e subjetivo;
- Técnica do suspense (com a introdução da novela);
- Capítulos curtos, destinados à publicação periódica.
“Viagens na minha terra” é uma obra singular, cujo título remete para a pluralidade: conjuga-se o relato de uma viagem real (a Santarém, por ordem cronológica) e uma novela (narração da história de Joaninha, uma narrativa encaixada).
A viagem real desenvolve-se de Lisboa a Santarém; o espaço físico percorrido vai sendo descrito criticamente, tendo em conta os sentimentos e pensamentos que desperta no narrador-autor.
O Pinhal da Azambuja real em nada coincide com o local imaginado e as expectativas levam à denúncia da falta de originalidade da literatura romântica, com o desvendamento da "receita para fazer literatura original com pouco trabalho", como se o narrador quisesse que o leitor experimentasse uma desilusão semelhante à dele.
Por outro lado, a revelação dessa receita segue-se uma outra, relativamente à vida social, política e económica, que tem a ver com as manobras financeiras e a ascensão social dos especuladores.
Garrett apresenta o espaço físico onde decorre a história da “menina dos rouxinóis” – o vale de Santarém. Trata-se de um espaço paradisíaco, associado ao Éden por ser um lugar belo e harmonioso que tem um efeito benéfico no ser humano e por ser um espaço não contaminado pela sociedade, onde o homem pode reencontrar o seu laço com a Natureza no seu estado puro e original, abandonando os seus traços negativos de homem social.
A charneca ribatejana, exemplifica a paisagem romântica, o reflexo de um estado de alma, que desperta no narrador o seu espírito sonhador.
Contudo, esta paisagem romântica foi palco de um dos momentos da Guerra Civil, e esta constatação, leva o narrador à reflexão sobre a história recente da pátria, o que altera o seu estado de espírito (fica desconsolado) e, consequentemente, os sentimentos produzidos pela contemplação do cenário natural.
Assim, à frustração provocada pelo pinhal da azambuja, cuja realidade não corresponde à visão imaginada, opõe-se o maravilhamento perante a beleza pura e poderosa da charneca ribatejana e do Vale de Santarém.
Sentimento nacional
As paisagens e os espaços percorridos e observados durante o trajeto físico do viajante servem para expressar um sentimento nacional, sendo o povo enaltecido por ser o agente que garante a perpetuação dos elementos e valores genuinamente nacionais. Assim, é nas tradições, nos monumentos e no povo que se encontram e conservam os valores nacionais.
A deambulação geográfica, especialmente os passeios por Santarém, serve de pretexto para a denúncia e exemplificação da degradação da nação, que se encontra decadente, corrompida e em crise de valores.
Para ultrapassar este estado, será necessário que o país se una, que se encontre na Natureza uma pureza original, que se valorize o passado e as suas tradições num percurso de reconstrução da nação cimentado no povo.
Dimensão reflexiva e crítica
A dimensão reflexiva e crítica da obra constrói-se principalmente através da digressão, processo que consiste na interrupção da narração para formular reflexões, comentários ou juízos de valor.
No capítulo I, existe a oposição entre a cidade (espaço fechado e asfixiante) e o campo (espaço aberto e salutar) que correspondem, respetivamente à Lisboa ocidental e oriental. A 1º é desvalorizada pelo narrador por ser mais industrializada, materialista e sem identidade; a 2º é elogiada por ser pitoresca e a parte mais antiga de lisboa (o que não deixa de ser um traço romântico).
Através de duas personagens masculinas - Frei Dinis e Carlos - critica-se o Portugal Contemporâneo de Garrett - Frei Dinis encarna o velho Portugal e Carlos, combatente liberal, representa o novo Portugal e o triunfo de uma burguesia materialista (tornar-se-á deputado e barão)
Dimensão irónica
O tom irónico do narrador torna-se particularmente evidente quando são abordados criticamente aspetos ligados à sociedade e à literatura.
O capítulo V desenvolve-se com uma grande diversidade discursiva que permite, numa atitude dialogal com o leitor, que o narrador dê conta da paisagem envolvente e do seu estado de espírito perante ela, que faça a transição para o comentário crítico sobre temas literários e sociais e que ainda convoque memórias pessoais.
No capítulo XIII, exemplifica a oposição homem natural/homem social, que se relaciona com a questão do espaço (natural/social), já presente no capítulo X.
O último capítulo dá conta da necessidade de a sociedade mudar, criticando-se o materialismo vigente que vai matando a nação (o sonho com os milhões em papel-moeda/a pobreza real); os valores defendidos são ilustrados pelas estradas de pedra (representação do que é português e perene), por oposição aos caminhos de ferro (símbolo da importação estrangeira do capitalismo (representação do que é português e perene), por oposição aos caminhos de ferro (símbolo da importação estrangeira do capitalismo).
Personagens românticas (narrador, Carlos e Joaninha)
Narrador:
Considera serem os agentes da mudança do país: o povo e a aristocracia esclarecida.
- É um liberal, que participou ativamente na guerra civil e na transição de regime partidário do Liberalismo, e denúncia o seu fracasso, dado que o domínio dos Frades foi substituído pelo dos Barões e que nação se destrói por causa do materialismo dominante. Contudo o narrador mantém os seus ideais e acredita na regeneração de Portugal.
- Vai avaliando criticamente a obra em construção, os seus méritos e deméritos, e as suas próprias competências enquanto escritor.
- Tem, simbólica e metaforicamente, um duplo em Carlos, o protagonista da novela, identificando-se com ele em traços de caráter e de percurso existencial, mas dele se diferenciando por não ter renunciado aos seus ideais.
Carlos:
- Carlos é o herói romântico: trata-se uma figura de exceção, marcada pela intensidade e instabilidade afetiva;
- O seu trajeto existencial que foi definido pelo destino, mas também pelo seu caráter inconstante que faz alternar entre solicitações e apelos opostos - verdade/mentira, pureza/sensualidade, natureza/sociedade;
- Tornando-se narrador da sua própria existência, a carta que escreve a Joaninha ilustra a vertente confessionalista do romantismo e analisa a psicologia de uma personagem que é produto do seu contexto.
A relação com o Vale de Santarém, lugar equivalente ao Éden, define o estatuto e a existência dos dois primos: Carlos abandona o paraíso e o seu caráter é corrompido, transformando-se no homem social caracterizado pela inconstância; Joaninha mantém-se no Vale, dominado no seu caráter a estabilidade - dos afetos e dos valores.
Se Carlos se torna o homem social, Joaninha simboliza a própria natureza, na sua essência primordial e com os seus valores originais positivos; os seus olhos verdes representam metonimicamente essa ligação.
Carlos exemplifica o progresso social português, dado que evolui do idealismo (espiritualismo) para o materialismo; por outro lado, é a vivência social, deformadora e corruptora, que o desvia do seu ser e destino naturais.
Joaninha:
- Na sequência da descrição deslumbrada do Vale de Santarém, Joaninha vai surgindo como o ideal romântico da mulher anjo;
- Em comunhão com a natureza idealizada, Joaninha representa a espiritualidade, a serenidade, a beleza, a pureza e a felicidade;
- A confissão do Carlos leva Joaninha à loucura e à morte;
- Relaciona-se metonimicamente com o espaço natural: os atributos da beleza, da pureza, da inocência, da simplicidade aplicam-se quer a Joaninha quer à natureza.
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05/06/2019