Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit, sed do eiusmod
Todos os trabalhos publicados foram gentilmente enviados por estudantes – se também quiseres contribuir para apoiar o nosso portal faz como o(a) Luís de Sttau Monteiro e envia também os teus trabalhos, resumos e apontamentos para o nosso mail: geral@notapositiva.com.
Resumo/Apontamentos sobre a obra Felizmente Há Luar, realizado no âmbito da disciplina de Português (12º ano).
A peça inicia-se com Manuel (o mais consciente dos populares) a perguntar-se “Que posso eu fazer?” pois “Vê-se a gente livre dos franceses e zás! Cai na mão dos Ingleses!”. Isto porque após Portugal ter sofrido as invasões francesas e de ser ajudado pelos seus aliados Ingleses, foi “apunhalado” por estes e obrigado a viver sobre o seu comando.
Denota-se uma certa semelhança com a situação política vivida pelo autor, numa altura em que vivia submetido a um regime ditatorial. O autor aproveita nesta peça para criar um paralelismo histórico e para criticar o que está errado no sistema político, daí que a obra “Felizmente há luar!” tenha sido reprovada em 1962 quando escrita, já que continha uma enorme crítica aos costumes e corrupção sobrejacentes nas classes dirigentes.
Esta é uma obra que faz pensar sobre o dilema com que os portugueses se depararam, a luta contra a opressão e a injustiça.
A exclamação “Felizmente há luar!” é dita duas vezes ao longo da peça com significados diferentes e por personagens diferentes.
A primeira vez que é dita é por D. Miguel Forjaz, no Acto II, com o objectivo de tornar o castigo d’O General Gomes Freire um exemplo da luta pela liberdade e do que é ser um bom português. Assim, como estava luar a noite não estava totalmente escura mas sim conseguia-se ver o castigo de quem ousa desafiar o poder e lutar pela liberdade.
A segunda vez é dita por Matilde de Melo, no fim da peça, com um significado mais positivo, representando um incentivo à luta, o percurso da sociedade pela busca da liberdade.
A obra “Felizmente há luar!” tem dois textos: o texto principal (falas das personagens) e o texto secundário (didascália) e tem dois actos.
A peça começa com Manuel andrajosamente vestido. Pelas suas palavras (texto principal) ficamos a conhecer a situação de impotência perante o regime político que vigora em Portugal.
No texto secundário, didascália, através da descrição do modo como as personagens estão vestidas e do seu comportamento, também se conclui que aquele ambiente é um ambiente pobre e de miséria.
Manuel sente-se desanimado, impotente e revoltoso devido à situação política e de miséria que Portugal se encontra.
O nome do general Gomes Freire d’Andrade é pronunciado pela primeira vez na boca do Antigo Soldado que esteve na guerra com ele. O antigo soldado começa a contar peripécias do regimento do General e confessa que ele é “um amigo do povo!”, depois disso Manuel deixa escapar o seu pensamento e Vicente condena estas fantasias… Depois de Manuel ter exteriorizado o seu desejo todos ficam em silêncio pois sabem que foram longe demais porque a autoridade está sempre presente e sempre pronta a intervir!
Na opinião de Vicente, o General Gomes Freire é igual aos ‘outros’ e está do lado do poder e não do povo. Com a chegada dos dois polícias, Vicente confessa que o povo anda a falar demasiado em Gomes Freire e que têm que arranjar uma solução. Vicente argumenta ainda só acreditar em duas coisas: no dinheiro e na força e confessa estar a trair o povo porque quer ascender socialmente e sair da miséria em que nasceu. Na verdade os dois polícias foram dizer a Vicente que D. Miguel Forjaz queria falar com ele. Vicente fica seriamente entusiasmado com a notícia.
Na presença de D. Miguel, Vicente auto-caracteriza-se como “honesto e dedicado a el-rei”. O traidor confessa que o povo admira o General e põe nele toda a esperança possível, esperança que ele se una com o povo numa revolução para acabar com aquele clima de miséria em que o povo vive. Nesta conversa, D. Miguel incumbe Vicente de uma missão: vigiar a casa do seu primo Gomes Freire e trazer-lhe uma lista de todas as pessoas que lá entraram.
Andrade Corvo, um traidor, leva o seu ‘amigo’ Morais Sarmento até a D. Miguel. Para Beresford, Andrade Corvo é bom rapaz, bem vestido mas ignorante, mau oficial, pedreiro-livre, ambicioso, promovido através da denúncia e não por mérito.
Andrade Corvo e Morais Sarmento agem por dinheiro, uma pensão anual de 800$00 por ano.
Beresford assume que apenas continua em Portugal porque tenciona regressar a França quando já tiver assegurado um futuro que lhe compense os sacrifícios do presente.
No conflito entre Beresford, Principal Sousa e D. Miguel evidencia-se o seguinte: o desprezo que Beresford dá a Portugal embora esteja disposto a colaborar com a regência para a obtenção dos seus fins — "Troco os meus serviços por dinheiro"; a acusação de mercenário feita por D. Miguel a Beresford; a hipocrisia do Principal Sousa fascinado pelo poder; o receio que os três manifestam face ao general Gomes Freire de Andrade (personagem que não revelam).
Neste diálogo entre os três representantes da Junta Governativa, Beresford confessa que não importa saber quem é o chefe da revolta, importa sim arranjar alguém que se encaixe num perfil que seja uma ameaça para eles: alguém que tenha prestígio no exército, um oficial de patente elevada e que tenha um bom passado militar. Assim, não importa que o condenado seja culpado ou não, importa apenas que sirva de exemplo para o povo para que não ousem fazer uma revolta.
Andrade Corvo, Morais Sarmento e Vicente vão intervindo na conversa dos três governantes de Portugal até que, depois de muitas hesitações, Andrade Corvo confessa que é o nome do General Gomes Freire d’Andrade que se ouve em todo o lado. Os governadores entendem que é ele que devem condenar pois, por palavras de D. Miguel, ele é um homem “Lúcido, inteligente, idolatrado pelo povo, um soldado brilhante, um grão-mestre da maçonaria e… idolatrado pelo povo!”.
D. Miguel é um conservador, cujos objectivos são: exterminar a anarquia e o jacobinismo (liberalismo); lutar por uma nobreza que mantenha os seus privilégios; lutar a favor da discriminação social; lutar pela distinção de classes e pela desigualdade social; lutar contra a democracia, não admitindo que o povo alguma vez possa eleger os seus chefes. No fim do acto dá-se a prisão do general: ele é levado para o Forte de S. Julião da Barra.O segundo acto inicia-se do mesmo modo do primeiro: Manuel pergunta o que pode fazer, os actores estão nas mesmas posições mas, a situação já evoluiu e o sentido da pergunta de Manuel é agora mais pesado. A interrogação é feita devido à prisão do General Gomes Freire d’Andrade, já que ele era a esperança que o povo tinha para acabar com as injustiças e com o clima de miséria e agora já não há esperança… Manuel está desencantado, desanimado e revoltado com a prisão de um inocente e confessa que não acredita que o General saia do Forte de S. Julião da Barra ainda com vida! O povo está visivelmente abalado com a notícia e assume que a situação está pior do que antes: “Se tínhamos fome e esperança, ficamos só com fome…”.
Quando o Antigo Soldado sabe da notícia acerca da prisão do General, fica visivelmente desalentado e refere que além da miséria em que o povo vive, a situação é desesperançada e arriscada.
Matilde aparece em cena com um monólogo, vestida de preto e despenteada. A personagem manifesta revolta, rancor, nostalgia e desencanto perante o que aconteceu ao seu companheiro mas também determinação e ânimo, pois admite que “enquanto tiver voz para gritar…” baterá a todas as portas, clamará por toda a parte e mendigará, se for preciso, a vida daquele a quem deve a sua! Assim, Matilde está determinada em solicitar ao poder a libertação do marido. Depois de falar com António de Sousa Falcão, Matilde dirige-se até a William Beresford e pede-lhe para que liberte o seu marido, pede-lhe que o faça ou por favor, por clemência ou por qualquer outro motivo, mas que o liberte já que ele nunca conspirou e não cometeu qualquer crime, ao que o Marechal defende-se argumentando que “A simples existência de certos homens é já um crime.”. No primeiro período da sua argumentação Matilde auto-caracteriza-se como uma mulher humilde, que nasceu no campo, num ambiente pobre e religioso, numa terra pobre denominada Seia. No segundo período, diz ser casada com o General Gomes Freire e que lhe deve a ele a sua felicidade. Beresford, num tom irónico, aproveita a conversa para humilhar Gomes Freire através da sua mulher. Matilde acaba por dizer que estará disposta a vender a sua honra para salvar o seu amor.
Matilde vai falar com os populares mas estes assumem uma atitude de indiferença perante o seu desespero, parecendo que não a estão a ouvir. O 1º popular dá a notícia de que vira Vicente fardado, que este fora recompensado com o cargo de 1º chefe da polícia. Matilde amargurada vira costas mas eis que Manuel chama por ela e mostra-lhe a miséria do povo, afirmando que tal como o General está preso no forte de S. Julião também eles (povo) estão presos à miséria e ao medo. Manuel pede a Rita para dar uma moeda a Matilde, pois o povo quando bate à porta dos de mais posses apenas recebe cinco réis ou dizem-lhes para terem paciência, então Manuel decide fazer o mesmo com Matilde, oferecendo-lhe uma moeda. A moeda simboliza também a traição do povo perante o General, embora seja um gesto obrigado porque eles (povo) não têm meios para o libertar. Pode então também simbolizar a fé que o povo tem no General, sendo portanto uma medalha de honra para Matilde.
Sousa Falcão vai falar com Matilde e diz-lhe que o General não está autorizado a receber visitas, Matilde fica revoltada e triste e lembra-se dos momentos que passou com o seu amado, duma vez em que ele vendeu duas medalhas para lhe comprar uma saia verde… Matilde espera poder estreá-la no dia em que o seu marido regressar a casa, se bem que nenhum dos dois acredita piamente na saída, ainda com vida, do forte de S. Julião da Barra.
Matilde toma a decisão de ir falar com D. Miguel Forjaz, ao que Sousa Falcão o caracteriza como frio, desumano, calculista, medíocre e rancoroso, ao contrário de seu primo que é franco, aberto e leal. Sousa Falcão diz que “é inútil bater-lhe à porta”, pois ele nunca atenderá às súplicas de Matilde. Mesmo assim, Matilde, mesmo sabendo que D. Miguel Forjaz não atenderá o seu pedido, decide solicitar-lhe a libertação do marido, porque quer obrigar D. Miguel Forjaz a definir-se.
O criado de D. Miguel justifica o facto de este não os receber dizendo que “Sua Exª não recebe amantes de traidores e amigos dos inimigos d’el-rei”.
Matilde fala com o Principal Sousa, num diálogo ofensivo e até violento mas este não lhe dá ouvidos. Entretanto chega Frei Diogo, acabado de confessar o General e assume que “se há santos o general é um deles” e que Matilde teve muita sorte por poder partilhar parte da sua vida ao lado daquele homem bom e justo.
Sousa Falcão entra em cena e informa que “os presos já vão a caminho do Campo de sant’Ana”. Entretanto D. Miguel Forjaz num tom de sátira confessa que “Lisboa há-de cheirar toda a noite a carne assada”, o que revela ainda mais o seu mau carácter e a sua frieza perante vítimas inocentes que irão ser condenadas à fogueira. Na mente de D. Miguel o objectivo é dissuadir, pelo medo, qualquer projecto de conspiração contra a regência. A condenação será sempre a mesma: a execução pela fogueira. Mesmo que a execução se prolongar pela noite fora, “felizmente há luar” e as pessoas poderão ver na mesma este fim daqueles que ousaram desafiar o poder.
Em monólogo, Matilde, revoltada, questiona a justiça divina pelo destino do seu companheiro e atira a moeda que Manuel lhe dera para os pés de Principal Sousa.
Manuel informa que o General pediu que o fuzilassem como um soldado para ter uma morte digna mas recusaram-lhe o pedido. Sousa Falcão num tom destrutivo diz que lhe faltou sempre a coragem para estar na primeira linha, pois ele também deveria estar ali ao lado do General a ser condenado porque os dois partilhavam as mesmas ideias.
Matilde, alienada, vê um ser imaginário (Gomes Freire) e diz-lhe que vestiu a saia verde. Ao fundo vê-se o “clarão duma fogueira” para a qual Matilde aponta, dizendo que é a vitória do seu companheiro. Ao fundo vê-se o “clarão duma fogueira” para qual Matilde aponta, dizendo que é a vitória do seu companheiro. Este clarão significa então o início de uma revolta que porá fim à opressão e à ditadura.
A peça termina com Matilde dizendo que “felizmente há luar”, o que significa que numa noite de luar muitos terão a oportunidade de ver a fogueira que, se por um lado, põe fim à vida de Gomes Freire de Andrade, por outro, poderá ser também o início de uma revolução.
Dois tipos de didascálias: